julho 29, 2009

A puxar ao sentimento

"Numa aldeia vietnamita, um orfanato dirigido por um grupo de missionários foi atingido por um bombardeamento. Os missionários e duas crianças tiveram morte imediata e as restantes ficaram gravemente feridas. Entre elas, uma menina de oito anos, considerada em pior estado. Era necessário chamar ajuda por um rádio e, ao fim de algum tempo, um médico e uma enfermeira da Marinha dos EUA chegaram ao local.
Teriam que agir rapidamente, senão a menina morreria, devido aos traumatismos e à perda de sangue. Era urgente fazer uma transfusão, mas como?

Reuniram as crianças e, entre gesticulações, arranhadas no idioma, tentavam explicar o que se estava a passar e que precisariam de um voluntário para doar sangue. Depois de um silêncio sepulcral, viu-se um braço magrinho levantar-se timidamente. Era um menino chamado Heng.

Ele foi preparado às pressas, ao lado da menina agonizante, e espetaram-lhe uma agulha na veia. Ele mantinha-se quietinho e com o olhar fixo no tecto. Passado algum momento, deixou escapar um soluço e tapou o rosto com a mão que estava livre. O médico perguntou-lhe se estava a doer, e ele disse que não, mas não demorou muito a soluçar de novo, contendo as lágrimas. O médico ficou preocupado e voltou-lhe a perguntar e novamente o menino negou. Os soluços ocasionais deram lugar a um choro silencioso, mas ininterrupto. Era evidente que alguma coisa estava errada.

Foi então que apareceu uma enfermeira vietnamita de outra aldeia. O médico pediu-lhe que ela procurasse saber o que se estava a passar com Heng. Com voz meiga e doce, a enfermeira foi conversando com ele e explicando-lhe algumas coisas. E o rostinho do menino foi se aliviando. Minutos depois ele estava novamente tranquilo.

A enfermeira então explicou aos americanos:
- Ele pensou que ia morrer, não tinha entendido o que vocês lhe disseram e pensava que iria dar todo o seu sangue para a menina não morrer.
O médico aproximou-se dele e, com a ajuda da enfermeira, perguntou:
- Mas, se era assim, porque se ofereceu para dar sangue?

E o menino respondeu, simplesmente:
- Porque ela é minha amiga..."

Li este relato há alguns anos atrás, não me lembro onde, e tocou-me de tal modo que o guardei.

Nestes tempos em que o egóismo dança descontrolado em tantos corações, dando voz a afirmações perigosas como " já não há amigos, tenho é muitos conhecidos", "não podemos confiar em ninguém, temos de contar é connosco" " primeiro eu, depois eu, a seguir eu e então..." e outras similires que vão abrindo a fossa, cada vez maior, entre nós e os outros, apeteceu-me partilhar a pureza do doce Heng.

Sinto-me menos pequena cada vez que leio esta história porque vivo num sítio onde há quem dê todo o seu sangue para que um amigo viva.

O relato dizia ser verídico.

Resta-me acrescentar:
Quando conseguirmos dar todo o nosso sangue por alguém,

Quando conseguirmos, apesar da dor, manter o braço esticado,

Quando conseguirmos nos rostos do mundo ver o nosso amigo,

Quando finalmente nos lembrarmos que nós somos todos


Virá a paz...

IdoMind

about all the gardeners aroud the world












julho 28, 2009

Manas Catita contra o Apocalipse!

A vontade de trabalhar era pouca. Não podemos esquecer que era segunda-feira (um dia escrevo sobre este dia da semana e porque é tão mal amado).
Facto é que a telha com que tenho andado, atingiu o seu expoente máximo e era quase um telhado. Liguei à mana…que está de férias.
Poucos minutos depois estava a desligar o computador e a caminho de uma tarde, que eu ainda não sabia, mas que suspeitava, seria de loucura.
Almoço, vinho, boa conversa, desconversa, mais vinho e pelas 15 horas já estávamos a duas a rebolar no chão a rir. Literalmente. Não sob o efeito do álcool (bom, talvez um pouco), mas porque quando as nossas energias se encontram é sempre uma grande festa.

