maio 24, 2009

Procurando

Bem sabes que dou por mim a sonhar com o Amor. A desejá-lo secreta, quase infantilmente. A lamentar não tê-lo a toda a hora da forma que o imagino. Às vezes aperta-me a ausência desse amor sonhado. É quando sou empurrada para os terrenos arenosos da solidão onde me afundo nos porquês que nunca encontram os porques… Apago as luzes e fico para ali entregue aos “era tão bom se …”

Depois de esgotar as culpas deste planeta meio insano, a deambular pelo espaço sem rumo ou meta, viro o dedo para mim. Este dedo incisivo e cruel que vai denunciando os meus crimes contra o caminho que escolhi.

Aos poucos surgem os porques que tanto preciso para apaziguar a mente. É porque sou assim. É porque não me dedico o suficiente. Tenho de aprender a abdicar, sim é isso, o problema é que não abdico. Talvez sejam as minhas prioridades. Ou será porque gosto de ver o mar pela manhã, sozinha, antes da areia testemunhar a passagem de outras pessoas antes de mim. É porque vejo a mão do céu até no café que me servem na estação no regresso a casa. É porque sou Touro. É porque adoro filmes de terror. É porque não sou bonita o suficiente. Sorrio demasiado...

É por uma razão qualquer ou por razão nenhuma, mas o Amor mora sempre na casa ao lado.
Porquê?
Hoje já sei responder. É porque ele não mora dentro de mim.
Por isso quando me perguntas se te amo só posso dizer-te que não posso responder. Falta-me descobrir o amor por mim. Compreenderás que não posso dar aquilo que não possuo. Também ninguém me poderá dá-lo, mesmo que queira. A água que nos mata a sede nasce numa fonte que é privada…e temos andado a beber do líquido da vida uns dos outros, misturando águas salgadas com doces, limpas com salubres, trazendo, tantas vezes, para dentro de nós o cheiro a pântano.
Mas os lábios não tardam em secar e lá voltamos a beber fora de casa sugando dos outros a última gota, até que também eles se vejam tão secos quanto nós. E o que devia medrar, morre. Não te quero nem seco, nem morto. Quero-nos enormes em sabedoria e entendimento. Quero-nos a crescer cúmplices dentro dos nossos sonhos individuais.
Primeiro terei de ir à procura do fio que leva à nascente. Nela beber, banhar-me, limpar-me. Deixar ali os vestígios daquela que em tempos fui para que depois deste baptismo, a que renasceu flua livre com a corrente. Onde lá à frente se encontrará com a tua.

Gosto do aroma a limpo. A novo. É assim que me quero: limpa, livre, perpetuamente nova. E tu também. Preferes-me esmagada com o peso das máscaras? Amarrada a deveres que já ninguém percebe porque os cumpre? Preferes-me fraca para que melhor exerças a tua própria força? Porque ainda que doce, será jugo o que me dás se eu não me amar. Ainda que branda será força o que me prenderá a ti.

Olha e vê. Quantos desiquilíbrios se revelam diante dos nossos olhos. Homens e mulheres apagados pela sombra do desamor por eles mesmos.
Não vêem, e por isso não curam, as fendas dos seus seres. Buracos onde se alojam a mágoa, a dor, o desespero. As noites sem dormir ocupados a construir uma imagem aceitável para apresentar ao mundo onde desesperadamente querem caber. Onde têm de pertencer. Serão o que for preciso, deixarão de ser o que for preciso apenas para serem amados. Sobrevivem assim com um coração esburacado e uma cama que nunca aquece.

Não me faças ser construtora de uma mentira. Não queiras amar quem não se ama.
Olha e vê as incoerências. Em nome de um amor que dizem sentir, entregam-se à humilhação. Dão-se de alimento a quem também não gosta de si mesmo, mas que não vergou a personalidade ao projecto comum. Se ao menos se conseguisse ficar vergado para sempre.
Mas Quem tu és, O que tu és, tem uma força própria, alheia a ti. Que não dominas, que não controlas ainda que penses que sim. É só uma questão de tempo. É só uma questão de limites. Aqui, todas as almas têm um tempo. E um limite.

Hoje escolho não levar a minha alma ao seu limite. Nem a tua. É por isso que antes de afirmar o meu amor por ti, tenho de confirmar o meu amor por mim.
Para ti: homem, pai, irmã ou irmão, amigo ou amiga, colega, vizinho, professor é esta confissão da minha busca. Que todos se busquem para que por fim nos comecemos a encontrar.

Só assim vamos deixar quem nunca quis de facto ser encontrado e achar quem deve por nós ser achado...

IdoMind
about the truth in me

14 comentários:

Marisa Borges disse...

É tão bom saber que também encontraste a tua verdade! A tua escrita está cada vez mais bela, poética. Continua minha Irmã pois cada palavra que escolhes para construir uma frase, é uma gota de luz que entra no coração e na vida de quem as quiseres receber.

Eu recebo-as todas!!!

Love ya

Eu Sou Você disse...

Sim... uma gota de Luz!

Marise Catrine disse...

Queria IdoMind,
Que beleza poética, como diz a mana ;)
Eu recebi uma mensagem profunda deste post. Talvez eu esteja a padecer de alguns males e tenha visto essa luz.
Obrigada.
Beijocas

Anónimo disse...

Gosto de como está a escrever, além de me identificar com o assunto.

======

Informação:

A autora dos blogs «Dimensão Interna» e «Monólogo Amoroso» [Eu Sou Você / Adriana Canova] concedeu uma entrevista ao meu blogue «Cova do Urso», e menciona o seu blog, como um dos que ela mais aprecia na blogoesfera.

