março 07, 2012

Numa casa perto de si

Vai longe o tempo das mães coitadinhas que se despediam do mundo para serem o mundo dos seus filhos. Em regime de exclusividade. Era impensável perder as crias de vista por um segundo, quanto mais por uma noite. Por um fim-de-semana. Perdê-las para os pais, nem pensar!
As Regulações do Exercício do Poder Paternal acabavam, quase invariavelmente, da mesma forma na Conferência de Pais, com um acordo mais ou menos dentro deste género:
1. Os menores ficam confiados  à guarda e cuidados da mãe, que exercerá o poder paternal.
2. O pai poderá estar com os menores aos fins de semana, alternados.

Em virtude de casos mais problemáticos e para evitar chamadas para a Polícia de Segurança Pública, previa-se logo onde e a que horas de que dias:
3.  Para tanto o pai irá buscar os menores a casa da mãe pelas 20 horas de sexta-feira e entregá-los-á pelas 19 horas de domingo no mesmo lugar.
Ou na versão "não te quero ver nem de raspão": 
3. O pai irá buscar os menores à escola ( a casa da avó, da vizinha, à piscina) na sexta-feira, onde os entregará na segunda-feira de manhã.
Continuam a haver casos problemáticos, pelo que continua a prever-se como realizar a entrega e recolha das encomendas.

Depois dava-se um rebuçado ao progenitor-pai. Mas com papel:
4. O pai poderá estar com os menores sempre que quiser desde que avise com antecedência a mãe e não perturbe as horas de estudo e de descanso dos menores.

Li umas coisas sobre um Kryon. Não. Não é nenhum jurista famoso na área de direito da família. Uma amiga falou-me deste Kryon e das mudanças planetárias que já estavam em curso e da alteração da energia da Terra etc etc etc etc…
A ficção científica é o meu ponto fraco e lá fui eu, curiosa e expectante,  à procura do que seria o Kryon. O que li na altura sobre o assunto começava desta forma: “Saudações, Eu sou Kryon do serviço magnético”.
Até me arrepiei! E fiquei a ponderar se arrumava o livro com uma cruz por cima ou se me arriscava a  umas  gargalhadas. Adoro rir e tento não ter preconceitos de nenhuma espécie. Decidi por isso ler. Até ao fim. 
Calma. Não me perdi. Não vou falar de um par de menores que tenham sido levados por uma nave, nem de uma mãe que tenha ingressado numa seita maluca qualquer.
Acredito que está tudo ligado e de uma forma que só a nossa ignorância intitula de bizarra, mas que ainda espero ver explicada da maneira que os ignorantes gostam: cientificamente.
Li então, há cerca de 11 anos atrás, sobre as alterações na rede magnética da Terra operada por esta entidade (não vão embora, fui ao médico em Dezembro e está tudo bem comigo). 
Foi também por essa altura que comecei a ver as relações humanas mudarem. Todo o tipo de relações. No meu trabalho foi notório que estávamos a rumar noutra direcção. Não importa se melhor, se pior. Estávamos a mudar de atitudes, de formas de estar, de personalidade até. Estávamos a despedir-nos do que já não funcionava. Só muito depois o vi com clareza.
O direito acabou por acompanhar a tendência. Na área específica do poder paternal, os progenitores homens foram exigindo mais tempo com os filhos. Foi sendo frequente recusarem-se a aceitar ver as crianças apenas de quinze em quinze dias e serem afastados do crescimento dos menores só porque se afastaram da infelicidade de um casamento. Deixaram de aliviar a culpa com o pagamento de uma pensão de alimento e metade das despesas escolares e médicas. Quando pagavam.  Queriam estar, queriam participar, queriam ser Pais mesmo que já não fossem maridos…

Foram tempos gloriosos. Fazia pelo menos uns quatro divórcios por semana.
Entretanto os homens e as mulheres foram percebendo que saía mais barato juntar apenas as escovas de dentes. E esta opção de vida que era vista com algum desmérito, foi-se tornando uma prática social aceite. O que antes era só para os audazes que não precisavam de um papel para se unirem a outro ser, nem da aprovação de ninguém para viverem como entendiam ser melhor, tornou-se uma solução conveniente para os forretas, para os medrosos e os divorciados sem ter para onde ir.  
No entanto continuou-se a fazer filhos, a tê-los e, sem surpresas, no final do romance, a dividi-los.

Hoje em dia, o regime legal obriga mãe e pai a entenderem-se. As responsabilidades parentais (já que foi para mudar, mudou-se também o nome) são agora exercidas por ambos os pais, em conjunto, sendo que as questões principais da vida dos menores têm de ser decididas por acordo. Os menores passaram também a ter duas casas em vez de uma. Tornou-se comum as crianças estarem uma semana em casa de um dos pais e outra semana na casa do outro.
Francamente, não posso com segurança opinar a favor ou contra esta moda. Aguardo que o tempo nos mostre o resultado das nossas escolhas. Eu fui criada por um pai e uma mãe que celebraram 37 anos de casamento no mês passado e aqui estou eu sob um nome esquisito, num jardim virtual a falar com estranhos como se estivessem aqui. E a ouvir-me…
Devem estar a perguntar-se se eu vou parar a alguma conclusão com esta conversa toda. Espero que sim. Mas não prometo.