Uma vez que no leque das coisas normais da vida, como o companheiro, a casa e o emprego, também os blogs passaram a ocupar uma fatia importante da nossa rotina diária, trocámos impressões sobre os temas que têm andado em discussão, um ou outro comentário, as nossas próprias opiniões e chegámos até a algumas conclusões pertinentes.

Dizia-me a Shin que a Internet está a ser bombardeada com artigos sobre o fim do mundo, o profetizado 2012 que se aproxima a passos largos trazendo o anúncio da morte de muitos e talvez mesmo no nosso planeta azul.
Não sei o que acontecerá e se acontecerá algum tipo de evento catastrófico à escala global na referida data. E sinceramente, não me interessa. Não tenho um vaivém para fugir para um dos anéis de Saturno. A banca não me dá crédito para a construção de um bunker. Na minha casa não há espaço para latas de atum e água engarrafada em quantidades industriais. E não sei se queria ficar sozinha num planeta destruído e despovoado. Não posso fugir. Resta-me, portanto, viver. E viver bem, já que vou morrer dentro de 3 anos…

Constato, mais uma vez, que não passamos de teóricos. À semelhança da beata católica que põe o pé fora da igreja e já está a chamar nomes à vizinha do 2.º esquerdo, também quem se dedica à espiritualidade, na hora da verdade, quando chamados a acreditar e a colocar em prática o conhecimento legado de todos os Mestres, esquecem quem são e de onde vieram.
Conscientes do nosso poder criador, cedemos a visões apocalípticas, enchemos o nosso coração de pânico e alimentamos o medo plantado por alguns homens ( sim eram só homens) e perpetuados por outros até hoje.
Não sabemos nós nada acerca do subconsciente colectivo? Não sabemos nós que somos o que pensamos? Estarei errada em pensar que podemos mudar o curso dos acontecimentos se fizermos um esforço nesse sentido. O passado em que se escravizavam seres humanos, diz-me que sim. O presente, em que milhares ainda morrem à fome, diz-me há trabalho a fazer. As mudanças colectivas têm sido paulatinas mas uma constante.E acontecem quando nos juntamos e queremos melhor, diferente.
Se todos pensarmos que o mundo vai acabar, então o mundo vai mesmo acabar porque é essa a realidade que estamos a criar.
Não é assim que funciona? Andarei eu a ver tudo ao contrário e afinal estamos aqui por acaso ou ao gosto de alguma coisa perversa que nos despejou neste calhau para brincar connosco e faz de nós o que quer, quando quer? Talvez seja assim.
Não é no que acredito.
Que importa se há uma Nova Jerusalém? Temos uma Casa linda, com vista para muitos oceanos e mares, pintada de verde, pulsante de vida. Dá-nos tudo o que precisamos.
Porque não cuidar dela ao invés de inventarmos outra, que inevitavelmente também vamos destruir porque será sempre mais fácil que manter.

O positivo disto tudo? Acreditando que já um novo planeta à nossa espera, estamos a criá-lo e a tal Nova Jerusalém leva mais um tijolo a cada artigo, a cada pensamento, a cada bocado de fé na sua existência.
Vou ter saudades da Terra. Deixo-lhe aqui os meus agradecimentos pelo tecto de estrelas que me deu e as minhas desculpas por ser tão lenta a aprender acerca do cuidado diário com tudo aquilo que nos cerca.
A loucura? Somos nós a desperdiçar a vida que pode ser.
As manas comprometeram-se a cada instante, em cada pessoa, a promover a esperança, a alegria, o amor… talvez os 3 anos que restam passem a 4 ou a 5…quem sabe?
IdoMind
about what I can do

julho 27, 2009

Causas, efeitos e defeitos


Não me sinto uma folha e sei que a vida não é o vento que me empurra ao acaso.
Não vou cair naquele lugar onde o seu sopro deixa de ter alcance. E também não vou permanecer lá caída até que a direcção mude e uma brisa ou uma ventania venham de novo, erguendo-me do chão.

