junho 16, 2010

A ver se nos entendemos

Não esperes por mim. Não dependas do meu não ou do meu sim. Por favor, não me obrigues a escolher por ti. Carrego já o peso suficiente de uma viagem que quis árdua. Não posso levar-te. Nem à bagagem que trazes contigo. Os desertos por onde já passei ficaram-me com tudo o que era inútil. E nas escarpas livrei-me do que podia levar-me ao abismo. Sei agora que o essencial não tem peso e que cada lugar tem uma pergunta para nós.

Ainda que quisesse, não oiço as tuas perguntas. Estão codificadas pelos pensamentos que pensas. Pelos sentimentos que sentes. Pelas lembranças que relembras. São perguntas para ti.  Por isso, não te percas nas soluções dos outros. Depressa compreenderás que o mesmo remédio produz efeitos diferentes. Não escorregues no vomitado lógico de ninguém. A razão só faz verdadeiro sentido quando é filha da tua experiência.
Nem sigas a luz de uma lamparina qualquer. De outra fé que não a tua. Aquela que te faz encostar o carro à berma ou esconder numa casa-de-banho e pedir baixinho “por favor, por favor ajuda-me, por favor”.  Essa fé. Que nem sabes a quem estás a dirigir. Talvez à vida que no fundo pressentes que cuida de ti. A fé que te vai revelar que não estás sozinho. E que tens sempre uma nova oportunidade.

A existência é demasiado vasta para que caminhes por cima das minhas pegadas. Firma as tuas. Imprime no Tempo o testemunho da tua vinda. E que as marcas que deixares falem da tua valentia frente a cada decisão de seres sagrado no profano.
É o que tento. Então, não me faças nem santa nem demónio. Sou só uma mulher a tentar chegar a Casa. Se soubesses da exaustão presa a alguns passos jamais me pedirias pressa. Jamais exigirias que chegasse à Hora que queres. 

Compreenderias que te compreendo mas que obedeço a outro ritmo. A outro relógio. E talvez fosses ao meu encontro. Talvez me trouxesses uma fatia de bolo de chocolate que partilharíamos sentados junto a uma árvore. Sem perguntas. Sem esperar nada. Só porque é bom comer uma fatia de bolo de chocolate comigo. Só porque gostas de me ver feliz. Só porque brilhas sempre que amas. Só por Ti.
Por nós, vive por Ti.
E deixa-me viver por mim.
Não me atinjas com a culpa de ter outros desejos. De sonhar. De ser Eu.
E eu não sou o que tu esperas. Nem posso.
Porque quem seria Eu, se todos esperamos coisas diferentes?

IdoMind
About getting things straight

1 comentário:

M.i... disse...

Quem seremos, senão nós próprios, imersos nas nossas imperfeições, que nos tornam perfeitos aos olhos de quem quer, deseja, absorve na voz, procura no olhar.
Chegarás qunado achares que deves chegar, prerrogativa essencial, do teu espaço vital, sem amarras nem obrigações, preconceitos, conceitos vãos, vã glória de te possuir. Não és de ninguém, vogas ao sabor da tua própria corrente, embalada pelas tuas verdades, que te guiam na noite, iluminada por uma Lua, que, apesar de reconhecidamente imperfeita, nos parece imaculada, o espelho da perfeição, refletindo a Luz do Astro maior.
Vive por ti e viverás por nós, na nossa individualidade conjunta e indissociavel.
Hoje, somos!

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