dezembro 03, 2012

Respirar



Achas que se pudesse, não parava? Parava. Descalçava os sapatos, atirava-os ao ar e corria a saltar-te para o colo. Depois fechava os olhos para te poder ver e autorizava-te a dar-me beijinhos na alma até que a última lágrima caísse e o último corte se fechasse. Pedia-te para ficares. Que esquecesses tudo o que julgas que sabes e que viesses comigo aprender de novo a encher a taça. Despia-me para que me visses sem mangas onde esconder truques, nem véus a abrandar a minha verdadeira vontade. Era assim, com o corpo à mostra, que te perguntaria se querias ir até ali, à beira de nós, tocar o precipício ou agarrar uma escada. Se eu pudesse, parava.

Tu e eu, intrepidamente Vivos, a pulsar no dorso do nosso destino. Já imaginaste? Desafiava-te a não ter medo de nada além da mentira em que te aninhas para desviares as tempestades. Os dois, a rodopiar, centrifugados num tornado de luz a espremer-nos do que nos apaga o brilho.Tu e eu num único raio, um só Sol. Já imaginaste?

Se eu pudesse parar, dava-te tudo.Tudo!Dava-me.Nunca mais precisava de usar palavras. Nem tu. Só lá fora, quando chamassem por nós para mostrar como tínhamos feito. E nós viríamos. Tu e eu, numa voz a falar sobre o que tem de ser e do tempo que não corre enquanto as pessoas não param. Para respirar. Para recuperar, se por acaso ou por fraqueza andaram a gastar-se para lá da medida que distingue a honra do martírio. Se eu pudesse, parava para te contar uma história... E talvez continuássemos outra a partir dali. Uma daquelas que não têm fim. Sem foram felizes para sempre porque nós fomos e somos felizes desde sempre. Desde o princípio de que nos desprendemos para descobrirmos um novo regresso. Os dois, a romper o céu, as estrelas, as tripas da Criação, o caminho todo até chegarmos e nos largarmos outra vez à procura um do outro. 

Se eu pudesse parar, gritava por ti.Gritava tanto!Muito alto, para que me ouvisses onde quer que estivesses e viesses depressa socorrer-me do vazio que vicia. Entravas em mim, devagarinho, para não magoar mais e suavizavas as saudades soprando-me nos lábios "cheguei meu amor..." Ajeitavas-te cá dentro com carinho até que eu deixasse de me lembrar que um dia tive frio.
Eu nunca gritei. Mas se pudesse parar, o meu grito teria o teu nome. Sarada da mudez podia mostrar-te que do avesso sou frágil. Apresentava-te aos fantasmas que me impedem de dormir como toda a gente dorme. Entregava-te o meu coração para que lhe sentisses o ritmo e a canção suave que entoa ao contar como ficou tão pesado.E porque continua a bater.
Já me fizeste querer parar para me emprestar a ti e abrir-te o que encontrasses trancado. Ir, sem pensar, onde me quisesses levar para vencer o que me assusta. E que parece que sabes o que é, mesmo que não saibas. Eu não sei.Tenho este andar solitário, infatigável, que repousa apenas quando todos desistiram de o seguir. Venho com um gosto por cavernas.

Se eu pudesse parar-me, parava. Travava-me de imediato de ser Eu para que nós fossemos possível. Mas eu não posso parar. Corro o risco de morrer e agora não posso. Nem parar, nem morrer. Nem matar...
Todos os beijinhos que me deres hoje vão chamar-me de egoísta. Eu parada e tu aos beijos. Já imaginaste? Eu, ao teu colo, descalça e parada a receber do que ando esquecida. Tu, a segurar-me com cuidado para chegarmos os dois inteiros a Casa. Equilibrados...Como esperas voar com duas cargas?

Se eu pudesse parar, aliviava-me.
Diluía-me em ti cheia de leveza e numa dança éramos uma estrada outra vez.
Já imaginaste? Conseguirmos. De vez...

IdoMind
about  trying

2 comentários:

Marcia Toito disse...

Você faz verter minhas lágrimas com uma frequência absurda! Diz o que eu só consigo sentir.
Eu também não posso gritar!!!!!!!!!!!


QUE BOM LER VOCÊ!!!

IdoMind disse...

:)

Minha Márcia

Estou certa que no Peruíbe haverá um cantinho onde possa dar um valente berro. Ou muitos. Todos seguidos. Até que se parta, por dentro,tudo o que lhe aperta e abafa a alma :)

abraçãoooooooooooooooooooooo

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