janeiro 19, 2011

O Colo e a Palmada

Dizem que entre a principal característica do nosso pai e a principal característica da nossa mãe, se esconde o segredo da nossa Missão. Talvez todos tenham razão e eu precise de ajuda profissional, mas para mim isto faz sentido. Soa-me a verdadeiro.

A minha irmã não atribui aos meus pais as características que eu atribuo. As nossas missões devem, por isso, de ser diferentes. O que reforça a coerência da premissa.
Porque para falar do meu pai preciso de tirar férias e escrever um livro, pus-me a pensar na minha mãe e apeteceu-me escrever sobre essa mulher como não há outra. A sério, não há. Para equilíbrio do Universo.

Influenciou-me muito. E só agora, eu própria mulher, vejo o quanto. Foi uma coisa assim para o subtil, mas a Baixinha, fez "estragos". Ainda hoje não me entendo com os homens. Ainda hoje acho que consigo suportar várias toneladas de carga sozinha. Lido mal com a o meu lado feminino. Ainda hoje me custa chorar. Tudo obra da minha mãe. E para alguém com uma altura a rondar o pigmeu é realmente Obra!
Se é bom ou mau? É o que eu escolher fazer com esta compreensão.

É inegável o poder das Mães. E é sobretudo inegável que há muitos tipos de mães. Mas a roda da existência sorteou-nos com a nossa. Porquê?
Porque não se trata de sorte. É exactamente DESSA  mãe que precisámos e precisamos para nos construirmos. Para nos destruirmos. E voltarmos à reconstrução. Ou destruirmo-nos mais um bocadinho, de dedo apontado à infância miserável e ao péssimo trabalho dos nossos progenitores.

O problema das mães é serem seres humanos. Cada mãe é só uma pessoa. Com um coração que bate a sua própria música. Como o nosso bate a nossa. E depois aparecemos nós. Vimos por aí abaixo, cair mesmo a meio da história dela. A mãe passa a ser um coração, a bater duas músicas.  
Mas continua a ser só uma pessoa. Com dias de sol e outros dias de céu muito carregado. Vários dias de trovoada. A minha tem destes…são tipos enxurrada, duram pouco mas arrasam tudo à volta.

Há uma qualquer ideia tão enraizada em nós que as mães são, e têm de ser, capazes de inenarráveis proezas que lhes exigimos o comportamento de heroínas. E é com dificuldade que toleramos o facto de não serem perfeitas. Indignamo-nos até e manifestamos a nossa desilusão quando não fazem o que seria expectável de uma mãe. Quando, no fundo, não correspondem à Mãe dos nossos sonhos.

O contrário também é verdade. Há mães que vestem os filhos com botas vermelhas e uma capinha. Olham e vêem neles o super-homem que nunca viram no pai ou que entretante desistiram de ver. E manipulam assim uma relação sagrada. Porque também há mães que se destroem...
Que se consomem no processo de viver a vida que não é delas, recriando-se nas suas crias. Ou morrendo devagar tentando.
Conhecem bem a culpa e como usá-la. Cobram e protestam, umas veementemente, outras de forma mais polida, que as amem, que as visitem, que as informem de como corre o trabalho, como estão os míudos e se já trocaram de nora, que as deixem ser a sombra reflectida em todas as paredes, a gerente lá de casa... Algumas conseguem. Por isso alguns filhos mentem. E outros afastam-se.

Para os filhos das mães ausentes;
Para os filhos das mães demasiado presentes;
Para os filhos das mães frias;
Para os filhos das mães instáveis;
Para os filhos das mães mártires;
Para os filhos das mães-carreira;
Para os filhos das mães rígidas e das mães moles;
Para os filhos das mães que preferem ser outra coisa,

- Não as julguem. Amem-nas.

São benditas. Todas. E bendito é fruto do ventre de cada uma delas. Não é isso suficiente para terem o nosso obrigado? Para erguer a bandeira branca e correr para os braços delas?
O Amor é o caminho que te leva à tua mãe e o que a traz até ti.
Ama-a acima de tudo. Acima do passado, acima dos feitios, dos orgulhos, do que é pequeno.  
Ama-a mesmo que ela não te ame como queres ser amado.
A tua mãe é como tu – humana.
Faz a tua parte.
Ela fez e está a fazer a Sua.