Não me sinto uma boneca emaranhada em cordéis, manobrada e comandada por mãos que não as minhas próprias. Os meus risos e os meus choros encontro-os na volta dos meus gestos. Das minhas palavras. Das minhas omissões.

O sol e a chuva dos meus dias revezam-se ao ritmo dos meus tempos. Daquele em que agradeço, comovida, por ser parte. O tempo em que sou mais pequena. Em que me encolho sobre mim e volto à posição fetal. A cabeça dobrada atrás de um par de braços cruzados, aguardando o inevitável nascimento. E vem o medo. Do que está lá fora. O medo de não conseguir. O medo de esquecer o caminho para casa. O medo de nunca, verdadeiramente, nascer.

Estes são os tempos em que me convenço que sou um pirilampo sozinho numa noite escura. Mantendo a minha luz apagada porque quem sabe o que pode ela iluminar ou revelar.

O medo mais uma vez. E lá vou esvoaçando, como acho que posso, tropeçando nas árvores e magoando as asas. Frágil e às cegas, lá vou eu sozinha, negando a claridade. A mim e ao que no escuro caminha igualmente aos tropeços porque eu não cumpro a minha tarefa. Que é simples. É só acender a lâmpada.

Eu sou o que quero ser. Eu vou para onde quero ir. Chego como quero chegar. Com quem quiser vir comigo. Eu sou as paragens. Eu sou a dor nas pernas e o desalento escondido nas subidas íngremes. Eu sou as decepções.
Eu sou o recomeçar. Eu sou os mil despertares depois de cada parto difícil. Eu sou a cria e o criador.
E é por isso que sou o beijo depois da discussão. A desculpa depois da ofensa. A carta perfumada no pára- brisas depois das palavras agrestes. O jantar de família depois do orgulho estúpido.

Eu sou o barquinho que depois da tempestade se vê navio.
Eu sou um pirilampo que se iluminou e afinal só viu AMOR…


IdoMind
about growing up

julho 17, 2009

Por dizer

Tenta fechar os olhos e sentir-me. Não me vejas. Não olhes para esta pessoa que demorei um vida a construir, porque essa não sou eu. Precisei de me armar. De reunir instrumentos para a luta que imaginei existir. Precisei de criar defesas.
Mantive o castelo limpo de adversários. E de tudo o resto também.


Fui percebendo que era um castelo triste e vazio, assombrado pelos ecos de todos que gritaram lá fora para entrar. Não era seguro abrir os portões da fortaleza. Que cavalos de Tróia poderiam estar preparados para mim? À cautela fui mantendo a porta fechada e o chão da minha casa intacto a pés alheios.

Se eu soubesse que a casa é a soma das pegadas dos que amamos e deixamos de amar. Dos que nunca vamos esquecer. É o último degrau que range e denuncia o nosso regresso tardio. É o lugar que guarda as memórias das palavras precipitadas. Das lágrimas sentidas. Da queda que deixou aquela cicatriz. Da tarde em que me rendi ao mundo e adormeci num colo.
Quero-te aqui comigo, no alpendre, a beber vinho e a falar da vida. Mas ainda não consigo receber-te. Pudera eu explicar esta fronteira invisível que demarca os limites de mim. E vivo assim em conflito comigo, desejando mas resistindo. Querendo mas negando. Amando mas afastando…
Pudera eu falar-te como escrevo, com a alma.
Tu de olhos fechados e eu de alma solta. Perceberias então que a cabeça que não repouso no teu ombro, só pensa em ti. Que o coração que não te dou, já é teu. Que está a ser difícil…
Atrás de todas as gargalhadas descontraídas, que uso para me distrair da força que me chama para ti, atrás delas, estou lá eu a pedir-te que me abraces. Rápido. Por favor. Que me abraces como se tivéssemos nascido embrulhados um no outro. E que me deixes ficar assim, embrulhada a ti, apenas por mais algum tempo. A sentir-te.

