março 29, 2010

Foram as vozes...


Fui homem como tu. Sei tudo sobre os teus cansaços. Senti o peso da pele que se oferece aos rigores da Terra. A mesma pele que recebe a carícia e a ofensa. Conheci a bondade e a intolerância. Comi com santos e falei com demónios. Lutei com os meus. Fui tentado. Tive medo. Tive tanto medo.
A lua estava quase cheia no Olival quando pedi que fosse afastado de mim o cálice. Já lhe adivinhava o sabor…Foi de joelhos que aceitei que fosse feita a Sua vontade e não a minha, porque era homem e não lembrava que a vontade Dele é a Nossa.

Fui espada como tu. Dividi. Feri.Trouxe guerra a cada casa conforme as batalhas a travar. As prisões a derrubar. As escolhas a fazer. A Vontade Maior a cumprir.
Fiz a minha Mãe chorar…

Eu ateei o fogo que queima e que limpa. Eu fui desordem.
Ensinei. Quem quis ouvir ouviu. Falei perigosamente. Livremente. O poder das palavras reside no seu uso oportuno. Necessariamente corajoso. Ideia alguma foi plantada sem as forças do vento contrário. Atirei as pedras que agitaram a placidez da ignorância. E as que deram Vida.
Fui homem como tu, no meio de outros homens como nós. Escarneceram de mim. Tantos dedos apontados. Tantos braços levantados. Só porque me atrevi a ser Eu. Porque permaneci fiel ao meu plano. Porque Me ouvi e fui até ao fim do caminho. Só porque a verdade assusta. Sendo pequenos como podemos fazer coisa grandes? Se formos só homens como podemos agir como Deuses?

Fui isto e muito mais. Este é o meu testemunho. Tudo faz parte. Aceita quem és e para onde vais. Decide quem queres ser e para onde irás a seguir. Escolhe. Tranquilamente. Amorosamente. Tudo faz parte. Tecer a coroa de espinhos e usá-la.
Olha para o Alto, de onde vens, sempre que a noite estiver demasiado escura para ver os sinais. Fala comigo quando olhares ao teu redor e te achares sozinho. Escuta-me à hora do almoço naquele banco virado para a praia dos pescadores. Eu não páro de existir porque não acreditas em mim mas só o saberás quando o quiseres saber.
Reconhece-me em todas as faces… e verás.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. E fui só um homem. Como tu.
Se tens ouvidos, ouve…

IdoMind
About The Exemple

março 26, 2010

"Está difícil fingir que está fácil"

Esqueci-me de onde vim. Do meu propósito. Dos que comigo aqui vieram para relembrar. Esqueci-me dos empurrões que combinei. Dos corações partidos que agendei. E daquelas palavras difíceis, tão duras de ouvir, que escrevi e dei a decorar. As lágrimas, grossas, que me aproximam da compreensão dos meus defeitos. Dos sonhos que julgo que são meus. E que afinal vêm de outro lugar. Daquele poço no meio do estômago onde o ego e o anjo se encontram à espera da digestão.

Sinto o corpo dorido das brincadeiras que planeei contigo, sentados lá, no nosso sítio na eternidade. Não me lembro quantos pontos valem as decepções. Quantas casas avançamos por cada “desculpa” que não dissermos. Para que nível passamos se conseguirmos travar a tempo aquele beijo. Se vence quem sofrer mais. Quem se camuflar mais. Quem for forte até fim e resistir à força maior que parece trazer-nos uma e outra vez ao Encontro. Não sei se é mesmo assim que deve ser, aguentar de pé amparados pelo orgulho, solitário, de não dar o braço a torcer. Não me lembro. E levo-nos a sério… E dói a sério. Como se fosse possível estar separada de ti.

Devem os meus braços estender-se mais uma vez, apalpando às escuras a tua presença ausente? É tão alto o teu castelo. E como são imponentes as minhas muralhas. Sei que estamos exaustos do Combate. Das perdas que ainda cá estão, por detrás dos gestos pensados. Dos passos cautelosos e lentos de adultos e bons alunos. Caem muito as crianças. Mas depressa voltam a correr como imortais.


