abril 09, 2012

O Tempo perguntou ao Tempo...

Mas precisas de mais tempo para quê? Não entendo. Disseste-me que estavas pronta. Disseste-o com tanta certeza que na minha certeza de querer estar contigo comecei a separar roupa e arrumar as malas. Não queria estar desprevenido quando me ligasses a dizer “ Vamos?”
Não havia a menor sombra nos teus olhos enquanto me falavas dos fios que prendem os pés, dos fios que nos ligam à luz e de como pela primeira vez conseguiste arrancar uns, sem trazer atrás os outros. Não te interrompi apesar de não ter acompanhado sempre os teus raciocínios porque me apercebi que estavas numa conversa monologada e séria contigo. Mas ouvi-te. Ouvi-te muito claramente a estender-me a mão na chamada a repartir comigo isso em que acreditas, de vidas que se suspendem para continuarem noutra vida. Recuei na cadeira e tudo. Não te lembras? Estavas a levar-me para territórios que nunca considerei pisar, diabos, que nem sabia existirem! Não soube que fazer ou dizer. Depois olhei para ti e de algum modo isso deixou de importar. 



Estão em causa duas felicidades e talvez este seja o meu último teste. Largar os restos do homem que me treinei a ser para dar provas da minha lealdade com o compromisso de nascer outra vez. Julguei que seria eu a fraquejar porque venho sozinho. Tu trazes Deus e a fé inabalável, que já assisti a pegarem-te ao colo e largarem-te na outra margem. Seca e segura. Trazes conhecimento. Vislumbro-o nessas duas passagens para dentro de ti e que viram o que não vi e vêem o que eu não vejo. Tu trazes essa força que me assusta tanto. É como se não houvesse nada que temesses perder. Como se passasses bem sem aquilo que o mundo tem para oferecer. Terás tu uma capacidade imensurável de suportar dor ou uma incapacidade tremenda de amar? 
Assumo o risco de descobrir a resposta ao teu lado. Assumo o risco de me largares onde e quando menos esperar porque és assim, tão rigorosa contigo que prossegues desamparada, para que não te vejam os fardos atrás dos sorrisos. Que ingrato o caminho que escolheste. Nem todos te despem como eu e não compreendem que para te ter é preciso largar-te. Constantemente. Só nisto és coerente. Tenho-o observado e assumo o risco de partir contigo. Não nos falhes agora que estávamos tão perto.
Queres dizer para que precisas de tempo? E de quanto tempo? 
Sentes o meu coração? Ouve-o. Não disparou. Bate tranquilo. Estás a ensinar-me a confiar e ainda que fosse só por isso, que não é, já estaria compensado do que deixo, para me ir buscar em ti e contigo. Não nos fujas. 



- Sentes o meu coração? Ouve-o. Disparou. Bate descontrolado. Dei-me conta que o tinha naquela manhã, com aquela frase. Preciso de tempo para me convencer que o meu tempo chegou. Que mereço isto... Preciso de tempo para desfazer o que foi feito. Voltar atrás e partir com palavras novas as que foram firmadas sob o testemunho dos elementos. Preciso de tempo para me reconhecer digna de parar um bocado e permitir o afago da paz. É dela que fujo. Não tens culpa da culpa que preciso para me sentir viva. Dá-me tempo para me libertar dela.

Se for agora, incerta do que é egoísmo e do que é Caminho, é certo que te vou largar, porque não fiz por nos merecer e castigo-me assim. Preciso de tempo para converter a responsabilidade no rasgo da teia que é preciso rasgar.Vejo-me enredada e não podes ajudar-me. Não há saída fáceis nem elegantes das dependências que se criam e que alimentam colherada a colherada, renda a renda, domingo a domingo. Preciso de tempo para me desenredar. Ou para me continuar a enrolar.
Estou tão perdida…Entre a vontade e o dever preciso de tempo para encontrar a luz que me leve daqui para aí. Para ti.

- Estamos no meio meu amor e é aqui que o tempo se faz maré ou o próprio mar. 

Afastou-se. Ela ficou. Dessa praia imaginária onde o tempo acerta os ponteiros com a eternidade, só era capaz de ver o imenso areal entre eles.
IdoMind
About too much

2 comentários:

Onda Encantada disse...

... quanto tempo o tempo tem
e o tempo respondeu ao tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem...

Saturno .... Sr. do Tempo.... ensina tantoooooooo....

LYA... :)

IdoMind disse...

A desesperar, por exemplo!
As lições de Saturno são tramadas. O bom é que aprendes uma série de coisa sobre ti, sobre os outros, sobre ti nos outros e dos outros em ti. Trabalhoso mas produtivo. Quase sempre dorido...
Ainda assim passava bem sem o Sr. do Tempo, Ondinha.

Um abraço, daqueles muito abraço
tks...

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