Pudera eu dizer-te todas estas coisas. Mantenho-te na ignorância do que passa dentro de mim e faço-te perder nas dúvidas e no medo. Eu sei.
Porque também tu estás a aprender a abrir portas, do teu castelo vejo apenas a torre, onde estás tu, largado, à minha procura. Ou à minha espera…
IdoMind
about you...

julho 13, 2009

" Caminhante não há Caminho..."


Porque me importa este sol que me aquece a pele.
Porque o céu inalcançável não me deixa esquecer que nada acaba nunca.
Porque a cada passo me movo nalgum sentido.
Porque apesar de tudo continuo a acordar. A respirar. Às vezes com a vontade de aspirar o mundo para dentro do peito. Outras vezes com uma dor na garganta. Mas não páro de respirar. Mesmo podendo fazê-lo. E dou mais um passo.

Porque lá à frente, tempos depois, entendo os porquês que o agora me impede de aceitar com mansidão. Porque sou teimosa e faço perguntas à vida. Porque acho que tenho direito a respostas. Porque acredito que alguém as tem e as quer partilhar. Mas aos poucos, como convém a alunos despreparados para as lições mais difíceis de compreender. Confio no professor. Acompanha-me desde a primeira vogal e sabe a exacta medida da minha força. Da minha inteligência. Da resistência das minhas pernas.

Porque cá dentro me dizem que estou a ir bem. E que posso ir muito melhor. Que tudo está aqui para me levar onde sempre quis chegar. Onde devo chegar. Onde mereço. Que pode ser mais fácil. Porque acredito que sim. Porque peço e sou ouvida.
Porque já testemunhei o maravilhoso.

Por tudo não desisto. Mesmo quando a luz custa a entrar pela janela. Quando já não apetece empunhar a espada. Ou um sorriso. Nesses dias em que não vejo o amor.
E peço, mais uma vez, que me ajudem, a segurar esta mão pronta a matar os sonhos. A por um cadeado no coração. A agir sob as ordens da razão. Só.
Que, por favor, não me deixem cair na ilusão que estou sozinha. Que abrandem as certezas que preciso de cravar à beira do caminho para me sentir menos perdida. Que o cansaço serene para que venha mais uma vez a esperança e a capacidade de sonhar.
Hoje sonho comigo a não desistir dos sonhos.

IdoMind


about keep on going...no matter what





julho 09, 2009


Um lápis, algumas flores e relva onde me sentar. Tudo o que esta jardineira precisa para trazer ao jardim as sementes que germinam todos os dias na minha cabeça.
O Jardim mudou, como espero que tenham reparado.


A mudança não foi só por fora. A Shin Tau e o Le_Mon foram jardinar para outras bandas. Tudo muito consensual. Para usar as palavras dos próprios “ O jardim está bem entregue” então... Fiquei sozinha a cuidar deste espaço verdejante. O último gesto da Shin custou-lhe várias horas à volta do novo look deste blog, que se tornou o outro lado do espelho do mundo da IdoMind.

Todas as sementes que aqui lancei não pararam de medrar em mim e para fora de mim. O Jardim mudou-me. Pode até parecer absurdo porque ainda se associa muito o conversar, o partilhar, através da Internet coisas de miúdos, de gente com carências ou com dificuldade em interagir socialmente.

Mas a verdade é que a cada post que publiquei fiquei diferente. As regas, então , foram água para a minha alma, que se foi transformando no pé de feijão do gigante.
Foi nesta brincadeira séria de dizer o que penso, o que sinto, o que sonho, que deixei de ter medo dos outros. De mim. No Jardim descobri que somos todos bonitos uns dias. Menos bonitos noutros. E que não há qualquer problema com isso. Florescemos quando aceitamos que no meio do trigo, aparecerá sempre algum joio. Que precisa de ser tratado.

A Shin, com a criação do Jardim, deu-me a foice para a mão. Como tem sido magnifica a minha ceifa...Obrigada minha irmã...
Escrever é fácil. Plantar o Jardim tem sido uma alegria. Que tenho partilhado e vou continuar a partilhar com todos, que como eu, são homens com lembranças das asas.

