maio 27, 2009

Olá vida

Hoje é dia do resto dos meus dias. É hoje que estico os braços bem alto e vou destemida encontrar-me com a vida.
Pedir-lhe desculpa pelos adiamentos. Por este tempo em que eu e ela temos estamos suspensos. Pelas esperas que se tornaram a regra. Pela excepção em que a tornei. De hoje em diante a minha vida vai ser por regra excepcional. É isso quero. É isso que mereço. Uma vida excepcional…

Comecei já a dizer sim às ofertas que ela me faz. Que sempre me fez, mas que nunca arranjei tempo para aceitar. Ou vontade. Aquele encontro inesperado, meio clandestino. Aquela gargalhada, inoportuna, tantas e tantas vezes sufocada. O bater de pé, que não fossem as esperas para me fazer respeitar, já teria dado muito lá atrás. Aquele par de braços que me aguardam e que nunca tinha visto antes. Ou não quis ver.

Fiz-me cega à vida. Outras vezes deixem que me cegassem. É por isso que caminho tão devagar. Não vejo onde tenho os pés nem vislumbro o horizonte. Aprendi a andar com cuidado. Esqueci-me de correr confiante em cada etapa. E a meta pareceu sempre tão longe do meu alcance.
Hoje é o dia em que começo a ver melhor. E a andar com fé. Afinal são tapetes de algodão que revestem a minha vida.

Também já disse alguns adeus. Despedi-me da cadeira onde me sentei por todo este tempo. Tão confortável. Tão minha. Ia jurar que já tinha o meu molde. Mas eu não sou moldadora de coisas. E nem de pessoas. Também me despedi desse emprego, ingrato e mal retribuído.
Estou aqui para me moldar. Estou aqui para ser moldada. Estou simplesmente aqui. Para o que a vida e eu decidirmos viver.

Claro que estou com medo. Não sei o que ela quer. Habituei-me aos dias previstos. À segurança de uma agenda. Às pessoas coerentes. À paz das aparências. Habituei-me à minha falta.
Mas hoje estou com saudades minhas. E a minha vida está do outro lado da porta a chamar por mim. Agora ouço-a. Não posso, nem quero fingir-me surda.
Basta de andar de costas. De esconderijos. De vida feita e remendada de "amanhãs" que nunca chegam a hojes.

Hoje é o dia em que me volto de frente para estrada. Sem véus.Só eu e a minha vida, de mãos dadas, coragem no peito e olhos no céu.
Eu mando um postal : )
IdoMind
about the life that waits




maio 25, 2009

Três

Pergunto algumas vezes quem sou. Acho que todos o fazemos. O peso da vida, aqueles vazios no peito e os acasos que nos viram ao contrário, tornam-nos filósofos uma vez ou outra.
Reparo então que estou cercada de mistério, que não estou certa de querer desvendar. Pode esmagar-me o peso da revelação. Sinto-me a criação estranha de umas mãos geniais, cujo calor em dias menos luminosos vem murmura-me a esperança.
Deixo de sentir o chão quanto submerjo nisto de entender do que sou feita. Apalpo um espaço sem forma entre mim e tudo o resto onde eu não sou verdadeiramente eu, mas outra coisa qualquer. Maior. Parte de um todo que não me lembro.


Ninguém nos faria engenhos tão perfeitos apenas para o combate diário contra nós mesmos, os outros, o que se vê e o que não se vê. O combate do qual nunca desistimos apesar das feridas, da profundeza de alguns golpes, da perda de partes de nós em batalhas que nunca esqueceremos. Um instinto mais forte leva-nos a desbravar a dureza da experiência escolhida, planeada, mas que aqui se fez esquecida.


Somos a ponte entre o efémero e o eterno e somos a própria travessia. Somos o primeiro e o último passo no círculo das vidas. Somos começos sem fim.
Sentimo-lo a cada morte e a cada nascimento. Nascemos para morrer? É só isso? Chegamos com um grito e vamos num suspiro ou também a gritar? Resume-se a nossa vida à soma de refeições,empregos, namorados e filhos que tivemos? Mas e esta sensação de propósito? Este pensamento obstinado de que tenho algo a fazer. Alguém para conhecer.Um livro para escrever. De onde vem isto?