Tenho em mãos a regulação de umas responsabilidades parentais que deram em ofensas à integridade física no fim-de-semana passado. O pai decidiu ir buscar os filhos, onde lhe apeteceu, às horas que lhe deu jeito, fazendo-se acompanhar da pessoa por quem deixou a mãe, há cerca de 4 meses atrás. Não correu bem.

Mudámos tanto, ficámos tão modernos, tão tolerantes, tão segue o teu coração mesmo que se esteja a seguir um órgão um bocadinho mais abaixo ou outro muito mais acima, e no entanto ainda não conseguimos realmente mudar o que importa: a nossa conduta.

Observo com a imparcialidade que consigo esta situação, igual a tantas, e concluo que podemos mudar o que entendermos, gastar todos os nossos recursos emocionais e outros a convencermo-nos que assim é que está bem, mas a nossa Essência, essa, não conseguimos enganá-la. Nem calá-la para sempre.
Nós somos essencialmente Amor. O que ferir a nossa essência vai gerar, essencialmente, rebeldia.
Iremos sempre reagir a desamor com desamor.Mesmo que passivo. Mesmo que adormecido a Xanax, em muitas camas ou no lento amargar da nossa alegria de viver.

É por isso que não conseguimos ser coerentes e viver de acordo com as regras que estamos a criar e que dizemos que são as melhores para nós.
Não se pode ser moderno e deixar depois que um beliscão no ego leve a nossa mão, de modo ruidoso, à cara da outra. Não se pode ser tolerante e admitir uma “normalidade”, na minha opinião, completamente anormal, e depois extorquir a qualquer custo um “ eu tenho razão” orgulhoso, egoísta, idiota. Não podemos, definitivamente, estar seguir o coração amassando,  pisando e mal tratando outros.
Muito menos corações mais pequenos - o dos míudos. O dos filhos que se vêm de malas sempre prontas atrás da porta das duas casas, que juntas não fazem um Lar.
Idomind
About us losing our way

1 comentário:

Marcia Toito disse...

Outro dia li, não me lembro onde que: "Fazer filhos é como fazer uma tatuagem na cara é preciso saber bem o que está fazendo" e acho que até já falei disso com você.

Por incrível que possa parecer ainda há gente pensando que o homem pode fazer o que quiser e depois balançar as calças que fica tudo bem. Só que não fica e não fica mesmo.
Grande parte dos homens ainda tem a mentalidade da caverna "a fêmea cuida da cria e eu saio polinizando por aí" só preciso ter prazer, o resto que se dane.

Só que a fêmea está cansando de cuidar da cria sozinha.

Estou do outro lado da situação, pois dou aulas para várias crias "sem pai" e sei o quanto isso é difícil para os pequenos. A maioria das mães faz de tudo para suprir a ausência do pai e acho que no caso de filhos meninos acaba reforçando a mensagem de que os homens foram criados para fazer filhos mas não para criar.

Que tipo de valor as mães alimentam nas filhas quando permitem que seus companheiros tenham aventuras usando como desculpa: ah... não falta nada em casa...(?)Falta sim, falta lealdade, fidelidade,amor, entre outras coisas.
Eu tenho minhas dúvidas se a nossa essência é boa ou se vamos nos tornando bons à medida que recebemos boas influências.

A cabeça que pensa é com certeza mais embaixo do que deveria.
Ou voltamos à caverna e vivemos como animais irracionais ou assumimos de vez nossa condição de humanos que vivem em sociedade com valores e padrões onde o que é certo é o equilíbrio das responsabilidades entres fêmeas e machos.
Ainda vai demorar para que isso aconteça, até porque ainda encontramos algumas "mulheres" que acompanham seus machos a qualquer hora, enquanto fazem visitas às crias com outra fêmea.
Temos sim o direito de fazer vida com outra pessoa,caso a relação não seja satisfatória,mas a tatuagem feita na cara não da pra ser ignorada nem pelo pai que acha que pode ver quando quer, (quando quer, né? )nem pela mãe que insiste em dizer que pode fazer tudo sozinha e que não precisa de ninguém. Algumas conseguem sim criar bem seus filhos sem presença do pai, mas é por falta de opção porque e se pudessem escolher, com certeza gostariam de ter alguém carinhoso e responsável ao lado para apoiar.
Sem falar naquelas que ficam tentando suprir a presença do pai de qualquer jeito e acabam parindo não um, mas vários filhos "sem pai".
A respeito desse assunto tenho casos cabeludos para contar, bom parar por aqui e mais uma vez dizer que foi bom estar com você.MUITO!!!

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