Sejam bem vindos ao meu Jardim, que é vosso para nele respirarmos o doce odor das flores que a vida põe à beira do nosso caminho e sob os nosso pés.


IdoMind

about me & you

julho 06, 2009

Sonho, where are you?


Esta semana tive dúvidas. Muitas. Tantas que até os sonhos duvidei que devessem ser sonhados. Foi com dificuldade que me sentei e comecei a escrever. Ainda não sei o que vai sair daqui. A alma tem andado cansada de sonhar. As dúvidas foram tão longe que tive saudades da pessoa que eu era antes de acreditar nos sonhos.
Deve ser assim com toda a gente, às vezes não se consegue sonhar.


Mas tenho um compromisso e pretendo cumpri-lo, por isso aí vai o sonho desta semana – paz.
Se estas buzinas na cabeça se silenciassem por um momento… Se o meu coração deixasse de levar socos… Se o eu que mora comigo não se magoasse tanto… teria paz.
Se não fosse tão importante ter razão. Se não fosse urgente ser amada. Se não importasse ser especial… sei que teria paz.
Se não vivesse no amanhã. Se tirasse com valentia os pés do ontem. Se acreditasse que só tenho o agora. ESTE momento único, irrepetível de criação do ser humano que sonho ser.
A paz está aqui. Neste momento em que estou sentada diante de um monitor a falar de sonhos para quem quiser ouvir.
Estará, quem sabe, mais logo na minha mesa. Na comida que vou levar à boca. Lembrar-me-ei que não terei outra refeição igual. Lembrar-me-ei também dos que não comem há muitos dias. Vou comer como quem comunga de uma coisa maior.


A paz vai estar na conversa séria que ando a adiar. Já não tenho medo. Já posso ouvir tudo. E ter paz. Já não vou perder mais tempo imaginando respostas. Construindo os cenários possíveis e os diálogos prováveis que acabam sempre comigo dorida. Isto de pensar por mim e pelos outros é extenuante.
Porque estou em paz vou simplesmente dizer o que quero. O que sonho. Como gostaria que tudo fosse. Sem guerras. Sem ansiedades. Despojada de tudo a não ser a verdadeira vontade de caminhar em paz, comigo.
Não importa ganhar. Também não é relevante perder. É o que faço durante a batalha que me define. Estarei em paz se me respeitei. Se travei todas as lutas que deviam ser travadas e se evitei todas as que nunca deviam ter começado. Se fui forte e admiti os meus fracassos. Se celebrei sem pudor as minhas vitórias. A paz está com o guerreiro fiel a si mesmo. Que usa a mesma espada com firmeza e com brandura.


A paz é o passo que estou a dar. Esta mão metida no bolso que vou estender ou não. Os olhos cobertos de açúcar. É o entendimento que contorna as rochas do outro e descobre um lago secreto, a transbordar de serenidade. É a paciência.
Às vezes também temos de aprender a navegarmo-nos. Dobrar os cabos escarpados que a vida nos foi esculpindo. Ou deixar que alguém se lace aos nossos mares e parta à descoberta do nosso lago secreto, tão sereno.... À espera de ser encontrado. A paz pode ser o encontro.


Cada um saberá o que lhe traria paz. Sonhem com isso. Vão fundo e não temam a profundeza dos vossos desassossegos. Olhem para eles de frente e chorem se for preciso. Reconheçam o porquê detrás dos actos. Sobretudo reconheçam as vossas necessidades. Tudo o que acham que precisam para ter paz. E lembrem-se, não faz mal ser incoerente se outro caminho agora parece melhor.
A única incoerência consiste em manter escolhas caducas. Roupas que já não nos ficam bem. E que trazem desconforto.
Ponham-se confortáveis com a vida. Destapem-se e a paz virá.
IdoMind

About going deep

julho 02, 2009

Amor...Amor...Sempre o Amor



Hoje não é dia de nada. Mas deu-me vontade de escrever sobre alguma coisa. Passei pelo Dezmistificando e falava-se de Amor. Fui até ao Café e Bolos e o assunto são os relacionamentos. Senti que esta delicada matéria estava mesmo a pedir um artigo.

