novembro 30, 2009

Obrigada Sílvia...

Hoje li uma frase maravilhosa. Foi deixada por Sílvia Freedom em comentário ao meu post anterior. Então diz assim: “ Aonde eu não chego…lá está você…”.
Tocou-me tanto… Diante do meu meu coração de jardineira desenhou-se logo a interminável cadeia de mãos que se iam largando e segurando ao longo da escadaria que é viver.
Inspirou-me também a escrever. Aqui fica ao jeito da IdoMind um desabafo, e um pedido, para nunca deixarmos de chegar lá…

A vida despiu-me. Foi assim nua, e a tremer, que lhe perguntei, num grito abafado, o que queria de mim. Aprendi a andar de novo. Por outros caminhos. Com novas metas. Aprendi a ver de novo.
Conheci um outro Deus. Que estranhei de início, tão habituada que estava à culpa de não ser perfeita. De não fazer tudo bem a todas as horas. Com todas as pessoas. Este Deus parece que tem os braços sempre estendidos, mesmo nos dias que os meus estão escondidos do mundo. Sobretudo nesses dias. Já O senti entrar na escuridão para onde corro quando fico fraca e o peso fica pesado. Lá vem Ele com mais uma coincidência, com um acaso ou uma pessoa qualquer devolver-me à minha estrada.

Eu que acordei para mim e me vi sagrada tocando este chão bendito, feito para me descobrir, assim, divina na terra. Eu que hoje sei que nada importa senão o Amor que temos na voz, nas mãos e em nós. Eu que chorei e choro, mas que não paro de me transformar. Mariposa em permanente ressureição, largando continuadamente a pele do que fui antes. E crescendo.
Eu consciente do que sou, às vezes não estou lá. Aonde tu não chegas.
Ainda tenho estas arestas de carvão a escurecer o diamante. Todo o brilho. Toda a Beleza. Ainda sou humana e, tantas e tantas vezes, menina e assustada. Como tu, também temo não ser amada. De não quereres que eu chegue lá. De ouvir um “não” proferido com a secura que a dor deixa no peito. Nem sempre os meus degraus são de cimento.

A subida já me fez descer. E descerei de novo, se é lá que tu estás. Se estiveres mais acima galgarei os degraus de dois em dois para chegar a ti. E se as tuas escadas se ergueram ao lado das minhas darei um pulo, de esperança, para voar até ti e perguntar-te: "Queres vir comigo?"



Vamos por aí ver o tal Deus a enlouquecer-nos porque é dos insanos o Reino do Céu. Vamos ser insentatos e viver a Nossa Verdade. Deixar os véus pelo caminho. Destapar o coração para nos vermos. Anda comigo dizer quem és. Descobrir-te filho da vida que geras. Anda comigo distribuir alegria. Subir degraus aos pares. Pular escadas. Chegar lá, onde outros aguardam nossa chegada.
IdoMind
about reaching out

novembro 26, 2009

Reciclagem a quanto obrigas

O meu coração está mais quentinho hoje. Dispus-me a ouvi-lo. A ouvir-me. E fui capaz de ser gazela sobrevoando com leveza e graça o obstáculo que me separava daquela paz que tanto gosto.
Era só uma questão de orgulho. De muito, muito medo de voltar ao meu ermo vestida de patinho feio.
Foi preciso consciência. Foi preciso humildade. Foi preciso chamar a coragem que tinha guardada para usar um dia. Aquele dia, que parece sempre tão longe de hoje. Teve de ser, esgotei a dose da bravura que estava reservada e perguntei-me:
“ Porque estás a delegar em mãos alheias o teu próprio bem-estar?”

A situação é simples. Alguém que eu gostava muito, sem qualquer motivo ou explicação deixou de me falar. Ainda enviei uma mensagem a pedir desculpa se tinha feito algo que tivesse magoado e que nunca tive tal intenção.
Do outro lado – silêncio. Deste lado – “ Que raio…?”

Também deixei de falar. Fui mais longe e fugi. Deixei de ir onde gostava de ir apenas para não me cruzar com a pessoa. No domingo à tarde fiquei sem andar. As pernas simplesmente pararam. Não há qualquer metáfora escondida. Pararam mesmo. Não as conseguia mexer. Percebi de imediato e disse baixinho “ Está bem, amanhã eu vou lá.”.Segunda-feira levantei-me completamente recuperada…

Encontrei a pessoa e a coisa ficou para o estranho. Dois beijinhos educados na face e falar que é bom, nada. Resignei-me e embarquei no teatro. Até ontem. A verdade é que andava triste, constrangida. A falta de conhecimento traz sempre inquietude. E eu andava inquieta.
Contrariando então a natureza torta com que fui agraciada, depois fortalecida pela família “especial” que escolhi, pus o orgulho a dormir e tentei de novo.


