março 01, 2009

A crise chega ao Jardim




Covilhã, onze e pouco da manhã. Cerca de sete pessoas aguardavam para ser atendidas na Conservatória. Ao balcão, três funcionários. Não, desculpem dois funcionários. Esperem, esperem afinal está uma funcionária no balcão…
De repente, pelo meio dia, desapareceram dois para o almoço e ficou apenas uma funcionária, sozinha e encarregue do serviço de registo predial, comercial e automóvel.
Ninguém queria acreditar no que tinha acabado de acontecer. Ainda por cima o balcão era corrido, com cerca de doze metros, e a funcionária, pequena e magra, encontrava-se sentada numa das pontas. Maior era a impressão de termos sido abandonados e condenados a horas de espera.
Uma senhora meio incrédula perguntou se a colega tinha ido à casa de banho..
A mesma senhora dizia como que a pedir socorro: “
Mas eu comprometi-me às 14horas estar num lugar.Estão à minha espera. Não posso faltar, só me pagam 2,50€ por hora mas é uma cliente certa e conta comigo.” Repetia “Comprometi-me , disse que fazia o serviço..”
Vi aflição nos olhos daquela humilde senhora que não protestou, não reclamou, não desancou a funcionária, apenas pensava em voz alta, talvez na esperança que alguém saltasse o balcão para dentro e lhe desse a fotocópia não certificada que foi ali para pedir (serviço de 5 minutos).




Tudo isto me fez pensar, enquanto também eu esperava que os outros dois funcionários fizessem de novo o truque e aparecessem no mesmo passe de mágica com que desapareceram.
Depois do que vos contei fiquei convencida que não há crise.
A crise somos nós.Há uma grande crise interior de valores e de prioridades.
Perdemos a fé nas regras básicas que nos permitem viver mais pacatamente uns com os outros. O respeito, o gesto gentil tão fácil que nos é cada vez mais díficil dar. A cortesia voluntária que deu lugar ao “
mas eu cheguei primeiro” “ pois, tenho muita pena mas…”
Perdemos o brio em nós.Não há gosto no que se faz.
O estado do país é apenas o reflexo do estado a que cada um de nós se deixou chegar…
Não é bonito, mas é a verdade.Com que legitimidade nos queixamos se a meio da tarde já se está a olhar para o relógio, aguardando com ânsia a hora de ir embora.Quantas vezes não deixamos para amanhã o que com alguma boa vontade e profissionalismo faríamos hoje.
Lamentavelmente olhamos para o trabalho como um mal necessário.
Mas o trabalho é mais um ramo da árvore da nossa vida que se não for devidamente tratado, acarinhado, nutrido acabará por trazer doença aos outros ramos, ao tronco e por fim condenará a árvore ao perecimento.
O trabalho é uma benção. Põe-nos comida na mesa. Paga o nosso tecto. E temos um. É mais do que milhares e milhares de pessoas podem dizer. Não é perfeito? À semelhança do Mestre, olhem para a alvura dos dentes e não para o cão morto à beira da estrada (quem tem ouvidos que ouça…).
No fundo é simples:
Se fazemos o que gostamos, então façamo-lo! Mas a sério. Com empenho, com determinação, com amor, tomando consciência das consequências do nosso trabalho e da forma como o desempenhamos, na vida dos outros. Sejamos o melhor de nós também no trabalho.
Se não fazemos o que gostamos é mais complexo, mas nada que um pingo de honestidade não resolva, admitindo que tanto nos faz qual o impacto que a nossa falta de interesse no emprego tem nas outras pessoas. Sejamos então pelo menos o melhor que conseguirmos e ousemos fazer uma escolha diferente: mudar de atitude…ou de trabalho.
Sejam diferentes para Vosso e Nosso bem.
Because IdoMind
about life...

2 comentários:

Marisa Borges disse...

Olá docinho do céu!!!

Pelo que vejo o enterro do carnaval foi bom!!!
A tua forma de colocar as coisas é sempre bombástica, um pouco dura, às vezes, mas os tempos assim o exigem!

Keep on waiking us up!

Viajante disse...

Olá IdoMind

Mais um documento a analisar de uma forma nua e crua a situação em que vivemos. De facto não temos tempo para o outro ou pior não temos "pachorra".Começa na familia, passa pelas relações que vamos ter ao longo da vida e claro no trabalho.
Se algo corre mal saltamos de imediato fora, e vamos procuara a felicidade noutro lugar convencidos que ela estará ao virar da esquina e que basta vesti-la e pronto. As coisas importantes da nossa vida são construidas ou seja não existem, são dificeis de atingir e exigem muito trabalho, amor e paciência.
A solidariedade deixou de ser organica, já lá vão o tempo dos vizinhos preocupados com aquela vizinha idosa, não saiu hoje estará doente, vamos lá casa para saber. Hoje construimos uma parede que se chama governo e que nos seve de desculpa para não nos preocuparmos com os outros
Um bom documento assertivo, claro e muito realista

Parabens

O Viajante

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