Todas as respostas que a mente fabrique, o coração rejeita. Deve por isso ainda haver outra parte de mim. Uma que nem sempre tenho consciência mas que será a me liga do solo às nuvens e para lá delas. A que dá a coesão. Sentido.
Aquela parte que me deixa todas as noites para voar por sítios onde o corpo não pode chegar. Aquela parte que me põe a dormir para poder regressar ao país onde os cães falam, o meu pai usa saltos altos e onde há sempre estranhos com enormes relógios de bolso que vêm perguntar-me as horas. O país dos sonhos.
A terceira parte. A que viaja. A que sempre viajou. A que tem o diário das nossas partidas e chegadas. Das nossas paragens. Das estadias e dos albergues onde procurámos o conforto de um lar. A terceira parte, o espírito. O que une o que vivi àquilo que sei.
É no meu espírito que reside a resposta. Pudera eu entender a sua língua para que a paz descesse sobre mim e não mais importasse quem eu sou, mas como quero sê-lo.
Cada passo seria suave. Cada decisão uma graça. Cada pessoa um irmão. E no fim tudo tinha valido a pena.

Tenho esta vontade, crescente dentro de mim, de ser mais. Um relance fugidio da divindade que me carrega aqui. Sinto-me quase sagrada. E sei, por instantes, que sou um milagre.Toco a tua essência, meu espírito. As lágrimas querem correr tal é a força do meu encontro contigo.E deixo de ser eu para passar a sermos nós. É tão bom sentir-te comigo, velho amigo. A carga não é tão pesada quando estás por perto. Deixa até de ser carga.

Ensina-me, por favor, a reconhecer-te. Para que eu pense bem. Para que sinta com pureza. Para que aja com despreendimento. Para que tudo em mim seja em nome do Amor Maior.

Preciso de ti para que a minha missão se cumpra com leveza, com alegria.Vamos combinar um sinal para que eu saiba, nas horas das minhas dúvidas, que és tu quem pisca essa luz conduzindo-me pelas tempestades da minha vida.

Este sinal é nosso e será a nossa promessa de unidade eterna.

IdoMind


about the parts of the All

maio 24, 2009

Procurando

Bem sabes que dou por mim a sonhar com o Amor. A desejá-lo secreta, quase infantilmente. A lamentar não tê-lo a toda a hora da forma que o imagino. Às vezes aperta-me a ausência desse amor sonhado. É quando sou empurrada para os terrenos arenosos da solidão onde me afundo nos porquês que nunca encontram os porques… Apago as luzes e fico para ali entregue aos “era tão bom se …”

Depois de esgotar as culpas deste planeta meio insano, a deambular pelo espaço sem rumo ou meta, viro o dedo para mim. Este dedo incisivo e cruel que vai denunciando os meus crimes contra o caminho que escolhi.

Aos poucos surgem os porques que tanto preciso para apaziguar a mente. É porque sou assim. É porque não me dedico o suficiente. Tenho de aprender a abdicar, sim é isso, o problema é que não abdico. Talvez sejam as minhas prioridades. Ou será porque gosto de ver o mar pela manhã, sozinha, antes da areia testemunhar a passagem de outras pessoas antes de mim. É porque vejo a mão do céu até no café que me servem na estação no regresso a casa. É porque sou Touro. É porque adoro filmes de terror. É porque não sou bonita o suficiente. Sorrio demasiado...

É por uma razão qualquer ou por razão nenhuma, mas o Amor mora sempre na casa ao lado.
Porquê?
Hoje já sei responder. É porque ele não mora dentro de mim.
Por isso quando me perguntas se te amo só posso dizer-te que não posso responder. Falta-me descobrir o amor por mim. Compreenderás que não posso dar aquilo que não possuo. Também ninguém me poderá dá-lo, mesmo que queira. A água que nos mata a sede nasce numa fonte que é privada…e temos andado a beber do líquido da vida uns dos outros, misturando águas salgadas com doces, limpas com salubres, trazendo, tantas vezes, para dentro de nós o cheiro a pântano.
Mas os lábios não tardam em secar e lá voltamos a beber fora de casa sugando dos outros a última gota, até que também eles se vejam tão secos quanto nós. E o que devia medrar, morre. Não te quero nem seco, nem morto. Quero-nos enormes em sabedoria e entendimento. Quero-nos a crescer cúmplices dentro dos nossos sonhos individuais.
Primeiro terei de ir à procura do fio que leva à nascente. Nela beber, banhar-me, limpar-me. Deixar ali os vestígios daquela que em tempos fui para que depois deste baptismo, a que renasceu flua livre com a corrente. Onde lá à frente se encontrará com a tua.