Num rasgo (raro) de lucidez entendi que eu estava a ser igual à pessoa: irredutível na minha posição. Fosse ela devida a dor, a mágoa, a birra. O que fosse, eu estava de pés fincados na minha razão.
Noutro rasgo (ainda mais raro) de intrepidez, enviei nova mensagem “ Não me atrevo a ligar-te porque não sei o que se passa contigo mas se precisares de alguma coisa em que possa ajudar, eu estou aqui. Sabes que isto é sincero. Até amanhã”.


Foi com todo o amor que tentei desta forma esticar a minha mão e o meu coração até à outra margem. Que continuou e continua em silêncio.
Mas agora já não faz mal. Senti-me mais mulher. Um ser humano a procurar realmente ser melhor.
Senti todo o carinho que sinto por essa pessoa, a abraçar-me… A recompensar-me.
Sei que foi um acto importante no sentido da cura das feridas que julguei cicatrizadas.
Mas que não estão.

Estou muito contente comigo.
IdoMind
About myself

novembro 24, 2009

Com os teus sapatos


Andei a calçar sapatos. Estava exausta dos que trago. Descalcei-me por um bocado e quase ouvi os meus pés a respirar. E a agradecer. Eu também respirei. E agradeci com um suspiro, pela força que me fez dar tantos passos até ali. Reconheci que não tem mal sentarmo-nos por um instante. Ou por muitos. Por todos os que forem precisos para calar tudo o que grita há tanto tempo. De cansaço. De desalento. Por todos os que forem precisos para reinventar uma vida. Pelo instante necessário para esperar pela fé que ficou um pouco lá atrás.

Sentada na minha berma vi os outros pés a passar. Todos calçados.Imaginei-me a andar neles e veio uma dor ao peito que só o perdão amainou. E a promessa de calçar muitos sapatos. Todos os que puder para que entenda que são de gigante alguns passos pequenos. Que é difícil arrastarmos nos pés o que não nos serve.
Os sapatos grandes, maiores que nós, que nos vão aspirando até sermos só lembrança da pessoa que nunca conseguiu dizer não. Daquele que tudo podia. Do incansável que não demarcou as suas fronteiras. O sem limites que se diluiu nos sonhos alheios. À noite, enquanto arruma os seus enormes sapatos, vai-se adormecendo ao sabor de uma qualquer redenção, oca e cara.

Também ainda não tinha parado para ver como andam apertados alguns pés. Conformados a um molde que não é o seu. Pés bonitos que por quererem caber em espaços menores, se vão deformando. Lenta e dolorosamente. São pés tímidos que o medo da rejeição mantêm atados.
E aqueles saltos altos… lindos, elegantes. Hinos a um equilibrismo conquistado. O retrato composto em exibição pública. A imagem impecável que não combina com choro. Com dias maus. Com luas fortes.Os sapatos de saltos altos que te fazem sentir mais bonita. Mais alguém. Sem eles é como se andasses nua e entendendo-te porque também tenho os meus apoios.

Hoje, até calcei uns ténis.Percebi melhor que não é fácil ser genuíno num mundo que nos quer previsíveis. Responsáveis. Amarráveis…Capazes de abdicar do conforto de sermos nós, a viver a nossa vida, para sermos os outros a viver a vida que querem para nós. Gostei de sentir esta audácia. De dizer com os teus ténis que não sou igual. Assumindo as consequências da diferença.

Se pudéssemos sempre calçar os sapatos uns dos outros. Apenas para sentir um coração que não o nosso. Para perceber que também acelera. Que arrefece. Que pulsa ao ritmo do que dá e do que recebe.
Se pudéssemos todos fazer uma paragem e trocar de calçado. Usar sapatos mágicos que nos conduzissem pela vida a dançar. Que dessem para voar. Sapatinhos de cristal a condizer com nossa alma transparente.

Se pudéssemos andar descalços sem magoar os pés…
IdoMind
about what you wear

novembro 19, 2009

Vida, vida

É agora que preciso do abraço. Daquele que é dado sem ser pedido. Que nos aninha e acalma a dor de uma solidão que não se escolhe. O abraço que traz a Primavera aos espaços vazios que foram crescendo cá dentro. Já vai longo este Inverno. O sol esqueceu-me de mim, aqui ao frio.

