Lembras-te há alguns anos atrás,
naquela tarde às voltas velozes, aflitas e circulares lá no escritório? De trás
para a frente na mesma linha imaginária no chão, ao pé do armário onde batia
sempre com o ombro e dizia sempre que o mesmo palavrão. Lembras-te? Não
consegui ver nada durante horas além do precipício esfomeado por mim. Foi
horrível. Ficar sozinha e cega à beira de precipícios é horrível. Esqueci-me
de ti. Esqueci-me que havia oceanos de outras palavras para além daquelas, impetuosas e insubmissas, à bulha na garganta seca. Cheguei a sentir tonturas
de tanta angústia. Lembras-te?
Tinha acabado de fazer asneira e
a vida tinha acabado de me retribuir a gentileza. Mas nessa altura eu ainda não
sabia nada acerca de retribuições. Nem que a Vida era um ser vivo.
Como de costume, não pude
desesperar à vontade. Tive de segurar o pânico e pedir-lhe com maneiras que se
aguentasse só até mais logo, à noitinha, quando chegasse a casa e pudesse
consumir-me livremente. É sempre assim, não é? Nunca posso perder-me logo,
entregar-me logo, cair logo. Ali. Redonda e derrotada. É como se estivesse
proibida de me enamorar pelo medo e fugir imprudentemente com ele. Fui forçada a
encobrir os meus escombros com a compostura necessária. Exigida. Sou sempre assim, não é? Exigente...
Na minha pior tarde, negaste-me meio minuto de luto.
Na minha pior tarde, negaste-me meio minuto de luto.
E como era, continua a ser.
Podias ter feito para que aquelas
pessoas não tivessem aparecido. Precisado de mim. Podias ter arranjado uma
avaria, outra urgência, um nascimento qualquer. Podias ter-me deixado sair
antes que chegassem. Mas não. Fizeste-me ficar e fizeste-te ouvir:
“Ama-me quando menos merecer porque será quando mais vou precisar”.
Foi a primeira vez que ouvi essa
expressão. Depois dessa tarde, noutras voltas velozes na mesma linha imaginária
doutro chão, voltei a ouvi-la. Dirigida a mim e a outros.
Acalmei. Lembras-te? Tinha-me
esquecido o que queria dizer amar. Que esse verbo não bailava em nenhum oceano
mas que era o próprio mar. Ouvi-te a passar-me a mão no cabelo...Ouvi-te a ensinar-me que
há respostas que aguardam a sua vez em quandos. Respostas para nós em quandos
nem sempre só nossos.
Hoje, não tão cega, menos surda e
bem lembrada de todas as palavras-lição, peço-te que me ames neste quando em
que não mereço, talvez, mas que é dos quandos em que mais preciso.
Tenho o indicador no interruptor
e sabes o que quero fazer. Segura-me. Eu deixo que me agarres. Toma,
rendo-te a minha mão direita. A esquerda fica livre para colher flores para ti
enquanto formos andando. Ajuda-me a ficar cá fora.
Contigo.
À luz.
Empurra-me o Sol para o ventre e faz-me candeia..
É que está a escapar-me o tal Desígnio
que dá pernas às pessoas e razão aos acontecimentos. Tenho de continuar mais
uns metros, é isso? Um, dois, vários quarteirões ou nem sequer parar até estar o
mais longe que conseguir para encontrar o porquê exilado num quando que não alcanço?
Daqui e Agora…
Quando? Quando é que achas que já
chega?
Brinca comigo doutra coisa. Menos perigosa. Que não me esburaque a alma,
não dê vertigens, nem acabe no alcatrão. Pura, para variar... Dá-me algo puro
para eu brincar. Dá-me algo puro que brinque comigo com pureza. Com verdade.
Com a coragem que só o que é puro conhece. E usa. Ainda há disso?
Com a coragem que só o que é puro conhece. E usa. Ainda há disso?
Que seja a bem. Do bem. E me faça
melhor.
Era aqui que me querias trazer? Aos limites evitados, às fronteiras respeitadas, ao meu confim? Estás a pedir-me que confie e continue para lá do que parece para encontrar o que é?
Até ia. Mas não estou a ser
capaz.
Em que quando guardaste a minha força? O meu Ar...
E quando pensas recompensar-me?
Estava
a pensar que o podias começar a fazer já.
Salva-me quando menos merecer porque é quando mais vou precisar.
Falas comigo daqui a pouco?
Envia-me uma expressão nova que me dê um novo sentido. Algum.
Senão, quando?
IdoMind
about keeping my eyes off the ground
3 comentários:
I always love different ideas... the kind'off we're not expecting...
Begginings start from here, not from there...
<3 <3 <3
Passeando para deixar um abraço...
Muito bom seu texto!
Olá Pedra do Sertão :)
Que bom receber visitas!
Obrigado pelas palavras simpáticas.
Volte sempre por favor.
um beijinho
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