Gosto do aroma a limpo. A novo. É assim que me quero: limpa, livre, perpetuamente nova. E tu também. Preferes-me esmagada com o peso das máscaras? Amarrada a deveres que já ninguém percebe porque os cumpre? Preferes-me fraca para que melhor exerças a tua própria força? Porque ainda que doce, será jugo o que me dás se eu não me amar. Ainda que branda será força o que me prenderá a ti.

Olha e vê. Quantos desiquilíbrios se revelam diante dos nossos olhos. Homens e mulheres apagados pela sombra do desamor por eles mesmos.
Não vêem, e por isso não curam, as fendas dos seus seres. Buracos onde se alojam a mágoa, a dor, o desespero. As noites sem dormir ocupados a construir uma imagem aceitável para apresentar ao mundo onde desesperadamente querem caber. Onde têm de pertencer. Serão o que for preciso, deixarão de ser o que for preciso apenas para serem amados. Sobrevivem assim com um coração esburacado e uma cama que nunca aquece.

Não me faças ser construtora de uma mentira. Não queiras amar quem não se ama.
Olha e vê as incoerências. Em nome de um amor que dizem sentir, entregam-se à humilhação. Dão-se de alimento a quem também não gosta de si mesmo, mas que não vergou a personalidade ao projecto comum. Se ao menos se conseguisse ficar vergado para sempre.
Mas Quem tu és, O que tu és, tem uma força própria, alheia a ti. Que não dominas, que não controlas ainda que penses que sim. É só uma questão de tempo. É só uma questão de limites. Aqui, todas as almas têm um tempo. E um limite.

Hoje escolho não levar a minha alma ao seu limite. Nem a tua. É por isso que antes de afirmar o meu amor por ti, tenho de confirmar o meu amor por mim.
Para ti: homem, pai, irmã ou irmão, amigo ou amiga, colega, vizinho, professor é esta confissão da minha busca. Que todos se busquem para que por fim nos comecemos a encontrar.

Só assim vamos deixar quem nunca quis de facto ser encontrado e achar quem deve por nós ser achado...

IdoMind
about the truth in me

maio 19, 2009

Fados

Cala-te. Um segundo que seja. Silencia a desordem que te rouba a razão.

É preciso que pares e oiças as vozes, agora longínquas, que exilaste no fundo de ti. Lembras-te? Aquelas que te acompanhavam quando eras mais pequeno, antes de te sujares com a poeira dos outros.

Se ficares aí quieto o tempo suficiente para que elas sacudam o pó, ouvirás o eco das palavras sábias de quem sabe tudo de ti. Até aquilo que tu não te lembras mais...ou ainda. Ouve-as, porque são vozes sem tempo. Acompanham-te desde sempre, se o sempre houvesse. São intemporais. Como tu. Seguem-te desde o teu primeiro suspiro e sabem do que és feito. Escuta-as, porque são vozes que já viram tudo e disso querem falar-te.

Mas terás de fechar a boca e abrir o resto que te compõe. Esse coração, essa cabeça devem unir os corpos e dançar ao som da mesma música. A Tua música. Diz-me que ouves já os sons dos primeiros acordes ou terá de haver ainda mais silêncio.

Arruma no armários das Esperas essas ideias barulhentas e baralhadas sobre ti. Põe à espera o medo de não te amarem. O pânico de não ter dinheiro suficiente para tudo aquilo que achas tão imprescindível.Põe também à espera esses imprescindiveis que te fazem cair na terra e nela rastejar.

Sossega. Manda o teu mundo parar. Ou abranda-o. O teu ritmo é diferente e está a ser abafado por outros. Como poderás assim reconhecer a tua música? A que te faz sorrir. Aquela que te toca onde deves ser tocado. A que te leva para outro lado, onde há quietude e tu conversas contigo.

É natural que não queiras calar-te. As vozes podem ditar-te letras pouco harmoniosas para a pauta dos que te rodeiam. Podes ter que ir à procura de outro Maestro. De outra violinista que não tenha dores de cabeça à noite quando chegas ou te faça sentir o pior dos compositores. Podes ter que procurar outro sítio onde tocar. Talvez uma garagem. E tu gostas tanto de ouvir os outros no sétimo andar do melhor prédio da avenida principal da cidade. Mesmo que o preço seja alto – a morte do teus talentos.
Estás habituado a essa orquestra apesar de saberes que não é a melhor para ti. Que não sente a Tua música. Que não está lá contigo quando a tocas. Mas sempre é preferível a ter que partir ou fazer partir as pequenas notas dessa sinfonia sem gosto nem cor que já decoraram. Até a isso te habituaste, às coisas sem gosto e sem cor porque assim não tens de decidir.