Não consigo dizer o que é o Amor. Acho que ninguém consegue. Vários tentaram e deixaram legados lindíssimos das suas tentativas, mas na verdade todos morreram sem que nos deixassem uma definição segura, palpável e incontestável do que seja esse estranho sentimento.
Talvez assim seja com coisas sagradas da vida – indefiníveis. E nesse estado devem permanecer.
O Amor não se explica. Não se equaciona. Não se testa. O Amor não tem uma quadrícula nos formulários que criámos para a nossa vida. É o “outros” no fim da página.

E a única coisa que sei acerca do Amor é que é palhaço por profissão. Faz-nos rir e chorar. Usa umas fatiotas engraçadas, quase ridículas, mas não se importa com isso. Está alegre e quer mostrá-lo. Exagera tudo. Na gargalhada, na dor, nas tribulações e nas trapalhadas. Porque é uma criança grande a experimentar o mundo de uma nova maneira. Tem relógios enormes, sapatos de gigante, botões do tamanho de planetas. Ele quer ser visto. Porque é bonito. Porque a felicidade não se esconde. E ele sabe.
O Amor é o palhaço que antes era homem de negócios.

Esta é a verdade acerca do Amor – muda tudo. Digo com frequência, que no que ao amor diz respeito, apenas temos teorias, porque quando nos entra pelo coração adentro descobrimos que éramos estranhos para nós mesmos.
De repente estamos a levantarmo-nos mais cedo para fazer o pequeno-almoço a alguém. E a sorrir! O tique nervoso é sensual e as piadas são todas hilariantes. Nada parece mal. Desajustado ou apenas parvo. Não. Tudo é tão especial…
Hoje sei que NÓS é que ficamos especiais e tudo à nossa volta ganha uma dimensão diferente. Estamos a ver pela primeira vez o milagre da vida. E sentimo-nos agraciados. O Amor é uma graça.

Hoje sei também que o Amor não se procura. Encontra-se simplesmente. Está sentado dentro de nós à espera da sua vez. Saímos tantas vezes lá para fora, com pouco mais que um desejo verdadeiro de dar de frente com ele, numa esquina qualquer, assim sem esperar. Pedimos e suplicamos que naquela manhã, quando formos pagar o estacionamento, o Príncipe Encantado surja a pedir para trocar uma moeda de um euro. E acabe a noite a jantar connosco à beira Tejo. Ou que durante uma aula de ginástica, sejamos surpreendidos por alguém com um cartaz a dizer “ Adoro-te. Há muito, muito tempo.”

Quem não sonha com o extraordinário.? Quem não fez um sorriso quando leu o parágrafo anterior? Quem não quer ser feliz?
Instintivamente sabemos que Amor é sinónimo de felicidade. Então porque amar dói tanto, na maioria das vezes?
Talvez porque queiramos fazer do Amor uma coisa que ele não é – racional, previsível e sobretudo controlável.

Isso já não é Amor. São os esquemas que precisamos de usar para manter aquilo que achamos que podemos perder. A contradição é que por causa dos esquemas acabamos mesmo por ficar com as mãos vazias e o peito destroçado.
O Amor também não é usável, utilizável ou instrumento para alcançar o que quer que seja. O Amor é o princípio e o fim de tudo. O Amor é. Não tem. Não quer. Desconhece o “eu” porque só o “nós” lhe soa a verdade.
O Amor é pontual e sabe sempre quando chegar e quando partir. O Amor é o mais valente dos sentimentos, porque sem luta ganha todas as batalhas. Mas é preciso que seja mesmo Amor.
Ainda não conheci o Amor, porque ainda não me senti valente. Ainda não saí à rua com a cara pintada de alegria embaraçosa. Ainda apenas imagino o “nós”.
Mas ando sempre com duas moedas de cinquenta cêntimos na carteira e no intervalo da aula de ginástica, pelo sim pelo não, espreito para o vidro…

Acredito. É uma questão de tempo até que o Amor que planto e cuido dentro de mim encontre, num destes dias de sol, o Amor de outro jardineiro sonhador…
IdoMind
About real love

julho 01, 2009

Meu Deus...

