Eu tinha uma saia de ganga, quando era menina, de que gostava tanto, mas tanto, que queria usa-la todos os dias. A minha mãe não deixava, mas não fazia mal. Eu TI-NHA aquela saia de ganga, era MI-NHA e podia vesti-la quando quisesse.
Um dia deixou de me servir.
Por algum tempo ainda a mantive. Numa altura pensei se seria possível mandar fazer outra igual, ajustada ao corpo que eu não conseguia impedir de crescer. Eu ia crescendo mas a saia ia ficando. Ali, penduradinha no último cabide do meu guarda-roupa. A minha mãe, a cada mudança de estação e na troca sazonal das roupas de Inverno pelas de Verão e vice-versa, dava com a saia. Abanava a cabeça e dizia " Enfim" mas, conhecendo a filha que tinha, nunca tocou na saia.
Com 24 anos mudei de casa e, no meio da roupa guardada na arrecadação, ali estava ela. A minha querida saia.
Senti um calor bom no coração. Vi-me novamente míuda rabina, de franja e saia de ganga, a descer a rua como se o mundo não me metesse medo nenhum. E sorri...
Finalmente disse adeus à minha saia.
Olhei para ela com os olhos de hoje e quase me senti culpada de a achar foleira. Jamais vestiria uma saia, sequer parecida com aquela, actualmente.
A minha saia, que me ensinou sobre fidelidade e estimar as coisas de que gostamos, deu-me a sua última lição: agarrarmos-nos ao que deixa de nos servir, mais cedo ou mais tarde, torna-se ridículo.
Eu tinha uma saia de ganga.
IdoMind
about letting go
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