Tu sabes que é verdade quando as vozes te dizem que é hora de ir. De mandar embora. Que na garagem a acústica é perfeita. Que a tua violinista aguarda por ti. Sabes porque vibras. Sabes porque sonhas. Sabes porque, de repente, tudo à tua volta te está a dizer o mesmo.

Quando deixas as vozes guiar-te, desconheces a rota, mas sabes que chegarás ao teu destino. E feliz. Cheio de histórias para contar e muita alegria para partilhar. Os teus dias são explosões de cor que salpicam de amarelo, de vermelho e laranja os dias dos outros.
Nada é igual porque te encontraste no meio dos borrões.
Tu és aquele que se ouve porque se calou.
Tu és aquele que saiu vazio e voltou de alma cheia.
Tu és agora tu.
E és tão bonito…Vejo-te daqui emocionada envolto dessa luz que trouxeste do regresso de ti mesmo.
Bem Vindo.
IdoMind
about what makes me shine...

maio 17, 2009

O Recreio

No paraíso, Jesus Cristo, Moisés e um velhote com grandes barbas disputavam uma partida de golf.
Jesus deu a primeira tacada e a bola caiu num lago, ficando a flutuar. Jesus arregaçou a túnica, caminhou sobre as águas e deu uma nova tacada que levou a bola para muito perto do buraco.
Moisés deu a segunda tacada e a bola caiu num lago, afundando-se. Moisés ergueu a sua vara, afastou as águas e deu outra tacada na bola que ficou muito, muito perto do buraco.
Chegou a vez do velhote, que deu a sua tacada. A bola caiu no lago e foi comida por um peixe, que foi abocanhado por uma enguia, que foi mordida por uma águia, que levantou voo com a enguia na boca, que deixou cair peixe, que na queda deitou fora a bola, que acertou em cheio no buraco.
Moisés vira-se para Jesus e diz-lhe:
- Sabes, odeio jogar com o teu pai…



E nós também. Naquelas horas muito escuras em que a esperança parece não encontrar a rua que leva à nossa morada. Quando o medo bate à porta e o deixamos entrar. Sempre que a dor nos contamina a alma e turva o olhar. De todas as vezes que o mundo foge e de repente nos vemos sozinhos...Quando as nossas mãos só conseguem agarrar o ar. Quando não nos ouvem gritar. Quando ficamos invisíveis ao Amor.

De todas estas vezes odiamos jogar com Deus. E odiamos ainda mais que ele jogue connosco.
Não entendemos. Afinal cumprimos as regras. Então porque é que nunca conseguimos ganhar? A nossa vitória corre sempre mais que nós e nós corremos sempre menos que as nossas derrotas. E nesta corrida, meio sem sentido e sem fim, vamos ficando sem folego, cansados demais até para ter fé.
Não queremos um Pai que nos faz sofrer. Que nos dá filhos doentes. Que nos põe na mesma estrada que um condutor embriagado. Que deita na nossa cama um marido infiel. Que faz de nós mais um número da lista de desempregados.
Não queremos um pai incompreensível que não dá tudo o que queremos e quando queremos. Sim, muitas vezes preferíamos ser órfãos.


Ainda bem que o meu Pai é diferente. Confio cegamente nele porque sei que me ama acima de qualquer coisa. O meu Pai olha por mim mesmo quando tenho o olhar desviado dele. Sei que está atento. Bem tenta falar comigo, dar-me conselhos, dizer-me que a direcção que tomei não me levará onde devo chegar, onde espera por mim a felicidade que procuro.
Nem sempre o oiço, tão convencida que estou sobre aquilo que acho que é melhor para mim e da maneira de consegui-lo.
Mas infinita é a sua paciência e ainda assim continua a falar comigo. Usa tudo e todos ao meu redor para chegar até mim. Com os lábios de alguns estranhos já cantou melodias que o meu coração reconheceu. E soube então a resposta para a pergunta. Com a fragrância das rosas da casa em frente, fez-me chorar de saudades da minha avó e lembrei-me que em pequena queria ser assim, uma mulher forte atrás das rugas e das marcas da vida. Ergui então a cabeça e fui invadida por uma certeza risonha que tudo estava no devido lugar.
Com telefonemas inesperados alterou o meu dia inteiro só para que eu pudesse conhecer aquela pessoa que me falou daquele livro especial que me levou àquela livraria, onde descobri outro livro ainda mais especial, que fui ler ao fim daquela tarde, àquela praia, em que encontrei uma carteira perdida…A carteira levou-me a outro telefonema que me levou a outras paragens. Paragens maravilhosas. Mas só percebi isso muitos dias depois daquele dia alterado pelo telefonema.


