dezembro 03, 2009

Este é para ti!


Como se não bastasse o frio, ainda há esta amargura que se sente quando passamos uns pelos outros. Uma espécie de azedume que se transmite pelo ar e contamina os nossos pensamentos mais bonitos de dúvida e insegurança.
Estamos meio agrestes. Deixámos o anonimato anular a nossa humanidade. Estrangular a vontade de rir. Bem alto, sem vergonhas parvas de marcar o espaço com o som das gargalhas. Abdicámos do direito a ser pessoa pelo conforto de ser um número. Renunciámos ao amor em troca de uma lógica que nos põe a salvo de algumas lágrimas. De alguns erros, como entregar o coração a quem não o quer receber, de dizer desculpa a algúem que ainda não sabe o poder de um perdão, de escolher uma vida extraordinária…
Pouco normal, dirão alguns. Porque aderimos também a um acordo tácito sobre o que é aceitável. Quanto mais aderentes, mais aceitável. Mais normal…

Também gosto de normalidade. Mas quando me traz satisfação. Quando a compreendo e aceito porque há coisas que são como são. Que nos dá a oportunidade de sermos o que quisermos ser.
Não gosto da normalidade que me escraviza a normas que não entendo. Que o meu coração não reconhece. Que não encontram eco em mim. Sim, faço todos os dias a escolha anormal de ser absolutamente honesta comigo. De qualquer modo, já não consigo enganar ninguém, vai sendo cada vez mais difícil pentear as antenas atrás das orelhas.

Vi tanta zanga logo pela manhã. Olhos reluzentes de mágoa, protegidos com uma capa de orgulho. Vi bocas fechadas a dizer “dói tanto!”.
Enquanto olhava, pensava que se fossem capazes de ser mais doces uns com outros, nenhum de nós estaria ali. Estaríamos talvez em casa a tomar o pequeno-almoço ao som do nosso albúm preferido. Talvez a preguiçar mais uns minutos nos lençóis de flanela e a pensar como a vida é boa. Talvez na brincadeira com outros bloggers.

Mas não estaríamos ali, azedos e amargos à procura de alguém que confirmasse que estávamos certos. Que a razão estava, inteira e indubitavelmente, do nosso lado. De um lado e do outro, dois seres humanos muito feridos, com memória apenas do que tinha sido mau. Nenhum se lembrava já dos piqueniques junto ao rio quando vinham da escola, do primeiro beijo, de todas as vezes que fizeram amor e sentiram que o seu lugar era ali, um com o outro.

Saí sem saber bem para quê. Quando dei por mim estava a comprar um chupa-chupa. Não correu bem, só havia um enorme, vermelho, de um boneco chamado Noddy. Paciência. Foi mesmo esse que ofereci à cliente, que olhou para mim. Olhou para chupa, voltou a olhar a olhar para mim e solta um sorriso que me fez ganhar o dia.

Disse-lhe: “ Lá fora a vida continua, com chupa-chupas, bombons e muitas coisas boas para saborearmos. É só escolhermos do que queremos alimentar-nos”.

Percebi que ela percebeu que o que nos levava ali era despropositado. Que estava a dar importância e adensar um sentimento que não era inocente, como aquele chupa-chupa escandalosamente infantil. Do outro lado do mundo, enquanto ela estava numa luta em que ninguém vence, havia alguém que dedicava uma vida a fazer doces. Para crianças. E para adultos no intervalo do crescimento. Para jardineiras destravadas de sensatez...
“Isto pode ser mais fácil, não é? “ perguntou-me ela.
Senti-a a voltar lá atrás, à pureza dos momentos que não se repetem e dos sentimentos limpos de expectativas frustradas.

Fiquei imensamente feliz por ver o peso desvanecer-se do rosto dela e dar lugar à ansiedade de sair dali para estar sozinha com o chupa, que segurava com carinho nas mãos.

