dezembro 22, 2011

Feliz Natal? Que dizes...?


Não há dinheiro. Não há prendas.
Não há prendas, não há correrias nos shoppings, hipermercados e companhias.
Não há gritos, nem “ não penses que para o ano vai ser assim!”.
Não há dinheiro para gastar. 
Há tempo para parar. 
Há uma casa nova, sem caixas de vários tamanhos debaixo da árvore, mas com uma nova postura em cima da mesa.
Há pais novos a aprender e a ensinar uma nova tabela de prioridades. E de valores.
Há filhos que vão crescer. 
Sem dinheiro, o Natal vai revelar a sua verdadeira magia - o Amor que nos une aos nossos.
E que não tem preço...

Vai demorar, mas um dia haveremos de entender como andámos desviados do que importa. Está a doer, mas lá mais à frente, compreenderemos que tínhamos tanto e éramos tão pouco…Tomara fosse mais suave a transformação. Que a pele estivesse só a cair ao invés de nos estar a ser arrancada.

É do fundo do meu coração, meio partido, que escrevo hoje. Particularmente hoje.
Nos últimos dois anos não me lembro de um só dia em que não tenha lidado com a perda. Não só de pessoas próximas, mas sobretudo em virtude do meu trabalho. Tem feito parte das funções assistir à ruína de famílias inteiras. De empresas. De sonhos. Pessoas e vidas destroçadas que me deixam a perguntar sobre o propósito deste sofrimento todo.

E lembro-me do momento em que o Sr. Joaquim perdeu a fé. Diz ele que foi numa noite na guerra do Ultramar. Com o cheiro da morte a intoxicar a esperança e os jovens, como ele, aos bocados por ali espalhados, viu-se a dar um ultimato a Deus: “ Se Existes, este é o momento de Te mostrares…”
É fácil deixar de acreditar no que quer que seja quando a dor nos parece só absurda. Imerecida…Estupidamente gratuita.

É então que empurro o Sr. Joaquim com a memória da cliente que um dia, em que a aflição dos de hoje ainda não se fazia adivinhar, me pediu para terminar a reunião mais cedo porque precisava de ir a casa, a cerca de 15 quilómetros, trocar a carrinha que conduzia, pelo Mercedes da família. É que não podia ir buscar o filho ao colégio, (mesmo ao lado do meu escritório) com a viatura de trabalho…Por isso, preferia “ir num instante” percorrer aquela distância, depois voltar e tornar a fazer os mesmos 15 quilómetros de regresso a casa… Na altura, este comportamento chocou-me de tal forma que comentei com a minha colega e lembro-me do que lhe disse: “ Ela está a dizer àquela criança que há algo de tão vergonhoso em ter menos que um Mercedes, que nunca será aceite se não tiver sempre o último modelo. Que herança pesada…”

É assim que temos vivido. A aparentar. Só que a aparência de repente ficou demasiado cara para nós e deixámos de ter como a manter. Fica a verdade. Ainda somos alguém mesmo sem Mercedes ou casas de mais assoalhadas dos que as que utilizamos.

Não. Não me perdi. Estava a falar do Natal. E das prendas emagrecidas pela dieta forçada que a viragem implica. Da fome imposta às carteiras. E do medo… de não ter o que ter.
Pode não haver dinheiro. Mas continua a haver Natal. Ou, finalmente, há Natal…Em que o abraço e o copo de vinho ganham muito mais valor que as coisas que se compram porque parece mal não dar uma lembrança a quem não tem importância nenhuma. A ceia vai saber a aprendizagem…a lições de coragem, de força e de saber largar.
Este ano será para muitos, o primeiro Natal, do verdadeiro Natal. E isto merece celebração.
IdoMind
About freedom

11 comentários:

Marisa Borges disse...

Não podias ter ficado a chorar sozinha, tinhas de nos pôr a todos a partilhar contigo, né? LOL

Olha, acabei por não te dizer, ontem, quando fui às compras, cruzei-me nas escadas rolantes da selva com o sr Joaquim!!!! Depois conversamos sobre o significado de eu ter visto o Sr. Joaquim ONTEM!!!

Beijocas e obrigada pelo abre olhos!

IdoMind disse...

NÃ!!!!