Estranhos são os desígnios do meu pai, porque curto é o alcance da minha vista. Mas são sempre a meu favor. Eu sei isso. Esqueço-me por vezes. Porque gosto de me esquecer. E zango-me com Ele. Porque é mais fácil que me zangar comigo própria.
Por sua vez, Ele nunca se zanga.Sabe como dói andar de joelhos a colher a erva rasteira dos nossos actos mal plantados. Conhece o sofrimento das partidas que não estamos prontos a aceitar. O desgaste do aluno perpétuo num ano lectivo sem férias. As lanças que trespassam a carne.
Compreende que que isto de ser Homem, também passa por ser a Força. E ama-me ainda mais pela minha coragem.




Porque me respeita, o meu pai está ao meu lado. Não à minha frente a puxar-me, nem atrás de mim a empurrar-me. Ombro com ombro atravessamos as veredas da existência que escolhi. Acredito que chora comigo. Não pelas dores das minhas quedas, mas pelo tempo que permaneço deitada no chão.
Também porque me respeita, não me levanta até que eu me queira levantar. Só assim vou conhecendo os meus limites e ganhando a confiança em mim para cair menos e por-me de pé com maior rapidez, retomando o caminho segura e mais sabiamente.

O meu Pai é um bom Pai. Liberta-me a céu aberto e permite-me ser Eu. Deixa que eu me descubra, perdendo-me por trilhos que não levam a qualquer lado. Que eu me defina, experimentando mesmo tudo aquilo que acaba por não pertencer à definição. Que cresça, magoando-me e sarando. Para esse fim dá-me tudo o que preciso. Mesmo o que chamo de castigo. Mesmo o que apelido de injustiça. Mesmo os obstáculos. Mesmo o que me leva a tropeçar.

E lá continua Ele, no banco do Jardim a olhar por mim enquanto brinco...
O meu pai também tem um bom sentido de humor...Espero! Pois só assim consigo entender a minha vida...e trocar com Ele grandes piadas.
IdoMind

about understanding

maio 14, 2009

Os Tempos das Coisas

Está bem, eu vou contigo salvar o mundo batendo à porta de cada um. Mas terás de ser paciente. Ainda não preparei tudo. Quero ir livre e como uma só. Quando formos, será uma companheira que caminhará contigo e não uma companhia.

Por hora, as preocupações ainda me preocupam e os medos ainda me assustam. É no chão em que tenho os olhos postos, que encontro a minha bússola. Neste solo criei raízes. Vi a minha árvore crescer. Também vi a minha árvore adoecer. Vi a minha árvore lutar e a ficar mais forte a cada batalha. Cuidei dela algumas vezes. Podei os ramos enfermos. Os fracos e os feios. Deixei que o vento lhe moldasse a forma e que a água enviada de cima, lhe saciasse a sede.

Não é perfeita a minha árvore, mas é o meu fruto, com sabor a sonhos.Tem um travo a aprendizagens, a encontros, a esperanças renovadas após cada Inverno. O fruto da minha árvore sabe a Amor.
Custa-me deixá-la e partir. Ela sou eu. E não estou ainda pronta para me abandonar. Ainda penso muito em mim. Ainda tenho o sol a gravitar ao meu redor. Tudo começa e acaba no que sou e no que quero ser. Por isso não posso ainda dar-te a mão e ir em verdadeira liberdade.
Sofro ainda muito com o egoísmo dos que se vivem em si e por si. A pele ainda se arrepia a cada palavra feroz, aos gestos ásperos, à indiferença. O sangue ainda pulsa forte nas veias a cada não sem sentido. Ao fechar de olhos às lágrimas alheias. À surdez da dor do outro. Aos casulos que nunca mais eclodem…
Ainda me envergonho por também ser assim egoísta. Quando formos, as minhas palavras já não podem ser azedas nem as minhas mãos crespas ou o coração adormecido. Os meus olhos estarão sempre abertos e os meus ouvidos sempre à escuta. Seremos duas borboletas…a olhar para o que outrora foi a nossa casa.


