abril 21, 2011

Foram as vozes...

Reedito hoje um texto que me saiu lá das profundezas quando o escrevi.
Os tempos negros de então, deram lugar a maior claridade. Sei hoje que assim é. Sempre. Tudo se sucede, permanentemente. Ou nas sábias palavras da minha querida avó Bernardete " Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe."
Porque estamos na época certa, aí vai.
A todos uma Santa Páscoa.


Fui homem como tu. Sei tudo sobre os teus cansaços. Senti o peso da pele que se oferece aos rigores da Terra. A mesma pele que recebe a carícia e a ofensa. Conheci a bondade e a intolerância. Comi com santos e falei com demónios. Lutei com os meus. Fui tentado. Tive medo. Tive tanto medo. 

A lua estava quase cheia no Olival quando pedi que fosse afastado de mim o cálice. Já lhe adivinhava o sabor…Foi de joelhos que aceitei que fosse feita a Sua vontade e não a minha, porque era homem e não lembrava que a vontade Dele é a Nossa.
Fui espada como tu. Dividi. Feri.Trouxe guerra a cada casa conforme as batalhas a travar. As prisões a derrubar. As escolhas a fazer. A Vontade Maior a cumprir.
Fiz a minha Mãe chorar…

Eu ateei o fogo que queima e que limpa. Eu fui desordem.
Ensinei. Quem quis ouvir ouviu. Falei perigosamente. Livremente. O poder das palavras reside no seu uso oportuno. Necessariamente corajoso. Ideia alguma foi plantada sem as forças do vento contrário. Atirei as pedras que agitaram a placidez da ignorância. E as que deram Vida.
Fui homem como tu, no meio de outros homens como nós. Escarneceram de mim. Tantos dedos apontados. Tantos braços levantados. Só porque me atrevi a ser Eu. Porque permaneci fiel ao meu plano. Porque Me ouvi e fui até ao fim do caminho. Só porque a verdade assusta. Sendo pequenos como podemos fazer coisa grandes? Se formos só homens como podemos agir como Deuses?

Fui isto e muito mais. Este é o meu testemunho. Tudo faz parte. Aceita quem és e para onde vais. Decide quem queres ser e para onde irás a seguir. Escolhe. Tranquilamente. Amorosamente. Tudo faz parte. Tecer a coroa de espinhos e usá-la.
Olha para o Alto, de onde vens, sempre que a noite estiver demasiado escura para ver os sinais. Fala comigo quando olhares ao teu redor e te achares sozinho. Escuta-me à hora do almoço naquele banco virado para a praia dos pescadores. Eu não páro de existir porque não acreditas em mim mas só o saberás quando o quiseres saber.
Reconhece-me em todas as faces… e verás.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. E fui só um homem. Como tu.
Se tens ouvidos, ouve…

IdoMind
About The Exemple

abril 08, 2011

"Deslarga"


Queres manter o quê afinal? O conforto pequenininho de uma vida assim-assim ou a imagem no espelho da casa-de-banho que penteias para o mundo. O que merece afinal esse esforço todo para manter? Esse amassar do coração todo. Esse sacrifício todo. Esse desespero íntimo todo. Esse medo todo. Dependes. Delegaste a responsabilidade de ser feliz em mãos alheias. Aceita então as bofetadas.
E aceita que podem acabar no instante em que decidires que queres que acabem.
O meu instante foi numa fila de trânsito. Encostei assim que pude e estive muito tempo a chorar sentada na relva de um jardim. Tudo ficou tão claro. Como se houvessem dois Sois a iluminar a Terra. Estava mesmo cansada… De não ter orgulho de mim. De exigir o inexigível. De falar estrangeiro e de ser estrangeira. Da incapacidade de corresponder. Da culpa.Tanta culpa.
Cansada de esperar.

Mas esperar o quê? Era ao contrário: estava tudo à minha espera. Está sempre tudo à minha espera. Que eu vá. Simplesmente vá. De preferência sem malas. Fazer o que me apetece. O que considero correcto ou aquilo que combinar melhor com aquela que a minha pele abriga. De seguir o meu grilo. Ser quem me traz paz e sonos tranquilos. Que eu ria. E que eu abrace por amor, amizade ou porque compreendo que é difícil ser Homem. Que diga sim ao compromisso de tratar da minha parte com o máximo respeito por mim. E, inevitavelmente, com o máximo respeito por todos.

Está tudo à espera que eu seja o exemplo. E para isso é necessário que eu seja livre...

Que tire do bolso as chaves das celas do estabelecimento prisional chamado “EU”. Que o faça voluntariamente. Antes do motim. Antes que a revolta instaure a Justiça, com uma zanga, que a honestidade escusaria. Que eu entregue as chaves antes que me sejam arrancadas. À força e no momento menos esperado.
Se eu conseguisse dizer-te no que acredito, começavas hoje a ser livre. Perguntavas-te se isso de que precisas é a causa da tua felicidade. Ou da tua infelicidade... 

Talvez concordasses comigo e te livrasses, agora, do que cumpriu o seu papel e está fora de prazo. A personalidade caduca que já só te traz dissabores em vez de sorrisos. O casamento morto sem a certidão de óbito emitida. O trabalho frustrante que te dá dinheiro para comprimidos. Ou cursos de pintura…Esses objectos todos que ocupam o TEU espaço e o tempo dos teus filhos. Da tua mulher, namorada ou da tua vizinha de cima gira como tudo. Do passeio junto ao rio enquanto o sol de põe e percebes como és abençoado.

É isso que queres manter? As chaves? Continuar cativo dentro de ti aprisionando também o resto? Ficar pelo mais ou menos. Oferecer o mais ou menos. É um direito que te assiste. Mas exerce-o pelo menos com rectidão e não reclames na hora de receber, porque a vida só existe devido ao justo equilíbrio de todas as coisas.
Eu escolho assumir o dever de ir. De largar. De desamarrar a alma dos pesos que a mantêm retida na mediocridade e procurar o Melhor. O Excelente. O que tem o meu nome escrito...
Conferindo também ao Outro essa sagrada possibilidade.
IdoMind
About making the necessary changes

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