março 03, 2011

Passado a quanto me obrigas a obrigar

Se eu viesse limpinha não me assustavas tanto. Terias graça. Serias a graça. A prenda pedida há tantas orações atrás. Em tantas noites de Inverno. E eu seria criança, a delirar com cada rasgo do papel de embrulho. Sem saber o que está na caixa e feliz com isso porque fosse o que fosse e como fosse, seria bom.
Viveria a alegria inofensiva da descoberta de ti. Dos detalhes que te compõem. Carregava nos botões todos para ver o que faziam. Esticava as mãos e tocava-te. Sem medo de partir, de ferir, de estragar. Se eu viesse limpinha ia brincar contigo sem medo de cair… 
Até podíamos correr! Ir para longe de casa. Deixar os lugares seguros e entrar pelo mundo adentro. Deixar um “dupla maravilha esteve aqui” escrito numa árvore ou numa pedra qualquer.
Se eu viesse limpinha dava-te a mão confiando que não a largarias. Que não me deixarias sozinha e perdida num lugar escuro, algures. Fazíamos tudo num dia. E se houvesse o dia a seguir, sorriamos para o Sol e dizíamos obrigado por podermos brincar de novo.

Mas não venho limpinha. 


Já tive de procurar a luz e depois acendê-la para sair das cavernas onde de repente me vi abandonada. Já tive de fazer o caminho de volta sem mapa. Já perdi as asas e regressei a pé. Já demorei muito a tratar alguns ferimentos. Já me esfolei toda e tive de ficar de cama. Sei ao que sabe o vazio que vai ocupando o espaço antes preenchido pelas mensagens matinais, os convites atrevidos a meio da tarde e os beijos demorados que obrigavam a ir depressa para o carro. Sei muito sobre cansaço. Impaciência. Nãos. Estúpidos e sem razão. Apenas cansados. Porque não apetece. Porque é tarde. Porque é cedo. Porque chove. Porque está muito calor. Até que me canso…

Venho suja e cansada.

Venho cheia de memórias de chãos cobertos de cacos. De os pisar. Passar por cima deles ouvindo o estilhaçar de corações mais frágeis que o meu. E que eu não cuidei. Nem lidei com o cuidado requerido. Lembro-me de ter sido egoísta e feito só à minha maneira. De não me ter esforçado porque não era preciso, alguém fazia a força por dois. Trago palavras proibidas. As que causaram zanga. Olhares de reprovação. Alguns “ és incrível” e várias horas frente ao mar a duvidar de mim. Lembro-me de não ter jeito para fazer o jeito. E de me sentir desajeitada.
Se eu viesse limpinha vestia-te. Tu sentias a minha pele e eu sentia o teu toque. Tu percebias como sou delicada e eu percebia que és suave. Tu vias porque tenho medo e eu via que nada há a temer.
Se eu viesse limpinha não estava aqui a escrever. Estava aí a dizer-te…
IdoMind

about the future more than certain

8 comentários:

Cristina Dionísio disse...

Se viesses limpinha... verias que nada há temer! Ainda que tudo seja uma incógnita, e verás que voltarás a dizer as palavras proibidas, umas que causam algumas zangas outras que que te irão dizer o quanto incrível tu és e sim vais estar várias horas em frente ao mar a agradecer á imensidão com que te deparas por ter valido a pena o facto de não teres vindo limpinha!!!!!!

IdoMind disse...

Cristininha,

Que foto tão gira...! lol
E que gota tão preciosa vieste aqui deixar...
Vamos as duas estar várias horas frente ao mar a falar de como a VIDA é incrivel. E é mesmo.
De qualquer modo, estou a sacudir o pó...é um começo. Lá para 2020 faço a limpeza da Primavera ;)))

beijossss

Marcia Toito disse...

faz um favor,continua assim... sem se limpar!

Onda Encantada disse...

Se viesses limpinha, não tinhas oportunidade para teres consciência de que tens que te limpar e libertar dessa sujidade...
Se viesses limpinha não poderias percepcionar quão importante, quão mais importante são os momentos de alegria e amor do que os de lágrimas e desamor.

Se viesses limpinha não poderias escrever isto, porque nem saberias o saber do bom, nem tampouco do mau.

Mas como não vens limpinha, que tal dizeres-lhe, tocares-lhe e vivenciares, visto que já sabes que o fruto do não estares limpinha, é tão somente o medo?

Beijos linda...

PS: Se precisares tenho cá em casa um chuveiro mágico! ;)

<3<3<3

Hilson Cunha Filho disse...

Não mais resisti a esse teu canto.... assim...
Esperar que chegue um "príncipe encantado" arrebatador a esse seu jardim de culpa e de medo e te desperte deste sonho envenenado é esperar demais de um outro simples ser humano.
Por outro lado, não sei se alguém, para além de você mesma, tem o direito e o poder de te dizer que te mexas, que reajas, que vivas a vida que tens.
Assim, admiro a tua coragem, audácia mesmo, de continuar aí sozinha, as voltas, sem pestanejar se quer...
um beijo.

IdoMind disse...

Márcia

Está combinado. Nada de banho!
mil beijocas

IdoMind disse...

Ondinha, Ondinha

madrinha...lol

Eu sei. Tudo debaixo deste céu é feito de Luz e é feito de Sombra. E tens razão, que bem sabe estender a cara ao sol e à lua. Rir depois de chorar e dar mais valor a cada gargalhada...
Mas sou pró caginchas! E sempre fui boa aluna! Bastava uma vez para aprender a lição..lol

Eu consigo....eu consigo....
Vale a pena....

Tudo em ti a mágico, não me espanta que o teu chuveiro fizesse a maravilha até de me dar uma amnésia!

triliões de beijinhos Onda deveras Encantada

IdoMind disse...

Hilson

Ainda estou a recuperar do teu comentário...
Valeu bem a pena resistires para vir aqui regar com toda essa tua riqueza interior.

Tens razão. A minha felicidade, como diz o outro,algumas vezes é uma benção, mas geralmente é uma conquista.

Vou tentar ter presente que tenho de me interessar por um Homem e deixar de fantasiar com um Superman, um Batman ou um Spiderman...
Se bem que um Invisible man...lol

Eu admiro, sempre, a tua sensibilidade...

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