Deixa-me arrancar as raízes. Deixa-me aprender acerca da tolerância. Deixa-me compreender que não há bosque. Deixa-me ver AQUI a planície sem fim de onde viemos e para onde vamos.

Só então poderei ir sem precisar de partir.

Só depois de salva poderei salvar...

IdoMind

About leaving without packing

maio 11, 2009

Loucuras


Ligaram-me. Não atendi. No dia seguinte, pela manhã, retribui a chamada.

Onde andavas àquela hora? Pensei que depois de saíres daqui tinhas ido para casa” – perguntou a minha melhor amiga com quem tinha estado na noite anterior até bastante tarde.
“E vim. Mas atrasei-me um pouco nas portagens.”- respondi eu.
“Problemas?”- indagou
“Não. Estive a beber chá e a conversar um bocadinho.” – esclareci.
? Não percebi.” – exclamou ela, julgando, tenho a certeza, que tinha perdido algum bocado da conversa devido a deficiências de rede.
“Como era tarde a senhora da portagem convidou-me a entrar e a beber um chá com ela.” – elucidei de imediato.
“Mas onde?” Perguntou a minha melhor amiga depois de um pequeno, mas muito significativo silêncio. Continuava a julgar que a rede estava péssima, aposto.
“Já te disse, na portagem.”
“Na portagem?!! Mas na portagem como? Dentro do cubículo?
Siiiimmm. “
“Mas…mas…”
“Então, como passo ali todos os dias a senhora pediu-me para entrar e falar um bocadinho porque o turno da noite é mais lento, custa mais a passar. Estacionei o carro no parque da portagem e entrei.”
Do outro lado, no meio de gargalhadas surpreendidas, a minha melhor amiga soltou em tom de desabafo:
“Só tu, só mesmo tu”. – e continuava a rir que nem doida.
Já não me atrevi a dizer-lhe que também troco CDs de música e alguns livros com outros colegas da senhora da portagem.


Este chá na portagem às 2horas da madrugada começou a ser preparado muito tempo antes, no dia em que acordei diferente dos outros dias, mais louca. Num dia em que me apeteceu ser alguém que voa.


Desconheço se por responsabilidade de alguma conjuntura planetária esquisita ou se devido a algum processo hormonal estranho a ocorrer dentro de mim, o facto é que me levantei disposta a fazer coisas que não faria habitualmente. Talvez tenha sido o cansaço de tantos dias baços, a fazer-me ansiar por brilho. Não sei. Sei que de repente a vida pareceu mais pequena para toda a grandeza dentro de mim. Era preciso ampliá-la.

Habitualmente sou (era) reservada. Naquele dia abri as cancelas do meu ser e convidei todos a entrar. Mostrei-lhes o meu relvado verde e fofo, a minha casa simpática e acolhedora, onde seriam sempre bem vindos para comer daqueles biscoitos que estavam no forno e cujo aroma perfumava o ar de boa disposição.


No ínicio fui fazendo estes convites a medo, até que percebi que todos nos receamos uns aos outros. Não era a única medrosa. Estamos geralmente à espera que nos façam mal. Que traiam a nossa confiança. Que se riam de nós. Que falem nas nossa costas. Que nos magoem. Que não nos respeitem. Que não nos entendam. No fundo, temos medo que não gostem de nós.
Então, e como disse o protagonista de um filme que vi recentemente, para não sermos rejeitados, rejeitamos logo à partida. E é assim que vivemos e coabitamos hermeticamente fechados em pequenas embalagens de vidro. Cada um na sua.

Eu vi-me livre da minha desde aquele dia esquisito. As primeiras inspirações no ambiente inóspito e imprevisível cá de fora, foram difíceis. Tive de me concentrar para respirar fundo e adaptar-me. Mas logo os meus pulmões se habituaram à qualidade inigualável deste ar partilhado por todos.


O meu primeiro acto de loucura: falar aberta, simpática e amorosamente com quem se cruzar comigo. A mim valeu-me um chá na portagem.

Acham que fazem melhor?

