Que eu não tema nunca os raios paridos das nuvens negras que se abraçam a avisar-me do que aí vem. Qualquer tempestade se anuncia. Que eu retribua com igual educação e não a ignore. Nem aos gritos dos trovões ordenando que me mexa. Busque eu o guarda-chuva e poise o comando da televisão. E a desligue em vez de lhe aumentar o volume. Que eu não tema o fogo que consume o telhado. Que come as portas de todos os quartos.
Esta é a casa de Deus e estremece quando eu me fixo, porque o chão é morada para as árvores. A minha é no céu. De quando em quando caio na tentação de penhorar as asas em troca de raízes. Apenas para perder ambas. E depois descer a correr, com os pés nus, a escadaria da torre que erigi, com uma janelinha para a vida.
Esta é a casa de Deus e estremece quando eu me fixo, porque o chão é morada para as árvores. A minha é no céu. De quando em quando caio na tentação de penhorar as asas em troca de raízes. Apenas para perder ambas. E depois descer a correr, com os pés nus, a escadaria da torre que erigi, com uma janelinha para a vida.
Foi o Diabo que me levou ao colo, cantando-me as mentiras destinadas a ruir. E agora que caem, Eu caio também. Há pedaços de mim misturados com os escombros. O meu coração. Meio partido, meio perdido, muito ferido. Mas limpo. Livre do que não É. Do que nunca foi, nem Meu, nem para Mim. E do ego desfeito no solo, solta-se a alma. Sacode-se e grita o meu nome, para que de novo me junte a Ela na busca de Nós.
Perdi-me no orgulho de achar que tinha chegado, cega aos círculos em que me cerquei. À estrada infinita estendida à minha frente. Fiz da estalagem um lar e deixei-me ficar. Com as portas bem fechadas sem perceber que não estava segura, mas apenas trancada. Sufocaria no meu próprio ar não fosse esta gloriosa perda.
Estou só a levantar-me e já vou. Naquele amontoado de destroços estão expectativas, muito trabalho, alguns maus bocados, o saldo dos fracassos e dos sucessos. Estão lá os desejos que desejei. Os silêncios doados por um bem maior, o que fiz e deixei de fazer para que as coisas corressem bem. Quanto investimento pessoal na manutenção da estrutura... Estão ali soterradas as recordações da pessoa que me esqueci que era. Naquele monte de pedras está a minha fotografia…
Vou olhar só mais um momento. O suficiente para conseguir agradecer à providência a queda inesperada da farsa. Preciso de encontrar a Ordem no caos que ficou depois desta Intervenção.
Morri antes de morrer. Talvez não morra ao morrer.
Agora é só nascer. Outra vez.
Ser de novo... Sem ficar Velha.
IdoMind
Ser de novo... Sem ficar Velha.
IdoMind
about the best for me even hidden in the worst
2 comentários:
Olá IdoMind
Toda a semente para frutificar tem de morrer.
Hoje apareceste tu transformada em palavras...Lindo!!
Um xi-coração
O Viajante
O meu Viajante atracou!!!
Bem vindo...
Obrigado. Ainda não me habituei aos elogios :)
Espero que te tenha feito sentido, meu amigo...o Diabo anda a cantar-te...não mal digas depois a Torre..
mil beijos
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