O que fizemos este tempo todo?
Andámos às voltas. Com as mesmas coisas. As mesmas pessoas mas com outros rostos.
As mesmas dores nos mesmos sítios. As mesmas perguntas feitas de muitas formas
diferentes. A mesma resposta. Andaste a fazer o mesmo que eu – atrás do teu
Lugar. Aquele Lugar. Com sombra e água perto. Com os pássaros a falar sobre a
felicidade na língua que os pássaros falam. O Lugar onde se entra nú e assim se
fica porque não é preciso esconder nada. Nem há frio. Ou vergonha. Basta chegar.
Querer ficar. E depois basta ser.
Andei, como tu, a aprender que o
Lugar não existe. Constrói-se. De sins e de nãos e de talvezes. De cedências e
desistências. De adeus que não se dizem, executam-se. Fria, dolorosamente. Ou
não. De sacríficos afinal só estúpidos, desnecessários e prorrogados para lá do
prazo razoável a entender que não há dignidade no martírio. E que é só isso que
a Vida espera de nós. Que sejamos dignos dela, vivendo-a com a mesma Graça com
que nos é oferecida.
Esta foi a lição mais complexa. E
tive mesmo de parar. A pergunta era demasiado séria para ser feita em andamento
ou a correr. Estava a questionar o meu direito à Liberdade.
Quando parei, percebi que Deus era ridículo. Despejei
Deus do meu Lugar e deixei o espaço aberto e limpo para O que viria amorosamente
pedir-me apenas que fosse feliz. O que não fica contente se eu não estou. Que não
me pede feridas em troca de uma absolvição que só Ele precisa, já que sou Sua
criação. O que nunca ouviu falar doutro pecado que não o de desconhecer o Amor.
Ou de não o levar connosco e apregoá-lo em toda a parte, a todas as nossas
partes.
A minha primeira volta aconteceu com este divórcio do Deus dos outros
para descobrir o meu próprio.
Não te iludas. Não ficou mais
fácil. As decisões estavam agora por minha conta e deixou de haver recompensas para
depois da morte, só colheitas em vida. Como sou regrada e ainda preciso de um
fio que me guie até onde a luz se acende, segui a Lei que manda amar os outros
como a mim mesma e, pelo menos tentar, não lhes fazer o que não gostaria que me
fizessem.
Não tem corrido sempre sempre bem, mas sei que tem sido sempre para
meu bem. Como é que sei? Porque me sinto bem. Bem melhor. E porque faço o Bem,
não por medo, porque tem de ser ou sei lá porquê. Faço o Bem porque me faz bem.
Sei, porque escrevo com a mão
solta sobre a leveza que me vai no coração. Na alma. Perdi peso nestas minhas
voltas e até a alma ficou em forma. Estamos as duas muito bem. Falamos e tudo. Às
vezes até a percebo. Fazer o que me sugere, o que me berra, por vezes, isso é outra questão.... Ainda tenho dietas
a fazer e regimes a seguir. Depois do Verão… Quando começar outra volta.
Eu e a
minha alminha, juntas no regresso às aulas para um ano cheio de lições para o Grande
Livro da minha humilde, bonita e cada vez mais abençoada Existência.
O que fizemos este tempo todo? Dissemos
adeus. Esgotámos prazos. Chegámos a conclusões quase clarividentes enquanto conduzíamos.
E abanámos a cabeça no “como é que eu fui capaz de achar que aquilo era o
melhor” um pouco incrédulos connosco mesmos e com os limites que se foram
alargando sem darmos conta ,até que os limites deram conta de nós…
Andámos a mover acções de despejos ao Deus de
toda a gente e de ninguém.
Estivemos a arranjar espaço, a criar cores, a chamar os passarinhos.
Estivemos a construir o Nosso Lugar.
IdoMind
About...not minding
7 comentários:
eu ainda vou ler isso!!!mais tarde com calma!!!!MAS, JÁ SEI QUE VOU GOSTAR!!!
Que atenta!!! lol
Eu gostei de escrever. Foi assim, zás!
um beijo e até logo então :)
Aqui,bem no poste de iluminação da rua em frente a minha casa tem um ninho de João de Barro. Perdi as contas de quantas vezes ele começou a fazer sua casinha e por conta das chuvas ou dos ventos tudo desmoronou. Tirei fotos outro dia pensando que finalmente havia conseguido fazer seu lar. Depois disso a casinha caiu mais umas tantas vezes. Desisti de acompanhar a sofrida construção até que outro dia olhei de novo para o tal poste e vi a casinha terminada e bem sólida. O pássaro tanto que insistiu que acabou conseguindo o abrigo necessário para a preservação da espécie. Parece as coisas não são mesmo fáceis e que precisamos insistir até conseguir o que nos trará a felicidade, o conforto e a paz na alma.Mesmo que tempestades destruam nossas esperanças, mesmo que os outros observem nossas tentativas, muitas vezes sem poder ajudar, mesmo quando desistem da gente...O que vale, moça,é continuar sempre, a gente é que não pode desistir. Um tempo para o fôlego,para o pensar,para se aprumar e lá se vai novamente construir o ninho. Daqui posso perceber quantas tentativas de construção você já fez. E como é bom saber que você é assim como o João de barro, que vai até conseguir. Seu abrigo está pronto, poderá proteger-se e ser feliz pois sei que é isso quem vem construindo e buscando a tanto tempo!!!
Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.(RITA APOENA)
Minha Márcia...Minha Márcia
Nós é que ainda temos a ilusão dos "para sempres" como se isso existisse.
Não existe.
O único "sempre" é agora. Esta resposta ao seu comentário, o café que vou beber em seguida, o telefonema para a minha irmã...EStes são os sempre que são para sempre. O resto é mundança, é volta.
Como esse passarinho mostrou e a Márcia viu. Cada reconstrução foi o sempre dele.Talvez este último sempre seja para durar mais que os outros. talvez não.
O que tenho percebido é que somos nós que mudamos com as coisas que mudam.E é um processo giro de se observar algum tempo depois.
Persistir e lutar pelos nossos sonhos sim mas sem fechar a porta a outros.Ao fluxo da vida.
A minha aventura vai começar, Márcia. Vou de coração cheio de esperança e a acreditar neste "sempre" que me vai pedir construção, desconstrução, fé, amor e muito mais.
Vou persistir :)
Adorei a história e gostei ainda mais que tivesse seguido tão de perto os esforços desse seu vizinho alado ;)
um grande abraço
ENTÃO...QUE O SEU SEMPRE NÃO SE ACABE NUNCA!!!HE HE HE
http://www.youtube.com/watch?v=6wLuVJvxkYY
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