IdoMind


about all the sweetness inside...

maio 10, 2009

No mundo da fantasia

Não me peçam para sonhar. Conheço-me. Num instante fico perdida na construção de um mundo novo, habitado por um novo Homem.
Vou falar-vos do meu novo Homem.

Tem o coração na cabeça, um cérebro no coração e uma fragrância suave a mel sai dos seus lábios quando fala.
Das suas mãos há sempre uma flor pronta a ser oferecida porque este homem consegue fazer nascer beleza só de pensar nas coisas belas. É um pouco mágico o novo Homem.
Também é pintor. O novo Homem é quem desenha as suas próprias paisagens e todas as suas criações ganham vida assim que as pinta. É por isso com muita alegria que o novo Homem usa os seus pincéis e põe ao serviço dos outros novos Homens o seu talento.


O novo Homem sabe que ninguém tem de ser melhor que alguém porque todos são apenas uma tonalidade da mesma cor no quadro gigante que juntos estão a pintar. Não se discute o tom, a espessura da pincelada ou os desenhos dos outros criadores. O novo Homem respeita a criação do outro. A obra-prima é de todos, com todos e por todos.

Agora embrenhada no meu mundo de sonho vejo que aqui tudo brilha de tanta transparência. O Homem novo não tem pele. Nada há do que se proteger. Nada há a esconder. Não precisa desse revestimento porque são lindas as suas entranhas e devem ser mostradas.
Se está feliz podemos ver o seu coração bater muito forte. Se está triste fica mais lento. E diante da míuda dos seus sonhos, do primeiro filho e daquele encontro há tanto esperado, o estômago aperta. Sabemos sempre o que novo Homem sente. O novo Homem não engana o outro. Como não há mentira, tudo é verdade. E o novo Homem caminha sem fardos.



O novo Homem sabe o que é importante. Não trabalha por isso quinze horas por dia e dedica alguns, escassos e cansados, minutos às pessoas que ama. O novo Homem vive cada momento como a bênção única que é. Por isto, o novo Homem não conhece o arrependimento.

O novo Homem é livre e mantém-se em liberdade. Não cria laços de escravidão com aquilo que possui. Basta-lhe o suficiente e por isso nunca, nada lhe falta. Por não viver em função do que tem, o novo Homem dorme tranquilamente, come com satisfação e vive contente consigo.

O novo Homem dá liberdade ao outro, não possuindo ninguém. Cada um é o único dono de si mesmo e responsável por se construir. O novo Homem ajuda nessa construção mas respeita o projecto individual do seu semelhante. Este respeito impede a mágoa e o ressentimento. O novo Homem ama o seu próximo e por isso o liberta.

E se vissem os olhos do novo Homem… Grandes, riem-se para nós. Apenas conseguem ver a perfeição. Há pedaços de sol nos olhos do novo Homem e por isso vêem luz em tudo e em todos.

Que pena sermos apenas homens. E já velhos…
IdoMind

About the world I paint...

maio 06, 2009

Depois do Passeio

Advertência
O que se segue é o resultado de um teste publicado no post anterior “Vamos a um passeio”. Quem não fez o teste e gostaria de o fazer, talvez seja melhor ler este post depois…

Depois do Passeio

Conforme combinado, vou plantar o resultado do teste “ Vamos a um Passeio”.
Antes disso, as respostas desta jardineira foram as seguintes:

  1. A minha floresta está repleta de árvores centenárias. Muito fortes.Muito seguras de si.Viveram tanto que entendem. Estão tranquilas. Sinto sabedoria na minha floresta e sei que estou protegida.
  2. Apanhei imediatamente a chave e levei-a na mão. Porquê? Porque achei que todas as chaves são sempre precisas...revelam-nos coisas para lá das portas.
  3. O muro que apareceu não tinha mais que uns escassos centímetros. Cerca de duas fieiras de pedras rústicas, daquelas que ainda hoje em dia vemos a dividir os terrenos em certas aldeias. Bastou-me levantar um pouco a perna, dar um passo e passei muito facilmente o muro. Olhei depois para trás e pensei “ Que pena terem construído isto aqui, não se enquadra nada neste sítio”.
  4. A casa que me apareceu era simples. Não que fosse modesta ou pobre, mas prática, sem grandes adornos ou detalhes meramente estéticos ou decorativos. Simples nesse sentido. Todas as divisões tinham tudo o que era necessário, nem mais, nem menos. Uma casa para morar com conforto sem excessos. Senti-me bem na casa, mas não era minha.Não era para ficar. Parti.
  5. O meu lago….ui…era algo saído de um conto fabuloso qualquer. Meio místico, meio secreto. Havia nele uma atracção misteriosa. As águas não eram nem quentes, nem frias. Tépidas, temperadas. Não mergulhei porque o meu lago não tinha fundo. Eu sabia que a sua profundidade era tanta que o lago não tinha fim, então não entrei.

