setembro 01, 2011

Quem vai ali, também sou eu

- Mas tens prioridade. Passa.
Ignorei e parei, permitindo a passagem de um autocarro.
- Agora vamos ter de levar com ele! – protestou aquela melga, em forma de gente, a quem tive a gentileza de dar boleia.
Coloquei a minha mão em cima da dele:
- São quase seis da tarde. Naquele autocarro vão muitas pessoas, aqui só vamos dois. Sujeitam-se aos horários, ao desconforto, ao barulho. Devem estar mortos por chegar a casa. Para nós o dia acabou. Vamos aqui, tranquilos, a ouvir Bon Iver…em direcção ao ginásio. Não te parece razoável que ceda a minha prioridade por aquelas pessoas? É o mínimo que posso fazer por elas.
- Deixa-me tocar-te!!! Foi a resposta do palhacito.
Claro que o resto do caminho foi despendido em profundas considerações filosóficas sobre a natureza humana. E desumana.
Ele chama-me sonhadora. Eu olho-me como a regra e não como a excepção. 
É minha convicção que a maior parte de nós cede, inteligentemente, nas insignificâncias pelo que tem significado. Que somos capazes de nos travar para não passar à frente de ninguém. Ainda que tenhamos prioridade. Ainda que possamos. Só porque podemos não quer dizer que devemos. Esta é a minha batalha, não adormecer ao volante. Vigilante a todos os pedaços desta vida e ao que por ela passa. A quem passa. Como passa…chamar por toda a minha bondade sobretudo quando as coisas dos homens estão a chamar por mim. Mesmo a pedir aquela palavra cujo impacto sabemos que irá ter. Aquele gesto estudado e o contra-gesto em resposta ao gesto obtido ao nosso gesto. Que canseira… O mal do Homem é presumir que entende o homem. Pensamos tanto, em tudo e até pelos outros, que preenchemos com o pensar o espaço do sentir. Do incontrolável. Nós controlamos. Somos controlados. E é assim que anda tudo dentro do controle. Mas nem por isso controlado. Os tempos que correm estão a ser mestres nesta lição. Viver não é controlar, é colaborar…

Não sei que aspecto do meu mapa astral que empurra para aí, se é um preço qualquer de vidas anteriores ou só fruto de uma, surpreendentemente, boa educação, mas a cada instante é essa a pergunta que me coloco: como posso colaborar para isto? 
Sinto-me melhor quando me sinto a contribuir. A ceder a minha pequena parte a favor da Grande Parte. A melhor parte para melhorar todas as partes. Experimentei e sei que é assim. Tudo o que faço só por mim não me chega. Nunca. E geralmente não funciona. É quando excedo os limites das minhas necessidades pessoais, dos meus pequenos desejos e, porque não admiti-lo, das minhas mediocridades, que vem aquele sentimento bom de ter feito alguma coisa importante mas que nem eu mesma sei bem o que foi. Sabem, aquela sensação quentinha que nos ilumina o dia. Que nos emociona sem percebermos porquê. É nesses momentos que sei que a Alma existe. E que eu tenho uma...
Sou mais feliz quando sou capaz de ir ao encontro dos outros com verdade, disposta a entender que, como eu, está ali com um percurso agarrado aos pés. E que às vezes a Estrada é magnética e atrai-nos contra o chão. Que as asas consigam exercer a força contrária e nos elevem.
Sempre…sempre…sempre…
IdoMind
About all parts

6 comentários:

Maria de Fátima disse...

Olá querida Jardineira, já tinha saudades de ler-te.Tudo de bom e de bem para ti minha linda.Beijocas grandes e fofas. :))

Estrela.Dourada disse...

E com ela o encantamento chegou...Com este texto plantaste uma bela flor no meu jardim. Semeaste uma paz nas nossas mentes despertando-nos para o ser melhor sem grande esforço. Basta dar-mos um pouquinho de nós.Agir pensando nos outros e sentindo-nos felizes somente por fazer o bem.
Com atitudes assim o mundo brilha mais. Bem haja pelo bonito texto.
Beijinhos

IdoMind disse...

Mimi Linda...
Obrigado.
Estava difícil voltar :)
Mil beijinhos e espero que esteja tudo bem. Tens o meu número...

IdoMind disse...

Estrelinha Douradinha!!
Onde andas tu que não te vejo?
Bem olho pelas ruas da nossa linda localidade mas nada de te ver. Deves andar pelo mato, é isso? :))

Parece tão simples ceder nestas pequenas coisas, mas é nelas que por vezes as pessoas se batem e fincam pés e se zangam... enfim.

Bastaria seguir a regra básica de fazermos pelos outros o que gostaríamos que fizessem por nós...
Mas continua a achar que a maior parte de nós é bom e generoso de outra forma seria impossível vivermos juntos como vivemos.

Um beijo muito grande e obrigado pelas tuas palavras

Estrela.Dourada disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Estrela.Dourada disse...

Eu, minha querida jardineira, vou brilhando discretamente por onde passo, e muitas vezes também na nossa linda vila, o universo é que não nos que que nos reencontremos...pelo menos por enquanto...
Um abraço

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