Achas que podemos reinventar as regras?
Achas que podemos começar de novo? Todos os dias. Todos os minutos. Estabelecer uma nova meta chamada " Nós".

Podíamos começar assim: antes de qualquer jogada, sentarmo-nos uns instantes, três segundos que sejam já serão suficientes expirar a poluição alojada nos pulmões. Que nos contamina e adoece a alma. Inspirar então de olhos fechados percebendo que no relógio da existência temos a duração de uma borboleta. E o mesmo processo de transformação.
Obrigado por todos os rasgos que desferiste no meu casulo.
Fico a dever-te as minhas asas…
Obrigado por também te esqueceres que tu és eu a tentar chegar a casa. E eu sou tu a tentar lembrar-me do caminho.
Tu e eu… nos intervalos da verdade a brincar aos faz de conta.
Tu e eu a achar que isso existe para nos descobrirmos o mesmo sopro de Deus. O mesmo sangue. A mesma carne. A mesma alma. O mesmo destino - AMAR.

Em nome do amor vou fazer por me lembrar o quanto te amo.Todos os dias.Todos os minutos.Agora.De novo...
IdoMind

about doing it better

março 22, 2010

O Jardim Acorda

Este Inverno foi o mais longo dos Invernos.Trouxe um frio que não conhecia e nada me aqueceu. Assim fiquei, encolhida sobre mim, para que o pouco calor não se perdesse e eu, por fim, esquecesse acerca do mundo que é redondo e dá a cada coisa o seu tempo. Mesmo os Invernos longos não são eternos.

Numa destas manhãs, pareceu-me ouvir um apelo imperceptível que vinha lá de fora. A medo fui-me trazendo até à entrada do ninho onde aninhada aguardei a chegada da que sei que sou. Era a força da vida que cantava, anunciando a promessa dos começos que quisermos começar. Era a força da vida a renovar as minhas forças. Cantavam os pássaros, as árvores e até o mar bradava com a alegria de quem sabe que também a sua solidão estava a acabar. A nostalgia das praias desertas em breve partirá.

Era Primavera. Era isso que estava a acontecer. A despedida das trevas expulsas pela luz. Mais uma vez…

Tive vontade de chorar. Pelo que passou e doeu tanto. Pelo que ainda não passou e continua a doer. Pelas feridas novas que vou arranjar enquanto conduzo o Carro Sagrado. Estou parada com um pé na caverna e o outro no relvado cada vez mais verde. O Sol, ainda príncipe, manda-me tirar a roupa que abafa o brilho. E convida-me ao trabalho. É tempo de plantar. De perder as mãos na Terra semeando em solo rico as sementes do meu amanhã.. É tempo de fazer. De refazer. De desfazer. É tempo de acordar. Sacudir o que foi e preparar o que vai ser.

Sou a jardineira do meu jardim. Esta é a missão. Cuidar do meu pedaço de existência. Como puder. Com o que tiver. Guiada pela sabedoria de todas as outras colheitas. Dos dias de sol e dos dias de chuva, que me levaram a crescer. Dos muitos dias assim assim em que tive de escolher. Das Primaveras que não compreendi senão no Inverno seguinte.
Plante eu com humildade para aceitar que o meu jardim não é o melhor. O maior. O mais bonito. É só um pingo de cor, uma gota de orvalho, a quietude perfeita de uma manhã no cenário infinito da criação. E é lindo, assim humilde, cumprindo a sua parte no Desenho Divino.

Aguarde eu com Fé, os frutos que ainda batalham no ventre da Mãe rumo ao Céu. Não me deixe esta certeza no final feliz. Ainda que não o esperado. Todas as flores são bonitas se nelas procurarmos a sua beleza. E se me perfumarem o caminho, ainda que preferisse rosas, vou agradecer aos malmequeres.

Haja Amor no meu jardim. Na jardineira que dele trata. Nos que por nós passam. Nos que param. Nos corações que namoram com os actos. E com os pensamentos. Reconheça eu o Amor de que tudo é feito e viva assim em Amor comigo e contigo.

IdoMind
About my garden

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...