abril 15, 2010

Quando não há saída

Invento uma. Pode não ser logo. Preciso quase sempre de esperar que o pânico passe. Às vezes calha de chorar quando o medo fica mesmo assustador. Vem o desespero e espero um pouco mais. Não o contenho, não o controlo e não me iludo. A pedra está ali. É enorme. Praticamente um muro. Fico pequena. Falo sozinha. Lamento ser pequena e falar sozinha. Sento-me a ter pena de mim por tudo o que me acontece e que não mereço. Lá para o final do dia, e como o muro não desaparece, chamo a cabeça de volta para junto do pescoço. “ Anda lá, é só mais um desafio. Faz o que fazes tão bem – pensa.” Diz a mesma voz que me ensinou a acreditar no impossível.
Repouso então os olhos no que está à minha frente. De que forma trouxe eu isto à minha vida. A Lei é justa, só devolve o que geramos. Que filhos dei eu à luz cuja maternidade me custa agora reconhecer.
O burburinho do mundo confunde-me. Rodeio-me por isso do silêncio que preciso para falar comigo e ouvir o que tenho a dizer-me. É assim, calada e quieta, que faço o exercício da honestidade. Onde foi que podia ter ido pela avenida ampla da esquerda e fui pela ruela estreita mais à direita. De propósito. Que palavras a dançar nos meus lábio abafei. Que gestos pendentes anulei. Deixei novamente que pensamentos descontrolados dessem vida aos meus temores.

A ignorância é um luxo que se paga caro. Ainda ando aos trambolhões pela toca abaixo aprendendo que O País das Maravilhas pode ser pouco maravilhoso. E mais profundo do que pensava. De quando em quando ainda acho que há insignificâncias no Universo. Coisas mínusculas e sem importância que vão passar despercebidas. Como se o Universo fizesse pausas e não me prestasse atenção. Como se eu não fosse o Universo. Depressa, e cada vez mais depressa, é-me mostrado que tudo importa. Que tudo volta.

Este é o meu pecado – recusar-me a ser Deus. E a que é a maior das bênçãos torna-se na maldição que me leva a momentos como estes. De joelhos, em sincera confissão.
Conheço bem as minhas fraquezas. Tu conheces as tuas. Negá-lo é perpetuar a repetição da mesma dor. Das mesmas quedas. Das mesmas perdas…
E eu estou tão cansada…Tu não estás?
Bom, tenho de fazer qualquer coisa quanto a este muro. Quero continuar. Quero ver o que está para lá deste bocado de chão. Ainda de joelhos, ainda em silêncio, olho para cima e peço ajuda.
Prometo-me vigiar-me. Com muito amor, porque faz parte de ser humano não ser perfeito.
Prometo-me aceitar-me. Sem culpa, porque as diferenças são a cor do mundo.
Prometo-me mudar-me. Sempre, porque as mudanças são boleias das estrelas.
Sei que a felicidade não é uma opção. Só o tempo que demoro a reconhecê-lo.
A felicidade sou eu a agradecer todos os muros que ergo para chegar mais perto do Céu.
Como este.
Idomind
About Recognizing

3 comentários:

Marisa Borges disse...

Então bola para a frente que mais lá à frente vai haver outros muros e murros :)

Parte da aceitação é essa, que isto num é linear e para gajas como nós será sempre desafiante, muitos muros.

O que eu tenho de melhor nisso é que não me recuso a partí-los todos. às vezes até parto aqueles que deviam permanecer LOLOLOLOL

baby steps ou gigantic steps??

Eu Sou Você disse...

Querida IdoHeart,

Quando não há saída... Não foi a porta que encolheu. Fomos Nós que crescemos sem vê-la diminuir à nossa frente.

Escuta, há portas para todos os "tamanhos"...

Estamos cansados, mas na próxima (vai, que já é um Portal) há um sopro de Ar.

Sim, isto não é linear.
Leve a cabeça dentro do Coração.
O pescoço se ajeita.
:)

Viajante disse...

Olá IdoMind
Lindo exame de consciência posto no papel na forma poética que tão bem sabes construir.
Mas sabes para chegar o Céu o melhor é construireis pontes ou escadas muros não será a melhor ideia

Beijos

O Viajante

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