IdoMind
About karma

14 comentários:

Marcia Toito disse...

Mais uma vez agradeco por compartilhar um pensar 'tao coerente e verdadeiro, me deu vontade de correr e abracar minha mae, como esta longe abraco meus filhos.

IdoMind disse...

Querida Márcia

Estava difícil de comentar! lol

Se calhar não é sua mãe que está longe, mas sim a Márcia que está longe da sua mãe ;)
Deve ser assim que ela vê.
Mas pelo que percebo estão bem juntinhas uma da outra...
Também se dão abraços por telefone..
O meu para a Márcia vai assim, directamente do Jardim para um coração muito florido!
Mil beijinhos

Marcia Toito disse...

difícil sim, pc estranho este que estou. quando estiver em casa elaboro melhor o pensar.

bjos

Ana Carvalho disse...

Idomind,
estou sem palavras, já cá vim antes e agora vim reler... de facto estou a trabalhar a minha relação com a minha mãe, e ufa é complicado (respira respira).
Voltarei... para me lembrar de tão sábias palavras.Para me lembrar de abraçar a minha mãe, em tudo o que ela é, mesmo que não concorde, mesmo que me sinta magoada... e aprender a aceitá-la incondicionalmente! e aprender a aceitar-me incondicionalmente!
(bom! para quem estava sem palavras hihihihi)
Um beijo

Cristina Paulo disse...

Ido...excelente texto :) Pela forma que está escrito (sou tua fã caramba!) e pelo que exprime.
A minha mãe é a minha melhor amiga...desde que me lembro. Protectora, intrometida (rssss), lê-me como um livro aberto, pressente o que se passa mesmo á distância (o que é extremamente irritante), teimosa, ás vezes pica-miolos...enfim...perfeita? NÃO! longe disso. Mas sabes? É a melhor mãe que eu poderia ter escolhido. E damos-nos as duas muito bem... ensinou-me a ser mãe, a ser mulher, e apoia-me incondicionalmente (mas também me dá os puxões de orelha necessários). E é graças a ela que a relação que construo com a minha filha se baseia nas mesmas permissas...claro que só depois de eu mesma ser mãe compreendi muita coisa, e muitas das atitudes da minha mãe.
Já a relação com o meu pai sempre foi difícil e conflituosa (é o meu karma com a autoridade lol). Mas depois de eu ser mãe, compreendi que os meus pais são apenas humanos, que erram, que não sabem tudo...mas que sem dúvida nenhuma fizeram o melhor que sabiam e podiam...e eu tenho muito orgulho neles e estou muito agradecida.
O que eu observo, e do que me é dado a conhecer...é principalmente depois de sermos nós mesmas mães/pais (no caso masculino rsss) que um universo inteiro de compreensão se abre e se faz alguma luz sobre as nossas relações com os nossos próprios pais... comigo foi assim.
Estiquei-me! Caramba que já andava com saudades de comentar lol
Namasté!

IdoMind disse...

Siala

Tão bom tão tão bom ter-te aqui!
Neste post abordei sobretudo as relações " menos saudáveis" entre mães e filhos. Mas há boas e abençoadas relações de filiação.
Fico imensamente feliz por a tua ser uma dessas. Vale o mesmo principio: sem ESSA mãe...não é? Há mães que vêm para ser mães - para nos amar no matter what, no matter who...para estarem do e ao nosso lado em todas as circunstâncias apenas porque é isso que o seu coração de mãe manda.

Tens o teu pai para o resto. Eu também...lol

É verdade, eles são pessoas e também têm problemas, dilemas e dúvidas. Também estão a crescer.
Ainda bem que o percebeste a tempo de poderes apreciar plenamente aos dois que te deram vida e te trouxeram aqui..
Um grande grande grande beijinho e obrigado pela participação sempre envolvente

IdoMind disse...

