Quando foi que se tornou tão complicado fazer amor? Deitarmo-nos com alguém só porque é bom sentir outra pele. Outro coração a bater no nosso peito. Entoar a dois a música que cresce entre um carinho e uma palavra.
Quando foi que misturámos tudo? A vontade com manipulação. O prazer com culpa. O desejo com controlo. Como se a maior força em nós fosse controlável. Mais fácil seria domar uma tempestade.
De onde veio a necessidade que tornar feio o Belo?
Dois corpos com duas almas a celebrar a Criação. É vida que damos e vida que recebemos com a Entrega. Mas levámos o tempo para a cama e só é verdadeiro o que dura. O que sobrevive a uma noite. A mais que dois ou três telefonemas.
Esta nossa incapacidade de aceitar que o eterno não se congela num momento. Numa pessoa. Num sentimento…Tiremos deles o que tivermos de tirar. E demos tudo o que tivermos para dar. Este é o segredo. Eternizar cada momento naquele momento. Não haverá qualquer outro igual. É só vivê-lo porque a existência não se repete. Nada podemos perpetuar além dos sorrisos deixados nos arquivos da nossa história. A transformação é uma graça. Negá-la é dizer não a nós mesmos. É ficar sempre do mesmo tamanho. Muitas vezes, perder o que é Nosso para manter o que não Nos pertence. Nos lençóis faz-se, então, um campo de batalha.
Preparamos as nossas armas. Antevemos os movimentos do adversário. Planeamos tantas estratégias. Munimo-nos de toda a informação possível que achamos que nos possa a ajudar nesta guerra, como todas, sem sentido.
O sexo tornou-se um jogo. Perigoso. Doloroso. E o divino foi manchado pela nossa humanidade insegura e pequena. Ficou tudo mais cansativo. O antes e o depois. Muitos antes não chegam sequer a ser por causa dos depois que ainda não são. Entrar e sair de um quarto é hoje um trajecto arriscado. Não basta querer ir. Estar. Não. Há regras. Implacáveis. Podemos ficar o resto dos dias a pagar o preço por sermos homens e mulheres com fome do Invisível. De tocar a Essência de todas as coisas, no momento único em que os portões se abrem e a Perfeição se revela.
O sexo foi acorrentado a uma morada. Como Deus a uma religião. Porque temos de ser únicos. Especiais. É por isso que reduzimos sempre o que mais amamos. À exacta medida dos nossos braços. Confinado às fronteiras que tanto lutamos depois para defender. Uns dias perdemos terreno. Outros avançamos uns metros. A vida passa. Uma discussão, outra mentira, aquele grito que causa aquela lágrima. O brilho vai-se apagando…
O Amor é rebelde à exclusividade. O Amor também está no sexo. Mesmo naquele que não partilha as mesmas contas. Basta querer.
IdoMind
About Heavenly Things