julho 18, 2011

Uma questão de espaço

Não vim para te tirar a vida mas para te mostrar que estás vivo. Ainda não chegaste onde escolheste chegar. Por isso levanta-te se faz favor desse buraco enfeitado em que te sepultaste. Estou aqui para te libertar do feitiço da terra. Soltar-te da prisão dos sentidos onde te iludes que és convidado. Cegaste à verdade e eu venho cegar todas as mentiras. Santa é a minha foice que limpa o campo para as novas sementes.


Aguardei a tua decisão. A que não tomaste. Mesmo quando a meio da tarde já não ansiavas pelo fim do dia para regressar a casa. E pensavas com enfado em quem lá encontrarias, desejando alguma paz, algum silêncio, em vez das exigências do costume, da ajuda obrigatória ao remo do barco, da renúncia tácita de ti a favor dos miúdos, da mulher, das responsabilidades… Preciso de te lembrar do teu desempenho no trabalho que já não suportavas? Parece-te bem, fazer mal o que nos é exigido? Para o que nos pagam. Dar pouco mais de razoável do excelente de que somos capazes? Desonrar um lugar que algures, alguém merece ocupar? Estar triste. Irrealizado. Num espaço que partilhas com outros…A tristeza envenena, sabes…

Apesar do estrangulamento, não deste uma folga à corda e mantiveste-te em bicos de pés, em cima do banco, equilibrando-te para não cair. Para aguentar. Só mais um bocado. Só mais um ano. Ou dois. Só até as crianças serem maiores, acabares de pagar o carro ou um golpe de sorte te salvar do sufoco que chamas viver. Aspirar bocados de ar não é respirar. Não é viver. É chamar por mim.
Aqui estou. Sou quem mais te ama e por isso quem mais dor te traz. É por Amor que te quero livre.
Não duvides disso na hora em que te vier buscar tudo. Não estou a roubar-te nada, apenas a devolver-te a Ti mesmo. Chora o que tiveres de chorar. Desespera. Mas pouco. Confia. Muito mais. Vai ao fundo se quiseres mas volta depressa. O lodo não é lugar para os homens.

Estamos todos a olhar por ti, mas é minha a Missão de visitar-te. Acordar-te dos sonos mais profundos. Recordar-te que não és o que tens. O que controlas e o que permites que te controle. Venho para acabar com que já acabou.
Eu sou a Morte que anuncia o Fim a favor doutro Principio.
Não me maldigas. Não me temas. Estou a cumprir a tua vontade e a levar-te mais perto do teu Propósito. Acredita em mim e prepara-te para o vem, agradecendo ao que foi.
É sempre melhor…
Acreditas?
IdoMind
about endings

1 comentário:

Marcia Toito disse...

eu sempre passo por aqui e nunca deixo de me encantar!!

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