abril 09, 2013

Sem querer, querer-te




Amor, como estás? 
Quis perguntar-te mil vezes. Sentei-me outras tantas aqui, como hoje, na esperança que os meus dedos fizessem o que fazem sempre e se largassem a dançar magicamente sobre o teclado, gerando a poesia que te fala de mim e pergunta por ti, num género de diálogo solitário. Anónimo. Recebido.
Mas acho que esgotei a minha quota de magia. Os meus dedos não monologam há meses. Não se movem, nem mesmo diante da página em branco que outrora possuíam bestialmente. Avidamente, a emprestar voz ao meu coração. Davam-se tão bem. Vejo-os agora de costas voltadas e quem paga sou eu, que me levanto a meio da noite para pôr a alma a gritar e nem a ponta da mordaça descubro para que possa ao menos suspirar.
Às vezes parece que vou desaparecer num estrondo e por todo o lado vão haver bocados de prosa colados às paredes, a escorrer pelas portas, derramados pelo chão. Os meus bocados por dizer que não aguentaram mais e transbordaram-me sem pedir licença. Quem sou eu, incapaz de escrever?
Se calhar sequei mesmo. Finalmente. Como naquele filme, de tanto bater o meu coração parou...

Talvez tenha andado a mandar muito em mim. Ordeno-me a esta vida com pessoas de carne e osso e cheiro e coisas para dar e para me tirar. Obrigo-me a ficar e a dizer aos sonhos que já não são bem-vindos. Que me deixem em paz à procura do lugar que sempre rejeitei. Sabes, penso que a liberdade é a mais engenhosa invenção de Deus. Para não morrermos de tristeza, temperou-nos com insatisfação. É por isso que continuamos. Uma e outra uma vez, depois da que jurámos ser a última. Porque um dia… 

Um dia…Vamos ser livres para sermos nós! Para, sem culpa, escolher uma existência simples na margem de um rio. De todos os rios que desaguam em nós há imenso tempo, indicando por onde e quando ir. Um dia vamos. Até à exaustão e até ao fim e ao fundo das interrogações suspensas a cada viagem feita no sofá. Das perguntas a pairar nas ausências que temos sem mexer sequer um pé. Na cama. Ao lado de alguém. Que não é ao encontro de quem o espírito sai para ir tocar. 
Um dia…Um dia vamos amar a sério. Acordar logo a cantar. Ter vontade de dar beijos que entram pelos outros adentro e lhes espreitam as dores. E os tesouros. 
Um dia vai estar tudo certo...
E um dia vamos esquecer todos estes dias da falta daquilo que ainda não conseguíamos dizer o que era.

Um dia vai ser fácil ser eu sem ti.
Estar na minha vida, sem me ocorrer assim de repente como estará a tua. Desculpa. Perdoa-me a delonga em desprender-te. Em apagar-te. De uma vez por todas. Comecei por forçar o exorcismo, apenas para acabar por aceitar que é aos poucos que os fantasmas se expulsam.
Às fugidas. Como faço quando vejo o teu carro estacionado pelos lugares que já foram comuns.
Mas esta noite sonhei contigo e precisei disto, de vir à superfície tornar verbo o que passa na profundidade na qual não voltei a ser encontrada.Ninguém voltou a descobrir-me o caminho que tu fazias de olhos fechados.
Por isto tudo - Amor, como estás?

IdoMind

about you fading away

3 comentários:

Marcia Toito disse...

LINDA, VOCÊ!!! Sempre aos desabafos intensos, às revelações nas
entrelinhas. Sempre o sofrer envolto em esperanças.

É... sempre queremos saber do nosso amor. Ainda que tenha partido. Ao meio, aos cacos e como crianças tentamos montá-lo nos sonhos. Difícil aceitá-lo partido e partindo.

IdoMind disse...

Querida amiga

É...sempre queremos saber dos que queremos bem. Você sabe ;)é por isso que me lê como se estivesse aqui a ouvir-me. E a entender-me...

Um dia trocamos a poesia por um palavrão e pode ser que, nesse dia, a vida nos leia, nos entenda e nos entregue à porta da que foi sempre a nossa Casa ;)
Não tem jeito! Ainda não é hoje o dia LOL

Abraço FORTEEEEEE
obrigado...



Marcia Toito disse...

Um dia como o de hoje. Uma música tão linda! Ler sua resposta! Só faz verter lágrimas...As vezes, venho aqui apenas para colher música!!!

ABRAÇO DE LEÃO!!!

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