maio 25, 2010

A sombra

Somos feitos às metades. Que nos fazem aos bocados. Rompem-nos. Ficamos por aí espalhados e tentar perceber se ainda temos pés. E onde estão eles plantados. Há ventos que nos arrancam as raízes. Empurram-nos para tão longe que quando queremos voltar, já nos esquecemos de como fazê-lo. Aprendemos então que as nossas pernas podem andar de muitas maneiras diferentes. Desconfio até, que as minhas fazem mais que andar. Desenham projectos. Combinam viagens e até marcam partidas para lugares que não me apetecia nada conhecer. Ou revisitar…
As minhas metades estão numa espécie de guerra. Não se falam, excepto para discutirem qual delas tem razão. Uma tem de ter razão. Só uma. As metades não entendem que a razão está em todo o lado ao mesmo tempo. E é por isso que tudo tem uma razão. A sua razão.
Que não é melhor. Que não é pior. A mais bonita ou a mais hedionda. A razão de cada coisa é perfeita. Incomparável a qualquer outra razão porque é única. Uma razão feita à medida. Por alguma razão…
Eu acredito no propósito que me trouxe aqui. E a ti. E nos fez em metades.
Reconheço a Beleza também à noite. O brilho da Lua ainda é brilho. Luz que ilumina. Eu ainda sou eu quando sou egoísta. Quando me nego a dar. Porque não quero. Não tenho vontade ou sem saber bem porquê. Continuo a ser eu quando prego cancelas no meu jardim e fixo o sinal de proibido entrar. Só porque não estou capaz de fazer melhor. Eu não perco o meu rumo por me perder de vez em quando. Eu nunca me perco se vou à minha procura.
Gosto da música triste que me deprime ainda mais nos momentos em que vem aquela saudade. Tanto quando a outra alegre que celebra comigo um dia radioso de praia. Tenho dias de querer ficar calada. De vazio. Vejo o fosso que me separa dos outros com contentamento. Não gosto de toda a gente a todas as horas. De algumas pessoas até nem gosto a hora nenhuma.
Esta minha metade ruim que teima em ser. Porque sim. E que nem a minha metade boa consegue domar. Mais uma discussão. Outra insónia. 
Mas eu sinto-me eu mesmo quando a doçura dá lugar à zanga. Eu sou eu quando corro, quando ando, quando páro. Até sou eu quando faço o que julgava jamais fazer. Quando te magoo. De propósito. Porque nem sempre sei quem sou afinal e preciso que me digas. Ou me ajudes a descobrir.
Por isso, ambos temos razão. E no fim tudo cumpre a sua parte.
Mesmo as metades que nos fazem aos bocados.


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