Capítulo II
A Origem
Nada haveria de extraordinário neste acontecimento se o velho carvalho não tivesse ficado despido de metade da sua roupagem com uma precisão milimétrica. Um traço invisível dividi-o agora ao meio, separando uma parte totalmente coberta por ramos e folhas, da outra parte atingida pelo raio, que ficara sem o menor vestígio de vida.
Além do insólito penteado da árvore, de referir que desde a morte de José, por coincidência ou não, nunca mais chovera na pequena vila. À notícia de chuvas nas regiões vizinha, os habitantes enchiam-se de esperança, mas as nuvens, se por capricho ou ordens superiores, nunca entenderam, mudavam o seu trajecto e passavam mesmo ao lado sem sequer deixar cair, ainda que tímidas, uma ou outra gota.
Depois do incidente, Benjamim passou a visitar com uma assiduidade religiosa o carvalho e lá ficava sentado durante horas. Nunca falara sobre o sucedido. Cresceu quieta e silenciosamente, tornando-se uma pessoa muito reservada. Mesmo com o seu emprego no Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, a esposa e o filho, Benjamim peregrinava pelo menos uma vez por semana até ao local onde o amigo desaparecera de forma tão reluzente.
Depois do incidente, Benjamim passou a visitar com uma assiduidade religiosa o carvalho e lá ficava sentado durante horas. Nunca falara sobre o sucedido. Cresceu quieta e silenciosamente, tornando-se uma pessoa muito reservada. Mesmo com o seu emprego no Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, a esposa e o filho, Benjamim peregrinava pelo menos uma vez por semana até ao local onde o amigo desaparecera de forma tão reluzente.
Este comportamento transpirava a doença para o Joaquim Belverde, pelo que foi com algum alívio que que vendeu " O Reino" à autarquia e com ele, o rei - o malfadado carvalho. Todavia, quando Benjamim advertiu o pai que nunca mais o veria, nem ao neto se o ”Sustus” desaparecesse do local, Joaquim tratou de envidar todos os esforços no sentido de garantir a sua sobrevivência. Mesmo depois do "Reino" se tornar na lixeira do município.
E assim começou o litígio.
E assim começou o litígio.
O Sr. Presidente reclamava que não fazia sentido manter a solitária e ancestral árvore no meio de lixo. Joaquim Belverde argumentava que esta fazia parte da história local e deveria ser mantida incólume, atendendo à sua respeitável idade e a todas as vicissitudes porque já passara e estoicamente sobrevivera.
Será que se tinham esquecido de Aurélio Campos?
Ainda sob o choque da comunicação da sua pacata esposa informando-o que ia a Espanha com a vizinha da frente frequentar a Universidade de Belas Artes, o dono da drogaria local, já em avançado estado de embriaguez e depois de ter arrancado todos os caixotes de lixo e caixas de correio entre a Rua do Perdigueiro e a Avenida S. Bernardo, estatelou-se contra o "Sustus" com a Lindinha, a lambreta de estimação na qual dava sempre uma volta quando precisava de pensar na vida.
As palavras da mulher não lhe saíam da cabeça: “Aurélio, sabes que sempre tive habilidade para o desenho e esta cidade abafa a minha criatividade. Quero crescer”.
Aquela maneira de falar atacou-o de forma totalmente inesperada, já que a esposa, com perto de cinquenta anos e a instrução escolar limitada à antiga 3.ª classe, nunca dera indícios de conhecer tão copioso vocabulário. Soube mais tarde que Emília frequentara durante três anos um curso especial promovido Governo nas zonas do país com maior índice de alfabetismo. Esta iniciativa educativa visava incentivar os adultos daquelas regiões a completar o ensino escolar obrigatório, ou seja o 9.º ano de escolaridade, para depois os reencaminhar para cursos especializados e, assim, a par do crescimento pessoal dos habitantes destas zonas, promover-se o crescimento das próprias zonas.
As palavras da mulher não lhe saíam da cabeça: “Aurélio, sabes que sempre tive habilidade para o desenho e esta cidade abafa a minha criatividade. Quero crescer”.
