Amor, como estás?
Quis
perguntar-te mil vezes. Sentei-me outras tantas aqui, como hoje, na esperança
que os meus dedos fizessem o que fazem sempre e se largassem a dançar
magicamente sobre o teclado, gerando a poesia que te fala de mim e pergunta por
ti, num género de diálogo solitário. Anónimo. Recebido.
Mas acho que esgotei a minha
quota de magia. Os meus dedos não monologam há meses. Não se movem, nem mesmo
diante da página em branco que outrora possuíam bestialmente. Avidamente, a
emprestar voz ao meu coração. Davam-se tão bem. Vejo-os agora de costas voltadas
e quem paga sou eu, que me levanto a meio da noite para pôr a alma a gritar e
nem a ponta da mordaça descubro para que possa ao menos suspirar.
Às vezes parece que vou
desaparecer num estrondo e por todo o lado vão haver bocados de prosa colados às
paredes, a escorrer pelas portas, derramados pelo chão. Os meus bocados por
dizer que não aguentaram mais e transbordaram-me sem pedir licença. Quem sou eu,
incapaz de escrever?
Se calhar sequei mesmo. Finalmente.
Como naquele filme, de tanto bater o meu coração parou...
Talvez tenha andado a mandar
muito em mim. Ordeno-me a esta vida com pessoas de carne e osso e cheiro e
coisas para dar e para me tirar. Obrigo-me a ficar e a dizer aos sonhos que já
não são bem-vindos. Que me deixem em paz à procura do lugar que sempre
rejeitei. Sabes, penso que a liberdade é a mais engenhosa invenção de Deus. Para
não morrermos de tristeza, temperou-nos com insatisfação. É por isso que
continuamos. Uma e outra uma vez, depois da que jurámos ser a última. Porque um
dia…
Um dia…Vamos ser livres para sermos nós! Para, sem culpa, escolher uma
existência simples na margem de um rio. De todos os rios que desaguam em nós há
imenso tempo, indicando por onde e quando ir. Um dia vamos. Até à exaustão e até
ao fim e ao fundo das interrogações suspensas a cada viagem feita no sofá. Das
perguntas a pairar nas ausências que temos sem mexer sequer um pé. Na cama. Ao
lado de alguém. Que não é ao encontro de quem o espírito sai para ir tocar.
Um dia…Um dia
vamos amar a sério. Acordar logo a cantar. Ter vontade de dar beijos que entram
pelos outros adentro e lhes espreitam as dores. E os tesouros.
Um dia vai estar
tudo certo...
E um dia vamos esquecer todos estes dias da falta daquilo que ainda
não conseguíamos dizer o que era.
Um dia vai ser fácil ser eu sem
ti.
Estar na minha vida, sem me
ocorrer assim de repente como estará a tua. Desculpa. Perdoa-me a delonga em desprender-te. Em apagar-te. De uma vez por todas. Comecei por forçar o
exorcismo, apenas para acabar por aceitar que é aos poucos que os fantasmas se
expulsam.
Às fugidas. Como faço quando vejo o teu carro estacionado pelos lugares que já foram comuns.
Mas esta noite sonhei contigo e
precisei disto, de vir à superfície tornar verbo o que passa na profundidade na
qual não voltei a ser encontrada.Ninguém voltou a descobrir-me o caminho que tu fazias de olhos fechados.
Por isto tudo - Amor, como estás?
IdoMind
about you fading away
3 comentários:
LINDA, VOCÊ!!! Sempre aos desabafos intensos, às revelações nas
entrelinhas. Sempre o sofrer envolto em esperanças.
É... sempre queremos saber do nosso amor. Ainda que tenha partido. Ao meio, aos cacos e como crianças tentamos montá-lo nos sonhos. Difícil aceitá-lo partido e partindo.
Querida amiga
É...sempre queremos saber dos que queremos bem. Você sabe ;)é por isso que me lê como se estivesse aqui a ouvir-me. E a entender-me...
Um dia trocamos a poesia por um palavrão e pode ser que, nesse dia, a vida nos leia, nos entenda e nos entregue à porta da que foi sempre a nossa Casa ;)
Não tem jeito! Ainda não é hoje o dia LOL
Abraço FORTEEEEEE
obrigado...
Um dia como o de hoje. Uma música tão linda! Ler sua resposta! Só faz verter lágrimas...As vezes, venho aqui apenas para colher música!!!
ABRAÇO DE LEÃO!!!
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