É agora que preciso de ouvir as palavras certas. Mãos com mãos e olhos nos olhos, ser capaz de falar. Sobre o medo e o que nos prende as pernas. Sobre expectativas. Sobre esta humanidade que nos força a esconder o corpo atrás de muita roupa. E as lágrimas atrás de caras paralisadas por sorrisos de plástico. Vamos calar todos os ruídos que nos cercam e ficar. Só ficar. Sente-me e reconhece-me como aquela que entende. E que ouve o indizível.

Conheço bem as lutas que nos roubam o sono. As vitórias da razão a que as emoções nunca se rendem. Os sentimentos pensados e os pensamentos que se sentem, envolvidos e desposados no conflito permanente pela busca do amor. É isso que tudo se resume, sabes? Todas as batalhas são por ele. Mas é na paz que ele se revela. No silêncio das disputas. Não antes.

Eu também fazia as escolhas seguras. As que me mantinham longe da vida e dos seus desgastes. Das pessoas que falavam de si e que andavam por aí com o coração à mostra. Do rebuliço que é andar no meio dos outros. Eu também não dizia desculpa…

Um dia percebi que me deitava sozinha. Como todos os dias. Eu, comigo. Foi o dia em que percebi que nada, nem ninguém importa além de mim. Mágico algum tem a fórmula para a minha felicidade. Para o que me faz sentir bem. Para as gargalhadas que já dei e para todas aquelas que ainda tenho para dar.

É tudo sobre simplicidade.
Ainda que custe, e como custa, pergunto se a imagem no espelho é mesmo a minha. Ainda que pese, e às vezes pesa, carrego a claridade que ilumina a falta de entendimento. A minha lanterna entra em todas as casas onde os enganos ergueram paredes. Ainda que demore, eu compreendo. Os tempos das coisas. As nuvens que pairam sobre os espíritos. O destino.
E os abraços que não têm de acontecer…

IdoMind
About words to say

novembro 18, 2009

Jardineira Is in The House!

Fechei os olhos por um instante para descansar deste cinzento que me magoa a vista.E enegrece o coração.


Deixei a minha caneta pousada, assim como as minhas mãos, deste lado da vida onde tudo cabe numa gaveta qualquer. Até as pessoas. Vi-me por aí desarrumada, sem lugar onde me encaixar. Nenhuma das cores era a minha. Entre o preto e o branco há um arco-íris infinito dentro de cada um de nós.
Eu vejo todos os arco-íris que se erguem nas almas depois dos dilúvios. Naquelas que naufragaram e cuja pomba ainda não voltou. Nas que flutuam por entre as marés sem tirar os olhos do céu. Nas outras que se bastam com um guarda-chuva porque nada é para sempre. Nem a pior das tempestades.

Sou o pai impaciente a tentar o seu melhor. Sou a mãe que chora de cansaço. Sou a pessoa que passa, sem sonhos porque carrega as marcas de cada acordar. Sou o homem assustado que finge uma coragem que não tem. Sou a mulher dos dias de hoje a quem as decepções foram amputando os sentimentos. Sou o vizinho que precisa de ser rude para saber que alguém o ouve. Sou aquele que não sabe quem é.

Eu sou todos os que ainda não me viram neles. E às vezes procuro um lugar apenas para estar. Com quem estar. Mostrar que também posso caber na gaveta ou num desses armários com nomes.
Mas eu sou a etiqueta em branco que esvoaça por entre os corredores dos certos e dos errados.
Gosto de mim assim, por preencher. Letra alguma me pode gravar além da que é escrita com amor. Nesta pele, eu própria vou escrevendo a minha identidade. A que eu reconheço.
Quis tanto ser igual que revelei ainda mais a diferença. Eu sou a diferença. Tu também. E como é lindo o que nos distingue.

Sentei-me muitas vezes aqui para falar de fantasias, para inventar loucuras e partilhar as minhas visões de Deus. De todas me levantei triste porque a inspiração desaparecera juntamente com o meu despropositado bom humor.

Hoje, ao cabo de cerca de um mês, consegui de novo cuidar do Jardim, deixado ao abandono como um baldio qualquer.
Estou de regresso e com algumas histórias para contar.
Se eu podia dizer tudo isto com “ Estive a pensar na vida”?
Podia. Mas não era a mesma coisa…
: )
IdoMind
About taking a break
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...