Decidi, por uma semana inteira, oferecer um chupa a alguém. Sem motivo algum. E se me perguntarem porquê, responderei, à míuda:
“ Porque o mundo precisa da tua doçura.”

IdoMind
about lollipoping the world
P.S eu já recebi o meu doce

17 comentários:

Marisa Borges disse...

Jardineira de mom couer

é por essa e por outras que és minha irmã de coração. Até me vieram as lágrimas aos olhos com essa história real!

Bem-hajas pelo trabalho de reconcilição com o mundo que fazes e fazes tão bem! Agora lembra-te não pdoes estar a ensinar algo uqe não exista em ti, por isso, não esperes que alguém te dê o chupa, compra-o para ti!!!

E agora, figurações à parte, não há nada que me dê mais prazer do que ir à Hussel e comprar um chupa daqueles bem grandes e deliciar-me a comê-lo, saboreando cada particularidade de sabores.

Tive uma ideia, vamos aprender a fazer chupas??? Era giro, não era, como o Chocolate!!! Puseste-me a divagar!!! Obrigada ;)

Beijocas e não percebi porque me disseste aquilo ao telefone??? Asneira?? Aqui não há asneira nenhuma, apenas uma entrega total à tua missão (pelo menos a uma delas) - trazer alegria às vidas aparentemente destroçadas!

LOVE YOU

adriana disse...

IdoSoul

Ainda serás rebatizada...
-_-

Why be normal?
Se "o mundo precisa da tua doçura.”

WeLoveYou

IdoMind disse...

Mana

Já viste bem? Há 2 anos atrás quem diria que eu faria uma coisa destas? Se visse a cara da cliente. Ela já tinha percebido que eu não era muito convencional mas aposto que nunca lhe passou pela cabeça que eu lhe desse um chupa chupa com um boneco.

Importa que desistiram e fomos embora, todos, mais aliviados. perguntei à outra parte se também queria um chupa.Ele riu e disse que já tinha recebido o maior doce que lhe podiam ter dado - perdão.

Foi um dia dificil, estou exausta, meio triste porque ainda há muito ressentimento por aí, mas olha mana lá vou fazendo estas maluqueiras. Se um dia não me encontrarem, procura no Miguel Bopmbarda...na ala onde houver risos estarei lá.

Chupas de chocolate, queres treinar comigo?

Beijos meu amor de agora e de sempre.

Maria de Fátima disse...

Olá Maria, pois eu cá gosto mais de chocolates do que chupa chupas.Quem dera que existissem mais jardineiras como tu pelo mundo inteiro.É bom sermos diferentes dos outros.Afinal todos iguais todos diferentes.Beijocas.

IdoMind disse...

Minha Adriana...

Não vai ser fácil encontrar um nome à altura de IdoMind. Mas estou a adorar as tentativas...farto-me de rir...

Tenho dias que questiono muito a sério se não ando a fazer tudo ao contrário.Dá-me um medo...dar chupas às pessoas, isto é de gente doida! Depois vem aquela vontade mais forte de fazer estas e outras coisas, que na verdade, acabam bem.

Um dia de cada vez. É como tenho vivido.

I do love you doce Adriana

IdoMind disse...

Olha a Mimi!

Estamos aqui ao mesmo tempo.
Pronto, já te vou deixar uma coisinha só para ti,que eu hoje estou para agradar.

Acho que temos todos sido jardineiros. Acredito que cada um de nós, pelo menos, tenta viver de acordo com aquilo em que acreditamos. Eu acredito que pode ser maravilhoso viver e é essa experiência que procuro passar. Olha tu, com esse jeitinho lindo, espalhas paz, candura, por onde passas. O jardim fica sempre assim quando cá vens, cheio de malmequeres brancos simples e bem dispostos.fica lindo....

Um grande grande beijo

Anónimo disse...

Se eu pudesse dava a vc este chupa-chupa (que aqui chamamos de pirulito), pois sua doçura é essencial ao mundo!