Agora aqui vai o significado de cada símbolo utilizado para aceder os recantos da nossa mente:
A floresta – simboliza a forma como estamos e nos sentimos na nossa vida neste momento.
A chave – simboliza a forma como vemos a amizade.
O muro – simboliza a forma como vemos e ultrapassamos os problemas que surgem.
A casa – simboliza a forma como vemos e nos relacionamos com a nossa família mais directa.
The best for last…
O lago – simboliza a forma como vemos e nos comportamos ao nível sexual.

Que tal? Eu adorei este passeio. Divertido e revelador, inspirou-me a poderar sobre as respostas dadas. Confesso que fiquei surpreendida com a incisão dos resultados. Foi nos detalhes que me revi e acredito que cada um imaginou e imaginará os cenários de forma totalmente diferente, também enriquecidos dos pormenores que faz de nós singulares.
Uma pequena nota, não fiquem assustados se responderam que montaram uma tenda na beira do lago e passavam o dia dentro de água. Conheço um médico, que dizem, é excelente….

IdoMind

maio 04, 2009

Vamos a um passeio...?

Venham até aqui, ao meu jardim. Não vai demorar nada. Aproveitem para tirar os sapatos por um bocadinho. Sentem-se ou deitem-se onde quiserem. Vamos fazer um teste?
Foi um amigo quem me ensinou este teste e achei-o tão revelador que simplesmente tenho de o semear partilhando-o convosco. Escrevam, se quiserem, as vossas respostas para se lembrarem melhor na altura de ver os resultados e para nos rirmos todos uns com os outros.
Tudo o que é preciso é boa vontade e descontracção. Ah! E a imagem que vale é a primeira que aparecer, não vale forjar…
Vamos lá então regadores:

1. Imaginem-se de repente numa floresta.
Como é a vossa floresta?
Tem muitas árvores, poucas, grandes, pequenas, de uma espécie ou de várias espécies? Conseguem ver o céu?
Vejam os detalhes da vossa floresta e como se sentem lá.
Já está?

Vamos então caminhar um pouco. Seguem em frente por um caminho que aparece e andam por algum tempo até que,


2. Encontram uma chave
O que fazem?
O que fizeram com o chave? Porquê? Porquê é que fizeram isso com a chave?

Retomam agora o vosso caminho e andam cerca de quinze minutos tranquilos e sem grandes preocupações na mente, até que à vossa frente,


3. Surge um muro
Como é o muro? Alto, baixo? De que material é feito? Observem o muro e registem as suas características.
Conseguem passar o muro? Como é que o fazem?


Continuam a caminhada. Voltam a andar por um bom bocado até que lá à frente começam a avistar uma casa. Aproximam-se.


4. Como é a casa?
Entram nela? Se sim, como é o interior da casa? Como e que se sentem em relação a essa casa?
Esperem aí um pouco e sintam a vossa reacção face à casa.
Ficam na casa?

Vão agora explorar o terreno à volta. Sobem uns montes e depois de uma pequena colina,



5. Aparece um lago.
Como é o lago? Como são as águas? E a temperatura? Alguma coisa de especial em relação ao lago?
Mergulham? Porquê?
Como se sentem?

Acabou o teste. Obrigada pelo passeio.
Amanhã, pelas 8horas da manhã, vou publicar os resultados para que cada um analise as suas respostas.
As minhas foram…surpreendentes. E também as vou pubicar. Espero que apreciem tanto quanto eu esta pequena viagem ao nosso interior.
Até amanhã. Às 8h.

IdoMind
about enjoying the ride...
Olá a todos,
A pedido da Shin_Tau e também para dar mais tempo a todos os regadores, informo que o resultado do teste será publicado no dia 06/05/2009 pelas 8h da manhã.Parece que amanhã a festa é no Grimoire....
Um abraço a todos e conto com a vossa compreensão.
IdoMind
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