março 17, 2011

"A borboleta é a larva com uma atitude positiva"

Apesar de tudo continuas a mandar-me este Sol. Dias como o de hoje que apagam a memória da chuva e do frio das semanas anteriores. Que me fazem acreditar de novo no fim dos Invernos. E da severidade que ensina a todos os caminhantes a importância das cavernas. Eu gosto de cavernas. De limpar os pés da terra agarrada aos sapatos e aninhar-me no ventre de cada etapa. Gosto da ausência do que me distrai do Apelo. E de deixar do lado de fora o barulho de cá de fora. Todos os ruídos que vão ensurdecendo a minha pobre alma, já aos gritos, a dizer-me que está ali. Eu própria falo muito. Quero participar da festa e berro como os outros pelo meu lugar. Sem verdadeiramente o querer, a festa ou o lugar. Nem precisar. Sabendo-o. Não Sou demitida do Mundo e às vezes aceito as suas regras. Como esta, do barulho. Por isso, cansada e rouca, agradeço a existência de cavernas e do seu silêncio…

"A perfect spot" de Cutteroz

Dos encontros que por lá tenho. Com os espíritos do passado e futuro que invoco para perceber, e quantas vezes justificar, um presente que não me apetece tão merecido. Na caverna, o presente obeso às minhas cavalitas faz dieta. E perde peso até caber em mim como um vestido levezinho. Como custa controlar a vontade de comer da culpa e da falta de amor por mim. Do medo de não pertencer a lado nenhum. A ninguém. Com ninguém. De não ser entendida. Ou mal entendida. De ser entendida perfeitamente e ainda assim não estar satisfeita. Sem saber porquê. E lá vai mais uma colherada de açoites, goela abaixo até ao estômago…
A caverna convida ao jejum. Só se faz ouvir aos desintoxicados. De outro modo tudo o que se sente é fome. A purificação exige privação. Quanto menos me alimento dos frutos que não são da minha árvore, mais me dou conta que não me agradeço o suficiente. Nem ao meu corpo, lindo e resistente, que me acompanha na aventura. Sou má para mim. Castigo-me. Vou pelas veredas mais difíceis só para doer, só para custar, só para, frequentemente, não conseguir. Para partir a cabeça a sério e ficar contente com isso. Como se na dor se escondesse uma espécie de redenção. Gosto de me sacrificar... E depois permanecer até beirar o martírio. Desvio-me da Oportunidade que me cai ao colo porque não mereço ser feliz…Oh minha rica caverna quanta lucidez desencubro na tua imparcialidade!

Dentro de ti, com espaço só para mim, não entram ele, ela, eles, elas, vós, nem nós porque apenas EU estou aqui. Eu e as minhas escolhas. Eu e os resultados. Eu e o próximo passo.
Sou senhora de mim, só a mim me devo obediência. Só para comigo tenho deveres. Só eu me ordeno ao que quer que seja. E posso partir. Morar onde quiser. Ter outra vista. Ou restaurar a minha casa. Eu tenho o poder de Me mudar. É por isso impossível magoarem-me. Humilharem-me. Prejudicarem-me. De algum modo infligirem-me um mal. Não há nada que ele, ela, eles, elas, vós ou nós possam fazer-me que eu não queira que me façam. Nada que possam dizer que eu não queira ouvir. Não me aparecem sem que eu os tenha chamado. E não são exactamente como são se EU  não precisasse deles assim. Vieram todos ajudar-me no meu Trabalho. E eu retribuo ajudando no deles e no nosso. A vida é uma elaborada co-laboração. 
Nesta caverna, de lamparina na mão, confrontei a minha sombra. Vejo-a desvanecer-se à medida que outra Primavera desponta em mim, pintando de luz o útero de onde renasço. Renovada, despeço-me até ao próximo Inverno da jornada.
Que bom ser uma mulher das cavernas para ser uma mulher em evolução…

IdoMind
about refreshing

2 comentários:

Marcia Toito disse...

Eu também adoro a minha caverna.Porém evito entrar pq sei o quanto me custa para sair. bj e cuide-se

Estrela.Dourada disse...

Ah essa caverna maravilhosa que todos precisamos mas nem sempre fazemos o bom uso dela.
A primavera traz-nos uma vontade imensa de festejar e querer tudo menos a nossa "poderosa" caverna.E tal como há tempo para tudo, agora é mesmo altura de desabrochar e deixar livre e arejado esse "recanto" até ao próximo Inverno, ou quem sabe até a necessidade nos chamar até ela.
Beijos

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