janeiro 25, 2011

Procura-se... qualquer coisa

Na sexta-feira fui almoçar com um cliente e amigo muito especial. Almoço descontraído. Restaurante perto da praia. Boa comida. Boa conversa. Dois copos de vinho. A conversa melhorou... Voltámos ao escritório com o astral lá para a cima e a vontade de trabalhar muito em baixo.

- Tenho aqui a solução dos teus problemas – anunciou orgulhoso abraçando uma revista e um jornal.
- Deixa-me estar sossegada se faz favor. A tua última brincadeira não correu bem, lembras-te? - Adverti no meu tom Aviso n.º 1
Ignorando o sinal, colocou diante dos meus olhos a Focus. Na capa da revista podia ler-se em letras garrafais  “COMO FICAR RICO.”
Soltei uma gargalhada. Claro!
- Vês?!! E agora os outros problemas – disse enquanto se sentava comodamente mesmo à minha frente, de perna cruzada, indício que a coisa iria demorar. Abriu e jornal e começou a ler:
Não me contive. E rimos os dois que nem parvos. Determinado a testar os limites do meu conservadorismo, continuou.
- Tens outras alternativas igualmente interessantes:

Como as crianças que fazem uma gracinha bem sucedida, leu mais um, comentando:
- "Como sei que gostas de morenos"
Fiquei agarrada ao jornal, estupefacta com a variedade e quantidade de anúncios desta natureza. Desconhecia por completo. Ao constatar o meu entusiasmo com a novidade correndo o jornal com olhos enquanto ria sozinha, ele próprio reconheceu: “ O que é que eu fui fazer!!”
O meu interesse não se ficou a dever aos pretendentes nem à possibilidade de encontrar o príncipe via “Love Mail” (nomenclatura desta rubrica no jornal). Não. O meu interesse, como em tudo, prendeu-se com a motivação daquelas pessoas. O que leva alguém a levantar-se um dia, dirigir-se nem sei onde e pedir - “Quero publicar isto:
Para mim foi o escancarar da porta para uma nova realidade! Não é mito, anda mesmo tudo à Procura. 
Ele procura Ela. Ela procura Ele. Ele procura Ele e Ela Procura Ela.
Pelos vistos toda a gente anda para aí desencontrada. Será isto serviço público? 

Quando foi que se tornou tão complexo relacionarmo-nos uns com os outros que precisamos de procurar Amor no mesmo lugar onde se procura um emprego, uma casa ou um carro para trocar…
Desde o principio do mundo que homens e mulheres se conhecem. Se apaixonam. Desapaixonam. Choram e voltam a apaixonar-se. Cometem erros. Aprendem. Erram outra vez e mais outra e mais outra e é no erro que vão sendo felizes. Mas até hoje não conheci ninguém que desistisse de Encontrar. Mesmo os que acham e se tentam convencer que isso do amor já, ainda ou nunca foi com eles. No fim de tudo a única grande verdade é que “The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return.

Como os animais (dos quais cada vez mais me convenço não estamos afinal assim tão distantes) sentimos necessidade de par. Julgava eu que diferíamos deles na forma como satisfazemos essa carência. Ao ler alguns destes anúncios pude perceber que não.
Alguns fizeram surgir de imediato na minha cabeça a imagem de um tigre. O predador “jovem cavalheiro, apresentável, honesto e sem vícios” à caça, ardilosamente esperando o telefonema que lhe irá garantir a refeição dessa noite…
Mas nisto de tratarmos do nosso umbigo, não há espaço para sexismos inconvenientes e eis que as predadoras também saem atrás da presa:

Necessidades diferentes, o mesmo método. A mesma forma de pensar. A mesma ausência de responsabilidade pelos próprios sentimentos e dos outros.
Vale tudo. No meu tempo acrescentava-se “menos tirar olhos”. Hoje em dia, e depois de algumas coisas que li, nem sei se esta segunda parte continua a fazer sentido.

É mesmo para aqui que queremos ir? Darmo-nos indiscriminada, inconsequente e (quanto a mim) inconscientemente uns aos outros? Sem no fundo estar a dar nada… Sem deixar nem trazer o que quer que seja de muito bom.
É isto que nos faz bem, que nos realiza? Usarmos e sermos usados. Não parar diante de cada pessoa que se cruza connosco e OLHAR para ela. É assim que gostamos que nos façam?