Arkana

Não fazia ideia que fazias umas incursões pelo Jardim lol fiquei muito satisfeita em sabe-lo. Mesmo.

Sabes como surgiu este artigo?
Uma cliente a queixar-se que teve de trazer a filha à reunião porque a mãe dela não quis ficar com a menina.
E às vezes acontecem daquelas coisas. Encontrei a mãe da cliente à tarde nos correios. Achei-a mais magra. EStá doente. Tinha ido ao médico nessa manhã para confirmar o diagnóstico. Pediu-me " não diga nada à minha filha. Ela está cheia de problemas como sabe e não quero levar-lhe mais um".
Pois...

As mães também adoecem. As mães também têm direito à sua vida privada. As mães são, como eu disse, só humanas como eu e tu.

Quanto mais depressa o compreendermos mais harmoniosa será a nossa relação com os nossos pais, que têm o dom de nos afectar como ninguém tem.
Abraça-os porque bem merecem...carregam a carga deles aos ombros e a nossa no coração ( mesmo que achemos que não)
Um beijinho enorme

Maria de Fátima disse...

Olá querida Ido, tu tens o dom da escrita.Estou arrepiada e emocionada depois de ler este post.A minha relação com a minha Mãe é óptima, somos mãe e filha, somos irmãs e somos amigas; a relação com o meu Pai já é diferente, risos.Ele é um patriarca severo mas ama muito a sua cria, que sou eu, risos.Beijocas grandes.

IdoMind disse...

Minha Mimi querida,

Parece que as meninas andam com problemas com os pais! lol
Ainda bem que tens a tua mãe a ajudar-te no caminho.
Se queres que te diga do fundo do meu coração a única verdadeira relação que tenho na minha família é com a minha irmã. Conto com ela, choro com ela, conto-lhe tudo, confio nela inteiramente. Amo-a muito.
Gostava de ter tido uma mãe assim ou uma relação assim com a minha mãe. Não tenho. Mas está tudo bem. Graças a ela sou a pessoa que sou e até gosto de mim assim.

Vai um abraço muito sentido deste lado para ti e obrigado...

luis disse...

O que escreves pela forma e conteúdo é de tal forma "magnético", que é realmente difícil passar despercebido. As tuas muitas fragilidades e dúvidas expostas nas entrelinhas...Não serão as mesmas que todos temos? Apenas temos diferentes formas de as interpretar, classificar e nos condicionarmos?

Em relação a ser mãe, não tenho experiencia ( pelo menos nesta vida ... LOL). Quanto a ser Pai, Tio e educador, de uma menina linda e uma autêntica "bomba" a radiar amor, digo que esta é a experiencia mais difícil e ao mesmo tempo gratificante que pude ter. Torna-nos adultos e Maduros...Todos os dias vaguiamos entre dúvidas e certezas...Até que chega o "Pai, amo-te", e o "Pai, és lindo. És Tudo para mim." E qualquer dúvida se esclarece.
Não sou o seu Pai biológico, mas existe uma cumplicidade tal, que presumo ser maior do que se o fosse. Bem, isto não é garantia de um excelente futuro mas ajudará certamente. Não deveria ser sempre assim?

Bjs

luis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luis disse...
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IdoMind disse...

Luís

Eu não o teria dito melhor "Todos os dias vaguiamos entre dúvidas e certezas...Até que chega o "Pai, amo-te", e o "Pai, és lindo. És Tudo para mim." E qualquer dúvida se esclarece."

Só o Amor é real ;)
Obrigado pelo tua bonita e sentida participação

beijinhos

Ana Carvalho disse...

Idomind,
Gostei muito de ficar a saber mais um pouco da história de como chegaste a este texto ;)

pois é bem verdade, as mães também têm direitos, também são gente ehe

e esqueço-me disso, como mãe que sou.

talvez quanto mais depressa aceitar que a minha mãe é humana, melhor me aceitarei como mulher e mais depressa conseguirei sentir-me melhor mãe.
fiz-me entender? 8)

obrigada por me fazeres reflectir sobre este tema, ajudou-me um pouco a sair do filme :)
beijo

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