Pudeste brincar. Pudeste fingir. E
pudeste ir quase até ao fim. Pudeste adiar. Pudeste mentir. Pudeste dizer
sempre que sim. Pudeste mais ou menos estar lá. Mais ou menos dar de ti. Mais
ou menos ser feliz. Ou assim-assim.
Pudeste arranjar desculpas.
Cegar-te com terras e com pessoas inventadas. Pudeste evaporar nas saídas de
emergência para as trevas encobertas de boas intenções. Colar a fotografia
bonita no teu passe falsificado com acesso a todo o lado. Passar por portas
desenhadas, rasuradas, alargadas ou oportunamente estreitadas. Friamente apagadas.
Abruptamente encerradas. E pudeste deixar de fora quem pediste que te
visitasse. E que se mudasse para ti. Pudeste abusar das brechas nalgumas
paredes e fazê-las buracos. Grandes. Escancarados. Pudeste não ter cuidado. Ou
muito pouco. O necessário para não te deitares uma má-pessoa, nem te detestares além da medida habitual.
Pudeste organizar uma festa no
teu umbigo e juntar os sentimentos todos para lhes dar nomes novos. Mais modernos.
O Amor, por exemplo, está ultrapassado e deixou de funcionar. Ficou para trás, aconchegado
no tempo que não tem pressa de acontecer e que não tem medo de enfraquecer. Sabe
que ficar maduro não é ficar velho, é ficar pronto…
Pudeste pôr o Amor à espera mas
deixaste de o esperar. É por isso que deixou de ser amor e hoje lhe chamas “Espaço”.
Tu no teu. Eu no meu. Ele no dele. Ela no dela. Cada um no seu espaço, sem espaço para receber o Amor.
Cada um no seu tempo, ao seu tempo, sem tempo para o Amor. Fica mais bonito
dizer assim. Que é a vida e andamos todos perdidos. Numa fase egoísta...
Não é que não se queira rasgar ao meio e pôr as tripas em cima da mesa, é só “complicado”.
Não é que não se queira rasgar ao meio e pôr as tripas em cima da mesa, é só “complicado”.
Não é que não se tenha
estrutura para outra rejeição, é só melhor sem compromisso e depois de lençóis
trocados, a liberdade de novo.
Não é que seja cobardia, só não se sabe muito bem o que se quer. Ainda. Por enquanto.
Não é que seja cobardia, só não se sabe muito bem o que se quer. Ainda. Por enquanto.
Entretanto, no espaço sem espaço e no tempo sem tempo para o Amor, não se pára de existir e não se pára de sentir.
Pudeste perder-te por lá, nas escolhas
fáceis terminadas com um “não faz mal” que fez todo o mal que podia fazer. Pudeste
convencer-te que não. Que a tua leveza não faz pegadas quando passas. Onde
pisas. Pudeste sossegar-te na sinceridade que te iliba da culpa, como se pedir
para usar alguém fosse só por si sincero. Limpo. Digno…
Pudeste ignorar a tua responsabilidade na infelicidade que te grita na cara. Há enganos que vão embora calados. Outros, porém, partem com barulho. E partem tudo porque pudeste magoar.
Conheces mas não te reconheces nessas dores no peito que não é o teu. Apesar de ser. Só não o sabes. Um dia vais saber.
Pudeste ignorar a tua responsabilidade na infelicidade que te grita na cara. Há enganos que vão embora calados. Outros, porém, partem com barulho. E partem tudo porque pudeste magoar.
Conheces mas não te reconheces nessas dores no peito que não é o teu. Apesar de ser. Só não o sabes. Um dia vais saber.
Como pudeste?
Somos teus, Agora, ao serviço do resto dos teus dias. Rompe-nos com carinho a virgindade das linhas vazias a encher pela tua mão. Pela tua acção. Escreve-nos bem, seres mágicos esquecidos e caídos numa vida complexa, exigente e rápida, sem varinha e sem poções. Só nós, na luta connosco pela paz dos outros. A dar o corpo e o que nem sempre temos, pelo menos, para não ficar pior. Nem virarmos os monstros que combatemos. Estes somos nós. A remexer a terra para não sermos enterrados vivos. É já tão difícil. Dispensamos todos os obstáculos que nos possas erguer. Prescindimos das mentiras em que nos possas prender. A cruz nós levamos, são os pregos na carne que nos roubam a força... Fica por isso quando nos vires passar, se não estiveres certo que vens para ajudar. Agradecemos a tua omissão honesta.
Nas minhas linhas vazias, que combinei guardar para ti, peço-te que me deixes uma história de Respeito. Marca-me assim. Que eu te lembre honrado. Verdadeiro. Pessoa…
Que associe a ti a esperança nos afectos e a força de duas mãos dadas em alto-mar numa tarde em que tudo correu mal. Que o meu coração se expanda ao som do teu nome e possa falar com gratidão da tua travessia por mim. Faz por me fazer sorrir quando já não estiveres aqui e onde quer que te encontres, sabe que me respiraste e me devolveste sem detritos.