Estas minhas palavras não encerram qualquer tipo de censura às escolhas de ninguém. Não sou contra nem a favor do sexo casual. Não faço juízos sobre a solidão e o cansaço de cada um. E até onde se pode ir para tentar mudar esses estados.
É só preocupação sincera com o que está por detrás duma forma de vida que chamamos moderna mas na qual não vislumbro qualquer espécie de progresso.
Mas posso ser só eu, a observar este nosso mundo a dirigir-se para o Vazio.
Fecho com chave d´ouro

IdoMind

About what we´re doing to ourselfs 

7 comentários:

Maria de Fátima disse...

Olá querida Ido, um assunto que dá que pensar.Para a grande maioria das pessoas o Amor é simplesmente um objecto que se usa e deita-se fora.É muito triste não terem sentimentos e respeito por elas próprias e pelos outros.Beijocas.

IdoMind disse...

Pois Mimi parece-me que a questão é essa. O Amor dá muito trabalho. Exige muito de nós.Ou pelo menos é assim que algumas pessoas devem pensar. Pode ser que caiam de quatro por alguém! E vejam que não há nada melhor no mundo que nos vermos noutra pessoa...
um beijo

Marcia Toito disse...

O que leva alguém a publicar um anúncio deste tipo?

Excesso ou falta de opção, timidez ou covardia ou quem sabe o forte apelo de quem ninguém consegue ser feliz sozinho levando muitas pessoas a pensar que casando ou morando com alguém irá diminuir a tão temida solidão.
Oportunismo. Também muitos colocam-se a disposição neste tipo de anúncio apenas para se aproveitar de quem acredita que um relacionamento amoroso, sexual ou os dois juntos será a cura para todos os "males" causados pela solidão.(???)
Talvez exista no mundo mais gente má do que sozinha o que complica consideravelmente a vida de quem procura um relacionamento saudável, quer seja duradouro ou casual.
A busca pelo amor o ou algo que preencha o vazio do coração - o que para muitos tem o nome de casamento ou sexo, sei lá o valor da cada um - é incessante, por vezes cruel, outras ridícula.
Quem sabe numa dessas alucinantes e incoerentes buscas o tal amor apareça vestido de encantos. Eu nunca procurei e ele me achou e espero que não se perca de mim.

Aplausos, mais uma vez pela maneira como se expressa. Encanta-me.

Marcia Toito disse...

ah..., não esqueci do desafio, tá?

bj

Onda Encantada disse...

Ido,

Há de tudo, do predador à presa. Inclui lá os 7 pecados mortais, e encontras de tudo.

Mas sabes, acima de tudo, sinto que há uma profunda solidão, e desespero por não conseguir conhecer ninguem.
Como aquelas pessoas que também vivem eternamente casadas e infelizes. Não sabem, e têm medo de fazer diferente. O medo prende, como tão bem sabes, e não nos deixa sair dos mesmos ciclos, até sermos de alguma forma obrigados a romper com essas teias que formamos à nossa volta.

Nem sequer penso que algumas destas pessoas sintam o amor como coisa, como lixo, ou que aquele/a que responda ao anuncio caia que nem um patinho. Acredito que há mesmo desespero por não conseguir procurar, encontrar, conhecer alguém que muitas vezes servirá só de companhia, ou até como catalizador para que se saia das mesmas rotinas e permita que se conheçam novos circulos de amizade.

Estou condescendente e compassiva perante o humano.

Beijo

IdoMind disse...

Márcia

Foi exactamente isso que me deixou a pensar. Ao ponto a que nos conduzimos. Como permitimos haver hoje tanta e tanta a gente a sentir essa incapacidade de ser simplesmente humano e dar-se à vida. tentar. Continuar a acreditar. Sobretudo em si mesmo. Enfim. Estes anúncios deixaram-me mesmo apreensiva.

Sim, rezo para que as pessoas se Encontrem, independentemente do meio utilizado. Que sejam muito muito felizes. Do fundo do meu coração.

Para si, sortuda, basta continuar a ser feliz :)

Um grande beijinho

IdoMind disse...

Ondinha

Esses forma os anúncios que mexeram comigo. Esses não publiquei aqui. Tinham gritos atrás deles que eu quase ouvi. É verdade, fiquei com o peito apertado ao ler alguns que senti serem genuinamente pedidos de ajuda...
E este meu post é sobre isso, o que andamos nós a fazer uns aos outros que há seres humanos que precisam de pedir o amor, a atenção,a companhia que naturalmente deveríamos distribuir todos os dias da nossa vida.

Sou tão idealista meu Deus.
Vejo que me percebeste.
Também eu condescendente e compassiva perante o humano.

beijos Onda sempre Encantada :)

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