dezembro 19, 2009

O que foi e o que pode ser

Jamais saberei que paisagens perdi ao longo dos trilhos que abandonei para continuar por este que atravesso. Onde me levariam esses caminhos em cuja entrada tantas vezes parei procurando adivinhar o que se ocultava para lá da curva, onde a visão acaba e a fé começa. Prostrada pelo medo das pedras e das armadilhas, guardiãs da felicidade prometida, continuei pela vereda conhecida. De longe mais segura. Até ter deixado de o ser. Não há estradas sem pedras. Não há tesouros sem armadilhas. Hoje sei-o.

Jamais saberei que pessoas ficaram por conhecer nos sítios que evitei, para permanecer neste quadrado quentinho e confortável, em que me aninho sobre mim mesma porque é difícil cair no mundo. Essa bola com vontade própria que quero tanto entender. Ver os porques mesmo antes dos porquês. Tornar a minha colheita menos dolorosa. Receber apenas quem me quer receber. Ser imune aos nãos que fazem ferida. Mas nada há que não se colha.Nem as omissões.Pessoa alguma entra sem ser desejada.E todos temos espadas. Que usamos. Hoje também o sei.


Onde estaria eu agora, se não estivesse aqui? Com quem e como? Seria eu feliz? Seria eu esta soma única de pessoa feita de alegrias e um bom punhado de noites mal dormidas?
Jamais saberei.

Se podia ter feito diferente? Sim. Podia ter decidido desnudar-me do orgulho. Dos pequenos egoísmos. Daquilo que não importa e mostrar-me, limpa, sem as capas que me protegeram de viver. Que adiaram os voos imprevistos que os sonhos marcam no descanso da razão.
Podia ter confiado mais. Em mim… Podia ter olhado melhor. Para mim...
Esperei que lá fora me dissessem como era cá dentro e não vi que tudo lá fora pedia que eu mostrasse o que estava cá dentro. Que o desse porque era bonito. Porque era bom. E tudo que ofereci foram pedaços daquilo que sou. Pedaços que não enchem, que não satisfazem, que não matam a fome de Amor que todos sentimos.

Sim, podia ter sido diferente. Se não tivesse tremido quando o pés exigiam firmeza. Se não tivesse duvidado tanto quando bastava uma decisão. Se as rédeas dos meus cavalos nunca tivesses saído destas mãos. Hoje seguro-as, depois de tanto empurrar o chão para me erguer das quedas. Se eu não paralisasse a cada convite para dançar.

Quanto ficou para trás sempre que não quis seguir em frente...

Tudo o que É, é criação e o que foi não volta assim a ser. Não igual. Não da mesma maneira. Com o mesmo cheiro ou sabor que não quis experimentar.
Jamais saberei se seria capaz de fazer bem aquele trabalho que nunca tinha feito, nem quis fazer.
Jamais saberei se aquela rapariga do restaurante, que apanhei a chorar, precisava de ajuda. De uma amiga.
Jamais saberei se a minha avó sabia o quanto eu a admirava. Que ainda menina, já pedia nas minhas orações para ser sempre forte como ela. Agora restam apenas estas saudades.
Jamais saberei se quem partiu teria ficado se eu tivesse falado. Se o silêncio que uso para me murar tivesse sido quebrado pelas palavras e as desculpas sentidas que morreram no pensamento.

Eu jamais saberei o que ficou por sentir na vida que não escolhi ao lado de alguém. Junto de ti, numa tarde de domingo qualquer a ver filmes deitados no sofá com a manta de lã por cima. Nunca saberei...


Mas acredito na Bondade que conhece a dureza de ter um corpo. Acredito que nos dá o que precisamos. Uma e outra e outra vez porque nos quer ver chegar... Acredito no que tem de ser porque escolhemos que fosse. Acredito em portas abertas.
Que eu as veja... e não tema mais entrar.

IdoMind

about living and learning

6 comentários:

Viajante disse...

Olá IdoMind

Mais um texto daqueles a que nos habituaste. Escrito como se fosse um grito do coração. Comentários em relação à beleza e profundidade do que escreves já deixei de fazer, limito-me a ler e reler e a deixar-me ficar como que mergulhado numa bruma que fala de ti.
Ao contrário do que dizes sempre corajosa derramas-te no papel das-te a conhecer de uma forma muito intima muito especial.
Até pode ser que muitos tenham sido os lugares onde não estiveste, os caminhos que não percorreste ou as pessoas que não conheceste. Põe de lado o fardo da tua ansiedade, haverão mais vidas, novos caminhos, novos lugares e novas pessoas.

Um xicoração para ti

O Viajante

I'm Watching You

angela disse...

Não da mesmo para saber o que seria, nem como seria, nem quem estaria...
Partilho da confiança que a corrente profunda do rio me leve para o melhor lugar possível, melhor que meu nadar possa pretender.
Um lindo e delicado texto.
beijos

Marise Catrine disse...

IdoMind,


"Podia ter confiado mais em mim..."
Às vezes penso muito nisto. Aliás, quantas vezes penso em tudo que falas neste post... talvez pense demasiado. Pois no fim é como dizes, no fim é o que tem de ser, é o que precisamos e é o que nos vai permitir evoluir neste mundo, às vezes duro mas haja esperança.
;)

Beijos doces, linda mana da Shinita.

Maria de Fátima disse...

Olá Maria, o que tiver que ser será e o que tem que ser tem muita força.Boas festas para ti e família.Beijocas.

adriana disse...

O que pode ser...

Não é a troco de nada que a pele é o maior órgão de nosso corpo físico...
Como as matrioskas russas, ela nos contém.

Aquelas belas bonequinhas bem que ficam lindas, lado a lado.
Lado alado.
Mas... foram feitas para estar dentro de si mesmas.
Ensimesmadas em UM.
Como as dimensões da Consciência.
E para serem descobertas, cada qual...

Nossa pele é o véu que nos contém em 3ª Dimensão.
O limite máximo para não desintegrarmos.
E o aviso para voltarmos ao Centro.
De onde Você parte...
E espera... Amorosamente
O retorno a Si.

Assim É Deus.

E caso ainda me pergunte, ao cair no vão do esquecimento, deixo um Sinal a lembrar:
Eu Sou Você.

UM... Feliz Natal em Família...
E um 2010 iluminado pelo Coração.

Marisa Borges disse...

IdoMind

o meu comentário foi registado ao vivo e a cores, mas mesmo ainda agora que releio o texto maravilhoso, elas rolam...palavras iluminadoras sobre todos nós!

Love ya

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