Mesmo ao jeito da IdoMind, escrevo um post intitulado “ Sexta-feira: o dia do prazer” e depois desapareço duas semanas…
Lamentavelmente nada teve a ver com as minhas abrasadoras experiências culinárias...
Depois das mudanças dos últimos meses, vem a adaptação, o reajuste. As consequências das minhas escolhas e a vontade firme de ajudar a minha árvore recém-plantada a frutificar e a crescer para lá das nuvens, obrigou-me a uma dedicação exclusiva. O Jardim não recebeu, por isso, a atenção habitual.
Mas estou de volta. Hoje é dia de ver Deus. Sei que gostam mais da Loucura, mas fica a promessa que compensarei com uma verdadeiramente louca na próxima semana.
Mais que ver Deus, tenho-O sentido. Respirei fundo e tomei decisões. É importante decidir. É importante confiar que a vida não é para se temer mas para se viver. E que cair faz bem. Por vezes, é com o nariz no chão e os joelhos esmurrados que damos de caras com a força anestesiada dentro de nós.



Apercebi-me que as palavras dos vários Mestres não são só palavras. Que são A palavra. Pobres homens que andam a gritar o mesmo há milénios. Pobres de nós que ensurdecemos a nossa alma e tornamos a experiência tão mais difícil do que alguma vez deveria ser.
Para aliviar, e porque no fundo sabemos que temos de estar enganados acerca disto tudo, procuramos, avidamente, respostas. Em todos os lados. Em todas as pessoas. Desde mapas astrais a conselhos de amigas. Vale tudo menos parar e ouvir o que temos a dizer a nós próprios.


Mas a verdade é que apenas nós sabemos a direcção e o rumo. Bem como o destino. Ninguém nos diz nada que nós já não saibamos. Temos é dificuldade em acreditar em nós. Ou medo. Indelével, perante as nossas maiores dúvidas, um murmúrio passa rente ao ouvido soprando “sim, é por aí, não receies”. O arrepio que eriça os cabelos quando os olhos pousam sobre aquele alguém. O cheiro que fala connosco e nos leva para longe. Quem já não sentiu todas estas coisas?
Acredito que Deus, ou como Lhe queiram chamar, não deixou de falar há dois mil atrás para alguns escolhidos, em boa forma física (parece que Deus só falava nas montanhas!).
Acredito que Ele fala comigo. Sempre. Para o escutar melhor e porque os meus filtros também se sujam, estabeleci um código de comunicação.


Dirijo-me ao Arquitecto como se fosse o meu melhor amigo e costumo dizer-lhe “ Bem sei que sabes quais são as minhas angústias, mas…” e depois ponho o coração a falar. Por fim peço que me ajude a ver a estrada mais brilhante para mim. E costuma resultar. O brilho já veio de caminhos que não me apetecia nada percorrer, mas reconheço que foram os mais importantes e que me levaram mais perto de onde devia chegar.



Peço sinais. E sinais são-me dados. Nas grandes e nas pequenas coisas. Porque confio que Ele me ouve. E que ama. Muito. Se me pedissem para descrever a minha vida, diria que tem sido feita de Fé. Na confiança absoluta num par de mãos que me acompanha incansavelmente. Amorosamente.


Era isto que queria partilhar esta semana. Mostrar-vos o Meu Deus que vai comigo para o trabalho. Que está sentado ao meu lado no carro a ouvir comigo o último albúm de Placebo. Que ri das piadas parvas do meu melhor amigo. Que me murmura coisas, eriça o cabelo e põe fragrâncias no ar…
Não sei se é o mesmo que o Vosso. Talvez não seja. Mas não custa perguntar-Lhe, pois não?
IdoMind


About listening
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