NÃO A-CRE-DI-TO!!! O Sr, Joaquim???

Ágil disse...

Pois. A imagem do nosso Natal. Demasiado envergonhados para sermos reconhecidos pelo que somos escondemos-nos atrás de algo que damos. No Natal não deveriam haver presentes. Só os imateriais. Natal é quando se quer não é preciso esperar pelo dia 25. E sim. 2012 vai ser melhor. Vai haver coragem de terminar com algumas conquistas de um Abril passado, onde não se tem o que se trabalha mas o que se tira. O fim do mundo vai ser em 2012. De algum mundo. Ainda bem.

Marcia Toito disse...

Tomara que a neblina das circunstâncias mais doídas não seja capaz de encobrir por muito tempo o nosso sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer para ver também um bocadinho de céu.

Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem da confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.

Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de busca a ideia da alegria.

Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão da felicidade.

Tomara.
ANA JÁCOMO

ACHEI PERTINENTE POSTAR ESSE TEXTO COMO COMENTÁRIO. POSSO DIZER SEM EXITAR QUE ESTA ÉPOCA DO ANO ME CAUSA UMA PROFUNDA DEPRESSÃO.O JEITO É RESPIRAR E FAZER O QUE ESTIVER AO ALCANCE PARA NÃO TOMBAR!
BEIJOS, MOÇA, SEMPRE
SURPREENDE COM SUAS REFLEXÕES!!!

Marcia Toito disse...

nem sei se já postei isso como comentário, mas depois de ler seu texto foi esse que me veio a memória!!

IdoMind disse...

Ágil...

A tua gota foi uma verdadeira prenda..Sei que sabes exactamente o que sinto em relação a isto tudo. Ao rumo que nos demos.
E eu sei que também preferias um mundo diferente mas pergunto-te: serias capaz de não comprar nada para os teus meninos? Ou para a tua mulher? Sogros, pais...Se calhar não.
Queixamo-nos do que perpétuamos.Isto é que é trágico. Como sabes na minha família não há troca de presentes e não estou a dizer que isto é que seja o correcto mas asseguro-te que é um descanso não ter que andar desesperada à procura de roupa, perfumes, um telemóvel ou que o que seja para dizer aos meus pais "Amo-vos".
Este ano, como no ano passado, vamos sentar-nos à mesa, olhar uns para os outros e saber que grande parte da nossa força vem da nossa União, que é sagrada...
Já me estou a alongar. EStou muito sensível este ano..:)))

Um abraço muito muito forte e um Natal cheio de felicidade e paz para ti

IdoMind disse...

Minha Márcia...minha linda Márcia...

Obrigada. Tomara. Tudo aquilo.
Mesmo só metade já seria um bom começo. Tomara que nossas cinzas nasçamos de novo muito melhores. Mais limpos. Mais livres...

Também ando esquisita. Este Natal está a arrasar comigo.
Beijos nesse coração maravilhoso E Feliz Natal? looll

Unknown disse...

Pois eu cada vez mais vejo intensidade em ti "boneca expressiva".
Está no teu caminho de levar luz, aonde ela não existe.
Adoro o teu sorriso.
Um sopro de felicidade...

IdoMind disse...

:)) oh Mano! Não vale! Bem viste que ando pró sensível, assim dás cabo de mim!

Eu gosto da tua gargalhada e da naturalidade com que te saem :)

O meu caminho...pois...falamos disso para o ano. Agora vou fazer xixi...

Um abraço apertado olhos de mel ;)

Anónimo disse...

e aqui venho um ano depois e dizer que sim! que faz sentido...
ainda bem que a aparência ficou demasiado cara!
é a mudança tão necessária, não há outra forma... tenho a certeza disso, é a mudança. talvez agora possamos mesmo ter um feliz natal, com direito a tudo o que realmente importa, com a alegria da abundância que transborda do coração. sim faz sentido! e ainda bem! feliz natal!

IdoMind disse...

Querida Ana

Sei que fazes parte daqueles a quem a mudança não assusta mas antes abraça.

Mais que nunca, é necessário, pelo exemplo, mostrar que o mundo pode e DEVE mudar e tu fazes isso muito bem :)

um grande abraço e Feliz Natal

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