Bem sabes que dou por mim a sonhar com o Amor. A desejá-lo secreta, quase infantilmente. A lamentar não tê-lo a toda a hora da forma que o imagino. Às vezes aperta-me a ausência desse amor sonhado. É quando sou empurrada para os terrenos arenosos da solidão onde me afundo nos porquês que nunca encontram os porques… Apago as luzes e fico para ali entregue aos “era tão bom se …”
Depois de esgotar as culpas deste planeta meio insano, a deambular pelo espaço sem rumo ou meta, viro o dedo para mim. Este dedo incisivo e cruel que vai denunciando os meus crimes contra o caminho que escolhi.
Aos poucos surgem os porques que tanto preciso para apaziguar a mente. É porque sou assim. É porque não me dedico o suficiente. Tenho de aprender a abdicar, sim é isso, o problema é que não abdico. Talvez sejam as minhas prioridades. Ou será porque gosto de ver o mar pela manhã, sozinha, antes da areia testemunhar a passagem de outras pessoas antes de mim. É porque vejo a mão do céu até no café que me servem na estação no regresso a casa. É porque sou Touro. É porque adoro filmes de terror. É porque não sou bonita o suficiente. Sorrio demasiado...
É por uma razão qualquer ou por razão nenhuma, mas o Amor mora sempre na casa ao lado.
Porquê? Hoje já sei responder. É porque ele não mora dentro de mim.
Por isso quando me perguntas se te amo só posso dizer-te que não posso responder. Falta-me descobrir o amor por mim. Compreenderás que não posso dar aquilo que não possuo. Também ninguém me poderá dá-lo, mesmo que queira. A água que nos mata a sede nasce numa fonte que é privada…e temos andado a beber do líquido da vida uns dos outros, misturando águas salgadas com doces, limpas com salubres, trazendo, tantas vezes, para dentro de nós o cheiro a pântano.
Mas os lábios não tardam em secar e lá voltamos a beber fora de casa sugando dos outros a última gota, até que também eles se vejam tão secos quanto nós. E o que devia medrar, morre. Não te quero nem seco, nem morto. Quero-nos enormes em sabedoria e entendimento. Quero-nos a crescer cúmplices dentro dos nossos sonhos individuais.
Primeiro terei de ir à procura do fio que leva à nascente. Nela beber, banhar-me, limpar-me. Deixar ali os vestígios daquela que em tempos fui para que depois deste baptismo, a que renasceu flua livre com a corrente. Onde lá à frente se encontrará com a tua.
Gosto do aroma a limpo. A novo. É assim que me quero: limpa, livre, perpetuamente nova. E tu também. Preferes-me esmagada com o peso das máscaras? Amarrada a deveres que já ninguém percebe porque os cumpre? Preferes-me fraca para que melhor exerças a tua própria força? Porque ainda que doce, será jugo o que me dás se eu não me amar. Ainda que branda será força o que me prenderá a ti.
Olha e vê. Quantos desiquilíbrios se revelam diante dos nossos olhos. Homens e mulheres apagados pela sombra do desamor por eles mesmos.
Não vêem, e por isso não curam, as fendas dos seus seres. Buracos onde se alojam a mágoa, a dor, o desespero. As noites sem dormir ocupados a construir uma imagem aceitável para apresentar ao mundo onde desesperadamente querem caber. Onde têm de pertencer. Serão o que for preciso, deixarão de ser o que for preciso apenas para serem amados. Sobrevivem assim com um coração esburacado e uma cama que nunca aquece.
Não me faças ser construtora de uma mentira. Não queiras amar quem não se ama.
Olha e vê as incoerências. Em nome de um amor que dizem sentir, entregam-se à humilhação. Dão-se de alimento a quem também não gosta de si mesmo, mas que não vergou a personalidade ao projecto comum. Se ao menos se conseguisse ficar vergado para sempre.
Mas Quem tu és, O que tu és, tem uma força própria, alheia a ti. Que não dominas, que não controlas ainda que penses que sim. É só uma questão de tempo. É só uma questão de limites. Aqui, todas as almas têm um tempo. E um limite.
Hoje escolho não levar a minha alma ao seu limite. Nem a tua. É por isso que antes de afirmar o meu amor por ti, tenho de confirmar o meu amor por mim.
Para ti: homem, pai, irmã ou irmão, amigo ou amiga, colega, vizinho, professor é esta confissão da minha busca. Que todos se busquem para que por fim nos comecemos a encontrar.
Só assim vamos deixar quem nunca quis de facto ser encontrado e achar quem deve por nós ser achado...
IdoMind
about the truth in me