Acontecia estar ainda a pousar o
telefone e as saudades estarem já, do seu lado da linha, prontas para agredir. Respirava-se
a presença constante daquela ausência que doía. Mas estava prestes a acabar. O
espaço por ocupar iria morrer no abraço filmográfico entre bagagens e sorrisos
molhados. O abraço ansiado, sabia-se lá há quanto tempo, feito para acontecer.
Suspenso num tempo qualquer em que as coragens eram diferentes e não havia
ainda o direito de escolher sempre a felicidade nem o que nos faz bem.
Ia fazer cinema. Já ouvia os
aplausos. É que havia também uma contagem. Riscos num calendário enfeitado da
cumplicidade cor-de-rosa e azul-bebé na declaração implícita de terem chegado. Ela
tinha chegado.
Tão lindo o seu castelinho nas
nuvens com almofadas brancas pelo chão, muitos livros nas estantes, a cozinha grande,
permissiva e confidente. Quanta harmonia. Ali o amor não era ideia. Uma coisa
que se diz e que se escreve em forma de poesia mas que morre nas mesmas linhas
em que é falada sem no entanto chegar a ver-se a ser… a sério. No
castelinho nas nuvens, o amor era um facto. Existia. Tinha corpo e tinha mais coisas.
Levou-se toda e tola a morar lá. E era lá que ela e as suas malas diriam adeus.
Na porta da frente, erguia-se o horizonte desenhado por Deus para si. Oferecido,
porque sabia quem ela era e sabia que merecia. Fora assim aos seus olhos, a
terra e o céu encontraram-se a meio do caminho para que ela pudesse receber o
que era dela.
Nunca mais se lembrou da vida
real. Dos medos reais. Nem da outra realidade na ponta da corda, amarrada ao
chão numa pedra fixa.
Ela fora o doce segredo que na
sombra dera de comer, às escondidas, ao sonho de voar.
Quando aterrou, fez-se assassina
e aprendeu a matar. Silenciosamente. Cravou-lhe uma faca bem fundo, na mesma
cozinha, onde ele continuava de copo na mão a distraí-la com o humor mordaz e
as mãos indecentes que a faziam errar na medida do sal. Mas custava a matar o
sonho. Todas as noites tinha ainda de o sufocar com a almofada que antes servia
para lhe marcar o lugar no faz-de-conta que estava ali. E onde o via tranquilo a
dormir ao seu lado, observa-o agora a perder a vida dentro de casa dela. Dentro
se si.
De facto, quando
olhamos o abismo, o abismo também olha para nós e ela não era a mesma. As
nuvens desfizeram-se e o castelo deixou de ter onde se manter de pé. Aí veio disparada
das alturas, às cambalhotas, de encontro à vida. Na queda perdera a bússola. Ou
deixara-a cair intencionalmente. Não se lembrava. Pela primeira vez,
perdera-se. Não porque não sabia onde estava, mas porque não sabia para onde
ir. Como.
Como é que se extraem vidros do
coração, sem que ele pare? Sem lhe causar aquele tipo de danos permanentes que
causam paralisia. Teria de ser com cuidado. Era isso. Com cuidado. Com
disciplina. Colar a cabeça ao pescoço de novo e dela retirar todos os vestígios
de castelos com cozinhas grandes onde se fez amor e se cometeu homicídio.
Ainda havia muito por colher no atalho
que a tinha levado para longe do permitido. Sabia-o porque metia a cara entre
as mãos, cheia de vergonha, por ter querido baralhar-se tanto. Vergonha por ter mingado.Por um tempo tivera quinze anos, usara duas tranças e andara num campo de trigo dourado
de mãos dadas a um sonho a falar de pertencer. Também houvera borboletas. Afinal
qualquer ilusão só é capaz de iludir te houver borboletas…Tivera muitas, a
fazer-lhe cócegas nos princípios, nas metas e na personalidade.
Que ano cheio de tudo. Perto do
fim e das suas habituais avaliações, agarrou o Destino e perguntou-lhe com
alguma dor “Ainda estás a meu favor?”
A resposta tardou. Gostava de
pensar que não por abandono ou desinteresse de quem a estivesse a Ouvir, mas
antes por falta de espaço na agenda cósmica do seu Guardião. Em tempos de tão
grandes transformações em tantas vidas, há que esperar a vez do que eclode
antes de nós, para e por nós. Também. Ela eclodiria depois, para e por si, para
e por alguém. Era assim que era desde a primeira insatisfação de Deus.
Não podia deixar de rir de si
mesma. Apesar de tudo, como uma chamazinha numa noite chuvosa e fria de Inverno,
o resquício da infantilidade que lhe fazia tranças e a levava para campos de
trigo dourado, recusava-se a desistir e a tornar-se adulto. Que assim fosse
para que ela não se esquecesse de quem Era. Apesar de tudo.
"Os sonhos são cenouras" -concluiu. Os sonhos são cenouras penduradas
à frente do nariz e que nos fazem andar, continuar, optar, enganar e fazer tudo
outra vez. Os sonhos são cenouras que não se trincam, mantêm-nos a fome.E a criança que não quer crescer.
Há destas fomes, como a que sinto, que são como castelos nas nuvens – só nossos. Cuidado por isso com os sonhos, com certas fomes e todos os castelos.
Há destas fomes, como a que sinto, que são como castelos nas nuvens – só nossos. Cuidado por isso com os sonhos, com certas fomes e todos os castelos.
IdoMind
About… 2013
4 comentários:
Que o passado seja tão purificado que nunca te ensombre, e que os teus castelos de sonhos se tornem sempre realidade...
às vezes precisamos agarrar no lápis e concretizá-los na matéria.
Baby sis... wish all your dreams come true...
(não vale boicotar!) :P
LOVE YOU!!!
Ondinha
Vês? Consegui salvá-lo. Sem jumentices ;)
Sem castelos, com os pés na terra e olho aberto para o que está a minha frente e não na minha cabeça, isso sim é forma de caminhar.
Vamos substituir os sonhos por projectos, está bem?
Sem boicotes ;)))
ABRAÇOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Como se faz um projecto senão a partir de um sonho?
Escreve-se com um lapis num papel, desenham-se tempos, lugares, "timelines", "timestamps", para mostrar que passito a passito estamos a conseguir cumprir o nosso objectivo/projecto que faz parte de um sonho...
Projectos, são baby-steps de um sonho, maior, muito maior! :) E é assim que eu sinto q está correcto.
Mas um, não substitui o outro, não te enganes!
Abraço... apertado babe... ;)
Um sonho para ti...
Um projecto para mim...
trálálá...
:)Ondinha...we can do it!
love ya
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