Agradeço suas palavras amigas no SPA. Vc tem toda razão. Mas já perdoei... Todos os comentários me fizeram refletir... é mais sensato perdoar, por mim mesma até. O resto vem como tempo.

Mas que bom que vc pôde entrar no meu blog! Realmente não faço a menor ideia do problema que havia. Fiquei muito feliz. Volte sempre.

Bjo na alma, querida!

Silvia Freedom disse...

E cada um com seu cada qual....
De perto...ninguém é igual...nem sempre normal...
Ai que linda a loucura àquela que me lembra que Amar é ser Tal e Qual...Um Ser Especial!

IdoMind disse...

Reyel

A vida só pode ser doce. Depende de nós, foi isso que quis dizer à cliente com o chupa. Haverá sempre pessoas amargas. Haverá sempre situações azedas,apenas nós lhes podemos mudar o sabor.

Mil beijinhos querida e obrigada pelo chupa

IdoMind disse...

Sílvia

É verdade, Amar é ser Tal e Qual...Ainda que seja meio anormal.Pudessemos todos nós admitir as nossas loucuras e vivê-las...
Acredito que não se venderiam tantos anti-depressivos...

Beijos Sílvia sábia

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Amiga. Ninguém pode dar aquilo que não tem. Quando temos algo de bom e o transmitimos a outra pessoa, é sempre bem aceito, por mais inconvencional que seja. Amei o texto. Amei a sua conduta. Para mim não é um ato de loucura... é um ato de amor quase infantil Beijos.

Maria de Fátima disse...

Olá querida Maria, obrigada, adorei a prendinha.Tu és um doce de pessoa.Beijocas e bom fim de semana.

angela disse...

Bonito o texto e bonita experiencia. Agradeço o chupa um pouco de riso e doçura opera milagres.
beijos melados de doce...rsrquem mandou me dar o chupa?

Viajante disse...

Olá IdoMind

Acho que classificaria este texto como tocante.
Eu respeito muito os profissionais que lidam com as pessoas em situações complicadas.
As separações e os conflitos que delas resultam não nos permitem considerar o casamento apenas como um contrato que se pode anular com uma ida ao notário.
Existe sempre alguém que sente que perdeu que não valeu a pena. Existe sempre alguém que fica danificado emocionalmente com feridas que abrem de novo com muita facilidade, com desconfianças que nos inibem de nos entregarmos a quem de facto nos poderá fazer feliz.
A tua atitude foi assim como um raio de sol que iluminou o dia sombrio daquela pessoa, quem sabe cheia de sentimentos contraditórios e que desmontou naquela hora a montanha russa emocional em que ela se encontrava.
Como as pequenas são importantes, tens de ver se andas sempre com um bom stock de chupa-chupas porque eu acho qua anda por aí muita gente a precisar de adoçar os seus dias.

Beijos

O Viajante

IdoMind disse...

Maria José

Bem vinda ao Jardim. Logo depois de ter dado o pirolito à cliente e enquanto escrevia rapidamente o post, um amigo entrou-me pelo gabinete dentro e adivinha...deu-me dois bombons enormes! è um colega reservado que nunca tinha feito nada de semelhante.

Tudo o que dás volta. O universo retribui. Sempre.

Foi uma grande lição.

beijos e obrigada pela visita

IdoMind disse...

Angela

Fui eu sozinha que achei que irias gostar do chupa. Também adoças o caminho de muitos com os teus entremeios e mereces este e todos os pirolitos.

Rir e adoçar - que missão bonita, não achas?

Beijos

IdoMind disse...

Querido amigo

Podes crer. Há muita dor por aí. E quem dê palmadinhas nas costas também. Eu prefiro dar chupas, mesmo que deixe de ter clientes...lol

É mesmo tudo uma questão de posicionamento - como quero viver isto? Quem quero ser diante disto?

Quando conseguirmos virarmo-nos para nós como o príncipio e o fim dos nossos " problemas" vamos andar todos com chupas nos bolsos...

Beijos Vaijante Gosto tanto de ti..

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