A entrevista será publicada amanhã, terça-feira, dia 26, às 10 horas (horário de Brasília) - 13 horas (horário de Portugal.

Cumprimentos

António Rosa

Viajante disse...

Olá IdoMind

Mais outra perola.
Decididamente a forma como coloca os sentimentos e as situações em palavras deixam-me "arrepiado".

Eu acho que a ajuda de quem nos ama é essencial para identificarmos o que de facto sentimos.
Muitos de nós somos como bébés temos sensações de conforto e desconforto. Quando o recém nascido, com ajuda da mãe relaciona o desconforto que sente com o acto de mamar, ele identificou a fome e de cada vez que tem esse desconforto ele procura a solução: o peito da mãe.
Enqunto que a paixão é uma atracção fisica resultante da actuação de mediadores quimicos o amor seja a que nivel for é um "construido".
E hoje as pessoas têm pouca paciência para construirem seja o que seja como eu costumo dizer julgam que a felicidade é um fato que encontramos na loja, vestimos e felizes para sempre.
Como pode uma pessoa que descreve os sentimentos desta maneira não se amar???
Talvez os porques sejam outros.
Desculpe toda esta conversa mas como sabe Amor é imprescidivel para qualquer Touro que se preze
Um beijo enorme

O Viajante

Unknown disse...

Excelente, excelente. Arrepiei-me ao ler mais um fabuloso escrito, porque este fim de semana veio-me varias vezes ao pensamento este assunto. Curiosamente, vejo hoje que escreveste sobre ele. Espero que não me consigas ler todo o meu pensamento !

Não podia estar mais de acordo contigo, e realço a importância de gostarmos de nós mesmos, para podermos amar os outros.

Beijinhos deste jardineiro

Cucu

IdoMind disse...

Shin_Tau

Achas mesmo? A mim parece-me que continuadamente encontro as minhas verdade, que vou mudando quando já não são tão verdades assim.
Mas sim, entendo o que queres dizer. Estou mais próximoa de quem eu sou...Se não fosses tu...Ainda apertava o último botão da camisa!
Amo-te tanto.
Obrigada por acreditares sempre

IdoMind disse...

Adriana,

Hoje em dia de festa para si com aquela entevista maravilhosa, deixo-te um grande beijinho por todo o amor que deixa por onde passa.

IdoMind disse...

Marise,The Brise

Tu és tão bonita.Tinha de te dizer isto.
Quanto à mensagem, é por tocar a todos esta história de procurar o amor, que escrevi sobre isso.Não é fácil e é preciso que reconheçamos muito do que ali digo. Eu preciso de reconhecer aquilo que ali digo. Se procurares fora antes de encontrar dentro, na melhor das hipóteses encontras um amor confortável, e na pior, decepção atrás de decepção.
Um beijo meu doce

(.s já te tinah dito que fico sempre com vontade de fazer coisas parvas depois de ler as tuas regas, não já?)

IdoMind disse...

António,

l´amour,toujour l´amour...
Quem não se identifica?
Astrológo, editor, construtor de pontes e sonhador...
Gosto cada vez mais de si

:))

IdoMind disse...

Meu Viajante,

Percebo o seu ponto de vista, o amor assume muitas formas e muitos nomes também.
O AMOR, esse não tem forma, nem qualquer nome, ele simplesmente, é.

Sabe que está diante dele quando os "eus" e os "tus" desaparecem.Juntamente com as expectativas. Nada é preciso.Nada é esperado. Tudo é vivido.Geralmente como nunca vivemos antes, nem voltaremos a viver depois.

Se o amor se contrói? Acredito que sim. Até o cacto mais resistente precisa da enxurrada anual.
Mas para construir requer que o projecto esteja aprovado por dois e que ambos lancem mão à obra.Não tenho visto muitas dessas construções...

E o amor em que acredito, aquele a sério, vem já com o projecto aprovado, eu só tenho de meter a chave à porta e entrar...mas isto sou eu e os meus devaneios.

Pois é, ainda ando às voltas comiga mesma, meu Viajante.
Até lá, vou procurando...

Um grande beijo meu amigo e obrigada pelo carinho que tem dado a esta jardineira

IdoMind disse...

Cucu,

O amor anda no ar!!
Pensei que já te tinha dito que conseguia ler mentes...lol

O amor como nós o concebemos e depois de vestido com as fatiotas que lhe fizemos, tornou-se realmete complexo.

É essencial que tiremos a nossa roupa primeiro e quando formos capazes de olhar para nós, nús, e gostarmos, então estaremos preparados para viver o amor fora de nós.

Um beijo à rabina para ti jardineiro de fim de semana...lol

Anónimo disse...

Somente quando deixarmos de procurar é que ele vem a nos conhecer.

Esse é um pensamento muito forte em minha pessoa.

Aí, no meu blog postei a história da chuva que tu pediu. Passa lá.

Direto do Brasil.
Beijão moça sumida.

IdoMind disse...

Léo Tornado,

Que saudades tuas!!Desculpa a resposta tão tardia, mas vários fenómenos naturais decidiram irromper pela minha vida e ando a arrumar a desarrumação que causaram...

Quanto à tua rega, a verdade é que se procuras estás a dizer ao Universo que ainda não tens e portanto essa é a realidade que criar- não ter. E passas a vida a procurar.O segredo é agir como já tivessemos encontrado e o que é nosso, vem bater à porta. É o que acredito.

Mil beijos Léo (tinha mesmo saudades tuas...)

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