Aquela maneira de falar atacou-o de forma totalmente inesperada, já que a esposa, com perto de cinquenta anos e a instrução escolar limitada à antiga 3.ª classe, nunca dera indícios de conhecer tão copioso vocabulário. Soube mais tarde que Emília frequentara durante três anos um curso especial promovido Governo nas zonas do país com maior índice de alfabetismo. Esta iniciativa educativa visava incentivar os adultos daquelas regiões a completar o ensino escolar obrigatório, ou seja o 9.º ano de escolaridade, para depois os reencaminhar para cursos especializados e, assim, a par do crescimento pessoal dos habitantes destas zonas, promover-se o crescimento das próprias zonas.
Emília foi um caso exemplar do sucesso da iniciativa. De tal modo que face à sua particular facilidade para a aprendizagem e um talento indesmentível para a pintura, a pedido dos dois responsáveis pelo projecto na freguesia, foi implantado um ano extra para que Emília obtivesse a equivalência ao 12.º ano e a possibilidade de ingresso na faculdade.
Aurélio perdera Emília e com ela o chão firme em que sempre caminhara. Pior, Aurélio soube então que nunca tivera Emília mas apenas a sombra de alguém que ele nunca iria saber quem era. Onde estava ele quando a mulher decidiu “crescer”? Mingando, definhando confortavelmente sentado no sofá, ora ocupado com os dramas de Priscilla e Marco António, o casal-maravilha da novela das 7, ora mergulhado na lista de encomendas que tinha de fazer todas as quartas-feiras.
O despertar fora violento demais para a mente rudimentar de Aurélio que habituada a processar informação simples, entrou em conflito perante o imparável, e por vezes cruel, movimento giratório da Terra.
O volante da Lindinha ficou cravado no carvalho como um selo lacrado numa carta e Aurélio, caído no chão de barriga para cima, não teve tempo de evitar um braço do Sustus que se deixou desprender do tronco em queda livre e só parou na testa do pequeno comerciante. Do acidente resultaram para Aurélio Campos: dois meses de internamento; uma pequena bossa na testa; um tique incontrolável no olho esquerdo em momentos de tensão e perdas inexplicáveis e temporárias de memória, que os seus conterrâneos habilmente souberam manipular.
O incidente servira para reforçar a crença popular no que ficou apelidada “ A Maldição do Carvalho”. Os habitantes da cidade acreditavam que “Sustos” – o infame - tinha uma espécie de vontade própria e que exercia um magnetismo insondável sobre quem estivesse infeliz. Uma antena, em forma de árvore, para captar miséria e desapontamento.
Pois que o caso de Aurélio Campos não fora isolado. Assim nasceu e se frutificou o mito.
to be continued...
IdoMind
6 comentários:
Coitado do homem! Já estava a sofrer e ainda lhe cai um galho na testa!!!
A mulher bem que fez... assim o marido acordou mas... que virá adiante?
Bênçãos!
Olá Ido, vou continuar a seguir com muita atenção esta blogonovela.Beijocas.
hehehehehe sempre com muito humor, adorei a parte da Emília (andas muito com esse nome?)
Cá esparamos por mais e mais...
Beijcoas grandes
Reyel
nem eu sei...deixa ver o que me dizem o Benjamim, o Joaquim, e Emília e...o sustus nos meus sonhos!
um grande beijo e não consigo deixar comentários no teu cantinho sniff sniff
Ah! E o selo. Obrigado. Acontece que não sei como diabo coloca.lo aqui no slide do jardim. A Shin anda ocupada e ainda não consegui publica-lo.Mas já o fui buscar. Mil beijos
Fátima querida
És uma blogonoveleira!! Nunca me enganaste. lol
Espero que continues a gostar meu doce.
Um beijooo
Shin,
Ando?! Não me lembro.
Estás a gostar? Ainda não sei como será o episódio 3.
beijos minha irmã e obrigado por assistires à História Extraordinária....
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