Pudeste dividir-te e guardar a consciência longe dos desejos. Das muitas carências. Da necessidade básica de te ouvires a viver. Compreendo tudo isto. E pudeste por tudo isto ceder e ser igual. Fazer igual. Dizer que é normal.
Mas podes parar se quiseres. Já. Junta-te a ti. Abraça-te inteiro para que sejas inteiro em todos os abraços. Traz-te e entrega-te como te descobriste até nos termos descoberto.
É o que basta para seres lembrado como um homem a
aprender.
Apenas.
Apenas.
IdoMind
about that far, far away planet of Bullshittia
7 comentários:
jardineira,
pões-me sempre de lágrimas nos olhos e com esta música, rebentas tudo!!!
Qualquer comentário que aqui coloque parece sempre algo off, sabes? Dizes tudo, basta apenas ler e rever a vidinha de cada um de nós. Viver canse e muito!!! rs
beijocas grandes and say goodbye to bulshittia
Shinita piririta,
dói que se farta e canse como o caraças.
É tão triste que tenhas razão e estas palavras, que me saíram cá das profundezas, sirvam para tantos de nós. Tantas...
Cambada de aldrabões a dizer que tudo o que queremos é amar e sermos amados e depois só lixamos e somos lixados. Vá entender-se...
Mana, taikirisi :)
The best is yet to come - I bullshit you not!
Vai correr tudo bem.
Amo-te míuda. Muito.
Aguenta-te aí sis, tá bem?
Eu escrevi um comentário aqui.Não sei o que fiz porque não aparece>Que pena, era quase uma carta.Aliás, sou mestre em fazer isso no seu blog> Escrevo um monte de coisas, não salvo nada, erro na postagem e...puft!!some tudo.Bom, já que aqui é um dos poucos espaços que me atrevo a comentar digo apenas que:HUMMMMMMMMMM, NÃO VOU RESGATAR O QUE HAVIA ESCRITO, NÃO CONSIGO. Digo apenas que vou de carona no seu espaço, na densidade das suas palavras, no clima tenso que envolve o texto mas que nem por isso deixa de ser belo.Aliás,é justamente por isso que é belo:porque é sincero, emocionante e poético.UMA FLUÊNCIA DE IDEIAS IMPRESSIONANTE Gosto tanto...acho que vou começar a escrever que não gosto DE NADA,assim não fico me repetindo, hehehhe BEIJO, MOÇA BONITA
Márcia,
Quanto aos comentários que desaparecem, acho que está relacionado com o facto de ter de fazer o login na conta do gmail antes de comentar.Eu sei, é estúpido mas também me aconteceu. À cautela, antes de publicar o comentário, passei a copiar para o caso de desaparecer. Depois era só colar.
O melhor é mesmo fazer o login. De novo.
Quanto ao resto...usou a palavra certa: sincero. Pode não ser poético, pode não emocionar, mas é sincero. Nunca digo, nem escrevo nada que não sinta.E digo-o como sei e consigo, desta maneira que não chega a todos mas que chega a quem tem de chegar, como é o seu caso.
Recebo alguns mails privados de pessoas que preferem não comentar e com frequência me dizem que não entendem tudo, tudo porque sabem que cada frase tem vários níveis de leitura mas que é impossível não ficar afectados pelo que lêem. :) Acho giro. Sobretudo que percam tempo a tentar perceber o que me vai aqui nesta Mind irrequieta e que até eu tenho dificuldade em acompanhar :))
Desde o princípio que a Márcia faz esse esforço e se primeiro foi pela força das palavras depois passou a ser também pelo significado delas :) da mensagem...não imagina como isso é gratificante.
Este é tenso. Concordo.Estou farta da leviandade com que nos tratamos e, consequentemente, tratamos os outros.
Farta que se diga que é amarelo às pintinhas quando toda a gente está a ver que é preto.
Vai sendo hora de pararmos de dizer que é evolução a indiferença e a imunidade que ganhámos à vida.
Estou embalada! lol
Obrigada agora e sempre pelas visitas, pelas conversas, pelas mensagens ;) e pela amizade..
um grande beijinho
Só para reforçar, é sim emocionante> É sim poético. Mal comparando, nem sempre sei todos os ingredientes de alguns pratos que provo por aí.Mas sei quando são bem feitos. Assim é seu texto e assim deve ser você. A gente se fala...:))))))))))
;) A gente se fala
(adorei ser chamada de góstósaaaa lolol)
Alimenta minha alma e o meu coração com a vantagem de não haver necessidade de dieta visto que quanto mais absorvo,mais leve fico.Chego a flutuar, queria que visse.Neste sentido és mesmo bem gostosa,hehehheheheheheh!!!ADORO!!!
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